terça-feira, 21 de julho de 2009

UM TEXTO... DIÁRIO, SEMANAL, MENSAL... OU DE VEZ EM QUANDO

Jorge Tavares


As nossas brincadeiras de infância... (Capítulo I)


Nós, os sexagenários, septagenários e octogenários, brincávamos todos da mesma maneira, porque as dificuldades económicas, a guerra, as actividades industriais reduzidíssimas e pouco diversificadas, eram o principal motivo para a inexistência de brinquedos. Como se brincava então?

O berlinde, pião, bola de trapos, arco com guiador, trotineta, fisga, cana com carrinho de linhas vazio na extremidade, "apanha", "deserta", uvas, cartas feitas com embalagens de cigarros da marca "Provisórios", cowboys, hóquei em campo, entre outros adaptados aos respectivos lugares de residência, eram os brinquedos e jogos preferenciais dos jovens.

Os berlindes adquiridos nas lojas de ferragens - lembro o Augusto Vieira dos Reis, no largo da Madalena - de uma só côr ou os abafados de diversas cores, jogavam-se, a perdê-los ou ganhá-los, nas modalidades de uma cova, três covas ou palmo e beijoca.

Os piões, que se adquiriam pintados e com careta, de imediato eram "limpos" de pinturas e caretas, afim de evitar o "ataque" da rapaziada - pião pintado vai para o telhado e pião com careta vai para a gaveta - e era uma vez um pião. Jogava-se com um cordel para o fazer rodopiar no chão, para depois fazê-lo subir para a palma da mão e dar um carolada no que se encontrava na poiso, até o colocar dentro do círculo e ganhar a partida e o pião.

A bola de trapos ou trapeira, feita com as meias das mães, permitiam jogar, driblando e rematar embora fosse mais utilizada nos "chutinhos" à parede. Os campeões destes chutos, somavam mais de mil, num muro com inclinação, junto à padaria do Joaquim Lopes "vulgo Joaquim Padeiro", no Largo de São Sebastião.

O arco com guiador, permitia um autêntico espectáculo circense. Percorríamos a cidade, fazendo circular o arco no lancil dos passeios, sem cair, misturado com ralis que inventávamos. A trotineta, veículo que era construído por nós, utilizando tábuas, rolamentos e campainhas usadas obtidos nas casas de bicicletas, chapa zincada para o travão de pé. Só faltava mesmo, Direcção Assistida e ABS.

O carro feito a partir da cana que apanhávamos nos canaviais, era construído com uma reentrância aonde se encaixava o carro de linhas - geralmente de bordar porque eram muito maiores - e encostado ao nosso ombro, funcionava que era uma maravilha.

Os maços de cigarros "Provisórios", com a sua embalagem exterior decorada com um riscado vertical, era no seu interior completamente lisa, permitindo desenhar o que quiséssemos. Porque era o tabaco empacotado que mais se vendia, estavam reunidas as condições para a partir dos pacotes vazios fazermos um baralho de cartas e em cada invólucro, desenhar um naipe. Que grandes jogatanas... a ganhar e perder milhos que retirávamos da dispensa caseira.


Para não tornar o texto muito extenso, voltarei no Capítulo II

Jorge Tavarescosteleta 1950/56