domingo, 13 de agosto de 2023

COSTELETAS QUE EU CONHECI

O DR. TELLO QUEIROZ


Era um mestre que veio para a nossa Escola aí pelo finais dos anos 50 ou

princípios de 60 do ido século XX e de que são conhecidas algumas

excentricidades. Isto não afectava no mínimo o seu saber, que era grande e

que ele, fraternamente prodigalizava com todos, em especial com os alunos.

Natural de Lagos e membro da linhagem fidalga, como o próprio nome o

atesta, o Dr. José Francisco Tello Queiroz, leccionou durante vários anos na

Escola Tomás Cabreira e tinha um ênfase muito especial e sabedor, em tudo o

que se referia ao então designado por «Ultramar Português», as antigas

colónias que hoje são os PALOP,S (países de língua oficial portuguesa).

Eram conferências, ele que era um dotado orador; exposições de temática

ultramarina que fazia promover e outras manifestações, sempre imbuído do

espírito assumido de que «não se pode amar aquilo que se não conhece».

Assisti a reuniões com elementos vindos de Angola, Moçambique, Guiné,

etc. que desconheciam o que o dr. Tello Queiroz lhes expunha sobre

hidrografia, orografia, economia, etnias, etc. das colónias de que eram

originários.

Mas tinham muitas e curiosas excentricidades que faziam o «gozo» da

Tomás Cabreira. Comigo foram vários os casos, de que não me furto a contar o

passado entre nós. Manhã cedo telefonou para minha casa dizendo-me da

muita urgência em nos encontrarmos pois acabara de chegar de Lisboa,

- Com certeza, Senhor Doutor. Estarei em vossa casa dentro de minutos....

Assim aconteceu e dirigi-me à sua residência no andar superior da Rua

Reitor Teixeira Guedes, em cujo rés-do-chão funcionava a Foto Loução

(imediações do Palácio da Justiça). Após muitos e repetidos toques de

campainha lá se abriu a porta e o meu interlocutor a receber-me e a dizer-me:

- Aguarde aqui uns minutos enquanto faço a higiene básica.

Assim sucedeu, só que aos minutos sucederam-se as horas e havia na casa,

como diria o saudoso professor de História e outro excêntrico, o Dr. Salgado:

«ouvia-se o sepulcral silêncio das múmias faraónicas». As horas passaram, a

fome do almoço chegou e eu tomei a decisão de «bater em retirada».

A meio da tarde telefonou-me a pedir desculpas e a dizer que a cama o

chamara e se deixara dormir.

A Câmara Municipal de Lagos, em preito de homenagem ao seu valor

intelectual deliberou dar o nome do Dr. José Francisco Tello Queiroz a uma

artéria na Urbanização Marina Sol, na União de Freguesias de São Sebastião e

de Santa Maria, naquela cidade da Costa de Ouro.


JOÃO LEAL

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