segunda-feira, 20 de julho de 2009

ESCOLA PRIMÁRIA EM ESTOI 1947


MEMÓRIAS DE ESTOI E DA ESCOLA PRIMÁRIA EM 1947
Texto de ANTÓNIO ENCARNAÇÃO



Estoi a maior aldeia do Concelho de Faro com actividade de Predominância Rural , em que residia a maior parte da população !Servida por duas empresas de autocarros que faziam ligações entre Faro e São Braz de Alportel , a EVA e António Evaristo Santos , deslocando-se a maioria dos habitantes em bicicleta e Carros de tração animal , para trabalhar na cidade de Faro , sendo um grande Pólo de empregos a Moagem que em horas definidas a sirene era ouvida numa distancia superior a 10 Km. e servia de orientação das horas para muita gente !

Existia o Racionamento de Produtos Alimentares , na maioria efectuada na venda do Picanço no inicio da Estrada que vai para Olhão , frente ás traseiras da casa de Joaquim Belchior Pai do Eng, Belchior Personalidade Publica de Faro . As Senhas necessárias para as compra davam direito a 600 gr. Mensais por pessoa no Açúcar , arroz , massa etc !
O pão também comprado pelas Senhas era vendido nas duas padarias que ficavam na Rua Principal ; família de Parafusa e José Gaziba este, também com Mercearia e venda que ficava depois da mercearia do Cancela, venda da Cascalhõa , sendo seguida pela barbearia do Chico . tinha dois Abegões ( construtores e reparadores de veículos de tração animal ) nessa rua !

Como figuras Típicas tínhamos o Lópinhos e seu foles “Acordeon “ que tocava em pequenas festas , com um repertório repetitivo ! Nas matanças de Porco o matador Fírmino Apolo grande animador nas confraternizações que se seguiam existia o hábito de quem mandava abater o animal fazer uma distribuição de parte da carne pelos vizinhos , que por sua vez retribuíam quando fazia a mesma , Era cômodo porque não existindo frigoríficos permitia acesso a carne fresca mais vezes na época que ia de 08 de Dezembro ao dia de Carnaval ou entrudo como chamavam .

No dia do ano Novo até ao dia de Reis 06 de Janeiro as Charolas corriam as casas com sua modinhas acompanhadas de castanholas; Ferrinhos e Pandeiros ! O Natal não tinha significado Em Estoi , Sim em Faro ( ainda na actualidade os espanhóis trocam presente pelo Reis) .
No dia de Entrudo a concentração dos foliões na generalidade era no Largo do Coiro da Burra ,e da Igreja na Aldeia ! existia pouco Transito , o primeiro automóvel que deu nas vistas foi do médico doutor Leiria , Nessa época Camiões e carros não tinham motor de arranque e pegavam com voltas de manivela !
Época da Páscoa tradicional jejuns e procissões como a dos Passos , e na Sexta feira Santa ninguém comia Carne de Porto , a Religião Católica respeitada , com um Padre popular que exercia muita actividade Social ! A concorrência evangélica mais perto era no Sitio da Bordeira !
Com a Primavera eram produzidas Favas e Griséus ( Ervilhas ) ;
O Mercado / Feira no Largo em frente ao Cemitério era no segundo Domingo de cada mês , enquanto a festa da Pinha composta exclusivamente por cavaleiros e carros ou carroças engalanadas continua sendo a 02 de Maio com itinerário de Estoi ao Ludo , ao princípio da noite na volta no Coiro da Burra era distribuídas tochas de esparto á população que as acendendo seguia em Procissão iluminada até ao Largo da Igreja do Pé da Cruz .
Nos Santos Populares a época dos Mastros cobertos de Flores em que eram realizados pequenos Bailes ,

Também em 1947 entrei para a Escola Primária de Estoi , num Edifício localizado na Estrada de Faro , denominado Escola do Estado Novo ! Com 04 salas , duas no rez de chão para os rapazes e outras duas no Primeiro andar para as meninas !
A professora mais famosa na época a D. Damásia , dava aulas ás meninas do Piso Superior lado direito ( também tinha sido professora de minha mãe.).
Minha sala foi sempre a do rez do chão lado direito por ter passado todos os anos, não mudei de sala , primeira e segunda classe fui lecionado pelo professor Pires e depois na terceira e Quarta pela professora Beatriz !


Enquanto , na sala do lado esquerdo lecionava a Prof ª. Eurídice , não me recordo do nome da outra professora , nem da auxiliar que completava o Pessoal Escolar .
Alguns colegas já conhecia como vizinhos de familiares moradores dos sítios de Porto de Carro ; Vale da Rosa , a maioria não chegou a freqüentar a Secundária nem o Liceu .
Os que Socialmente mais se destacaram na minha classe e foram para o Liceu foi o José Manuel Leiria ( Dr. Gago Leiria ) o José António Zeferino , filho do Dono do Cinema Ossonoba em Estoi , o António Picanso , ! o José Manuel Pires que só voltei a encontrar na Inspeção militar .
Como Costeletas saíram de lá o José Izidoro que foi para Professor Primário , António Bento do Sacramento Rodrigues que foi para a Força Aérea, o João Bernardino Sancho Cabrita que foi para enfermagem e faleceu em França , o Valério filho mais novo do Barbeiro junto á Igreja que ingressou na Fiscalização das Contribuições e Impostos onde o Irmão mais velho também se encontrava ,

O Balhão foi para o seminário , e o Virgilio José Nunes se notabilizou como Ciclista , tendo até participado na volta a Portugal .
Cada sala de aula funcionava com 2 classes alternadas em que o primeiro ano se juntava ao terceiro , o segundo á quarta classe , de forma que o aluno que passasse todos os anos ficava sempre na mesma sala .
Na época não chegava a 30 % os alunos que conseguiam completar a Primária , entre 10 a 12 alunos na média ! muitos eram obrigados a desistir para ingressar no trabalho Agrícola , outros completavam e iam para ofícios diversos ,

O que escrevi foi retirado de memória , sem qualquer pesquisa , Podia falar de outros colegas , mas quem se lembraria deles ? pessoas simples que na maioria nem estão entre nós e o espaço seria bem extenso!
Posso afirmar que convivi com pessoas de 03 Séculos , me recordo também de freqüentar a pré-primária ( escola paga ) . Agora quase aos setenta , também afirmo que não estou arrependido do que fiz nas diversas fases da minha vida e, se fosse possível voltar atrás não o faria ! porque tudo tem seu tempo ,e me sentiria deslocado não sendo o meu apesar de me adaptar facilmente ás situações !


Li há dias no blogue a resposta a um comentário de um Anónimo que critica o trabalho desenvolvido na Associação pela Geração de Ouro com a designação de velhos !
Em condições adversas ao contrário das facilidades actuais continuam mostrando seu valor !
Quem critica o Dr. José Hermano de Saraiva ; o Manuel de Oliveira ; o próprio Presidente da republica “ Costeleta “ ; e tantas outras figuras , aqui no Brasil temos o Jô Soares com 72 anos; a Hebe Camargo com 80 ; o centenário Oscar Niemeyer !
Será que esse critico Anônimo também os acha Velhos ? Prefiro não comentar !
PUBLICADO POR
JBS

CRÓNICA DA SEMANA /3)


Tenho por hábito, desde que o Blogue se iniciou, tomar conhecimento das prosas e dos sonetos que aqui se publicam e que me dão satisfação por um lado e saudade por outro.
Mas, também gosto de ler jornais principalmente um semanário da nossa província. Na outra semana li uma crónica nesse jornal, da autoria do João Brito de Sousa, que trata este Blogue por “tú”, e que não posso deixar de transcrever na parte que “buliu” com a minha saudade daquele tempo. Reza assim:
“.................Dr Uva na escola em Faro, que era através de chamadas orais onde os estudantes iam pedir dispensa de chamada à lição, argumentando que não a tinham preparado por isto ou por aquilo, o que o Sanches concedia ficando, todavia fulo da vida, vociferava mas não havia nada a fazer.
Foi então que o Dá Mesquita, a propósito disso, lhe dirigiu estes versos: “Dizem que o Sanches embirra/que lhe vão pedir dispensa/Forte asneira/Pois ele pensa/Que lhe vão pedir a despensa/onde tem a salgadeira.
É de uma graça imensa a história do estudante pássaro chamado assim por ter o cabelo que lhe cobria a orelha estilo asa de pássaro. Então nas discussões de estudantes nos Gerais, quando a coisa aquecia, a malta pedia o pássaro, dizendo, fala o pássaro. O camarada pássaro, que deveria ser um cábula dos maiores, atacava o problema fazendo rir a malta toda e o problema resolvia-se. Quando se formou foi para a terra e colocou uma placa de madeira no caminho perto de casa, com a seguinte inscrição: aqui advoga-se. ...............”
Bem, fiz esta transcrição, tanto pela graça que tem como pela recordaçáo do Dr. Uva ter sido meu professor de Direito Comercial. Mas nunca lhe pedi dispensa...
Escrevo aqui no nosso Algarve. E tenho presente a poesia que em 1973 Miguel Torga escreveu sobre o Algarve:
Levo-te emoldurada na retina.
Terra que Portugal sonhou e sonha ainda.
Que imagina depois de conhecer.
Só na retina poderia reter
Um mar que é outro mar.
Um sol que é outro sol,
Gente que é outra gente,
E casas que parecem de repente
Albornozes de pedra.
Magias naturais como a paisagem
Aberta à luz do dia,
Sempre real e sempre uma miragem
Táctil e fugidia...
Mas voltemos ao professor Uva. Alguém escrevia “Zé da Uva era poeta e repentista de geito, compositor musical por intuição, devotado à charla, recheado de humor sadio e de agudo espirito de observação”. E mais adiante escrevia “O encanto popular do seu >corridinho< que toda a gente trauteia e dança, esquecida do nome do seu autor, é bem o testemunho do seu expontâneo poder criador...”
E para terminar esta minha crónica semanal deixo aqui uma gazetilha do “Zé da Uva” (José de Sousa Uva Junior) que, suponho, foi escrita em Março de 1947:
ÓLEO... DE CUCO

Faro tem vida e progride.
A nossa atenção incide
em certos estabelecimentos,
conforme a arte e bom gosto
que o proprietário tem posto
quando faz melhoramentos

E há sempre manequins novos
Com cabelos em fios de ovos,
Sobrancelhas lineares,
Seios cónicos, agressivos,
E cilios rebarbativos
Narcotizando os olhares.

É isto o que mais se encontra.
Mas, há dias, vi na montra
Do meu compadre Seruca,
Relógio feito a capricho:
Dá as horas... salta um bicho
Que deve ser cuco... ou cuca!

E o povo sem mais demoras,
Vai ouvir todas as horas!
E, num apertão maluco,
Comprime-se com deleite
Supondo que arranja azeite
Mas... ouve cantar o cuco!...

E fico para a semana. Até lá
Alfredo Mingau
Recebido e colocado por Rogério Coelho