quarta-feira, 18 de setembro de 2019

PARTIU UM AMIGO



FALECEU EDUARDO BRAZÃO GONÇALVES, AUTOR DO «DICIONÁRIO DO FALAR ALGARVIO»
Nascido nessa típica freguesia louletana, que é Boliqueime, terra -mãe de uma plêiade de alguns dos mais famosos algarvios do nosso tempo, caso entre outros do Professor Aníbal Cavaco Silva (que foi Presidente da República e Primeiro Ministro) e da Dra, Lídia Jorge (das maiores escrito­ras de língua portuguesa dos séculos XX e XXI), Eduardo Brazão Gonçalves veio «menino e moço» para Faro, por razões de prosseguir, tal como seu irmão Fernando (Secretário de Estado e Presidente do Sporting Farense) os estudos e da vida profissional do pai, que era ferroviário. Instalou-se ali para o mediático Bairro de São Sebastião, paredes meias com a multissecular Capela e com a sede da GNR.
Sem olvidar, um instante que o fosse, a então aldeia em que nascera há oitenta e seis anos, não obstante uma intensa vida quer académica, no Liceu João de Deus e depois em Lisboa ou profissional, como quadro qualificado do extinto ICEP (Instituo do Comércio Externo Português) o mais novo dos «Brazões», a quem nos unia uma sólida amizade, assumiu-se também, e com que dignidade o fazia, um verdadeiro farense, para além de um empenhado regionalista.
Á sua pertinácia, inteligência, invulgar cultura e profundos conhecimentos de linguística, ficámos a dever o «Dicionário do Falar Algarvio», constituído por centenas de palavras aqui usadas, neste falejar que constitui «um dialeto do português europeu falado no Algarve» e fruto do meticuloso trabalho e recolha, durante décadas, em fichas que apaixonadamente ia juntando com os produtos das suas descobertas no diálogo que com todos nós travava. Foi em. 1991 que numa edição da RT A (Região de Turismo do Àlgarve); então presíillaa.'pelo saudoso algarvio de Montes Novos-{boolé} Horácio Cavaco Guerreiro, que veio a lume a primeira edição da obra. Mais tarde, em 1996, editada pela «Algarve em Foco», da criação e direção do também saudoso intelectual algarvio Prof. Almeida
Carrapato, conheceu nova edição, com novos termos.
Reúne este «Dicionário do Falar Algarvio» particularidades fonéticas, morfológicas e sintáticas do genuíno falar das gentes do Algarve com as suas características próprias, das quais destacamos e como referências deste seu ADN linguístico: a mononlongação dos ditongos ( casos de leite - lête ou maneira - manêra); a apócope do o no final das palavras (exemplo de figo - fig ou amigo - amig) e o acrescente do i a seguir ao r no final das mesmas, o que acontece, por exemplo
com dizer - dizêri.
Eduardo Brazão Gonçalves, o meu amigo Eduardo, autor do «Dicionário do Falar Algarvio», com quem mantive com formativas para mim, recordadas conversas repetindo o percurso Rua de Santo António abaixo e Rua de Santa António acima, faleceu, há semanas, na Grande Lisboa, onde há décadas residia. O testemunho reverente da nossa homenagem!

DESCANSA EM PAZ  BRAZÁO GONÇALVES

JOÃO LEAL