"AUTO DA BARCA DO INFERNO"
Ontem desci o país
pelo interior e aquela que podia ter sido uma viagem bonita de se ver, foi
antes um arrepiar na pele num misto de desolação, raiva e tristeza.
Ver de perto - muito perto - as cinzas que encheram
páginas de jornais e revistas, televisões e reportagens especiais tem um efeito
avassalador.
São quilómetros sem fim de serras queimadas, onde a
vida tenta brotar a muito custo e onde outras vidas se perderam sem razão nem
porquê. As feridas do Verão passado e as marcas dos anos anteriores estão lá. É
impossível que não as vejam - mesmo aqueles que não tiram os olhos da estrada
enquanto conduzem, como eu.
É horrível. Não consigo, sequer, imaginar o sufoco daquelas
gentes que viram a vida e as suas vidas serem consumidas por interesses alheios
em forma de fogo. O demónio à solta não deve fazer jus ao que se viveu ali.
Andamo-nos a queixar do frio e da chuva em pleno mês
de Junho, mas como disse a minha irmã, antes um verão chuvoso que o inferno
vivido na terra.
Não há homenagens ou palavras de apreço que sirvam
para agradecer quem, com o corpo, a alma e todas as forças que teve, combateu -
e combate!!! - as chamas que todos os anos devoram o nosso país.
Oremos - a Deus ou a
quem vos fizer sentido - que o Inferno não volte à terra e que os culpados
desta imensurável tragédia sejam condenados e paguem pelo mal que fizeram.
Florêncio Vargues
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