quinta-feira, 5 de setembro de 2019

NUMA PRAIA EM AGOSTO


PRAIA PRIVADA COM VISTA PARA OS CALCANHARES DOS VIZINHOS DA FRENTE

Montemos o cenário:
Meu querido mês de Agosto numa praia, francamente sossegada até às 12h, maioritariamente frequentada por fatos de banho matchi-matchi, kaftans da moda, cestas com monogramas e sotaque afectado.

Pelas 10.15 são ainda poucos os carros que ocupam o estacionamento de luxo, apenas separado da praia por uma ponte de madeira que atravessa a Ria. No areal, o número de veraneantes corresponde ao número de veículos, isto é, escasseia. As festas da noite anterior ditam a hora tardia da chegada à praia, por isso o panorama não é de estranhar.

Espeto a sombrinha na areia. Estendo a toalha e espalho protector solar por todas as partes do corpo que as minhas mãos conseguem alcançar. Deito-me e fico a observar quem me rodeia. Acima, um casal estrangeiro com três crianças vestidas até ao pescoço. Um pouco abaixo uma outra família, poliglota, com um bebé - estão de saída, conscientes dos perigos do sol. 
Mais ao lado mais uma família com duas crianças pequenas vestidas com o mesmo padrão - tendo em conta a pequena diferença de idade entre as duas, espanta-me que a mãe não carregue um barrigão. Têm todos um aspecto exemplar. Só não lhes consigo ouvir a voz, mas adivinho-lhes o sotaque e o início de cada frase : Ouça... bla, bla, bla Whiskas saquetas.

Fecho os olhos e disponho-me a desfrutar de uma silenciosa manhã de praia. Só que não! Pouco tempo depois vejo o areal ser invadido pelo que parecia um autocarro de gente. Um verdadeiro maranhal! Lá se foi o silêncio, pensei levada pela aparência daquela invasão. Não me senti incomodada, afinal estamos em Agosto! O que esperar? Apenas que sejam civilizados. E eram! 

Contudo, a indignação de tanta gente na praia incomodou alguém. Quem? Adivinham? Sim, o pai das duas crianças matchi-matchi e, certamente, marido da rapariga com ar exemplar. Do alto da sua parolice dirigiu-se a uma das pessoas responsáveis pelo grupo invasor e foi reclamar que aquelas pessoas não podiam chegar ali e espalhar-se pelo areal com os seus coloridos chapéus de sol. Se toda a situação já é ridícula, a razão do seu descontentamento ainda o é mais: aquelas (muiiiitasss) pessoas e os seus chapéus de sol estavam a tapar a paisagem às famílias que ali tinham chegado primeiro e estavam tranquilamente a fazer praia!!! 

Mal posso esperar que chegue Setembro...

                                                     Margarida Vargues