segunda-feira, 13 de março de 2023

           

       3ª História para ler e entreter

                                  

                             INSPIRAÇÃO

              21.00 horas

            As horas iam passando sem que tivesse inspiração para escrever.

 

23.00 horas.

Ligo a TV, corro todos os canais e não encontro programa que me satisfaça. Desligo o aparelho.

 

23.30.

Pego na esferográfica, no papel e… fico suspenso pensando no tema que possa abordar. Irrito-me!

Não consigo inspiração…! Não me costuma suceder. Agarro na esferográfica, olho-a e penso: “odeio este objecto”. Não me dá uma ajuda…. Caramba! Maldita esferográfica. Descarrego nela a minha irritação, torço-a, dobro-a, insisto com mais força… estilhaça-se. Fico suspenso; abro a gaveta da secretária e agarro noutra. “Isto nunca aconteceu. Que se passa comigo?”  “Sinto necessidade de escrever e não consigo”. Pego na chave do carro e saio de casa. As horas passam a correr.

 

O1.30 horas.

A noite já ia longa. Não sentia sono. Estava fresco, fazia uma brisa suave; sentia-se um cheiro a maresia.

Puz o carro a trabalhar e arranquei; as ruas estavam desertas, não se via vivalma; sai da cidade sem rumo e arrumei o carro no estacionamento de uma discoteca. Uma música moderna, do agrado da juventude, fazia-se ouvir. A porta estava fechada, bati. O postigo abriu-se e entrevi um rosto que disse “estamos quase a fechar”, “ficarei até fechar” respondi. A porta abriu-se, entrei. O som era bastante alto, do agrado da juventude; o recinto estava cheio, dançava-se.

Encostei-me ao balcão do bar. Pedi um whisky com duas pedras de gelo. Agarrei no copo e deambulei por entre a multidão; olhando de lado dei um encontrão noutra pessoa. O copo caiu ao chão, estilhaçou-se, e ouvi uma voz

 

.        -  Está a dormir de pé?

 

 - Desculpe, olhava para o lado, não a vi.

 

- É o que dizem todos!

 

- Acabei de entrar, é a primeira vez que aqui venho, e está um pouco escuro…

 

- Entrou?,  eu estou de saída!

 

- Porquê, não está satisfeita? Perguntei, notando que a minha interlocutora era uma mulher jeitosa e com uma certa beleza.

 

- Sem companhia isto torna-se insípido, respondeu.

 

- Estou condenado a passar pelo mesmo? Também estou só, podíamos dançar, até fechar, que acha?

 

- Não era má ideia, mas…, tire o cavalinho da chuva se pretende avançar com outras ideias…

 

- Pode estar descansada, não pertenço a essa categoria.

 

Dançamos; a música era lenta, um slow que convidava a relaxar. Ela era boa dançarina. Dançámos em silèncio até à hora de fechar. Olhámo-nos, sorrimos.

 

- Gostei da companhia, disse ela.

- Estou de acordo consigo, adorei, para esquecer o encontrão, acho-a uma mulher simpática, meu nome é Alfredo, Alfredo da Silva, sou gestor de uma empresa, escritor e sou viúvo, apresentei-me.

 

. Muito prazer, sou Ana Maria, trabalho no turismo e, sou divorciada.

 

- Em vez de virmos sozinhos, poderíamos combinar um encontro neste mesmo sítio, o que acha? Perguntei.

 

- Acho bem, respondeu Ana Maria, com um sorriso aberto.

 

E despedimo-nos, com um beijinho, depois de apontarmos o número dos telemóveis.

 

04.00 horas

 

Regresso a casa.

 

Faltou-me a inspiração para escrever, não me tinha acontecido. Porque não substituir, de vez em quando, a escrita pelo convívio, fazendo a vontade a quem não está disposto para me ler?

 

É fácil substituir a inspiração pela disposição… ou juntar as duas.

 

Olho para o espelho por cima da cómoda e fico pensando que o meu cabelo ainda não está grisalho, e sinto inspiração…

 

É madrugada, sento-me à secretária, esqueço a “maldita esferográfica”, abro o computador, sinto disposição e… Inspiração!

 

E escrevo esta crónica.

Uma ideia com arranjo de Roger. GOSTARAM?

 

 

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