sábado, 25 de julho de 2009

A PROSA DE MARIA JOSÉ


NO PÁTIO DA ILUSÃO
Por Maria José Fraqueza

Um dia pus-me a pensar nos sentimentos que norteiam a nossa vida e na nossa maneira de agir perante as situações.
Então tentei dissecar pormenorizadamente os encontros e desencontros desta vida.
Em silêncio, debrucei-me sobre a rotina. E deste modo, encontrei algumas presenças familiares: o Amor, o Ciúme, a Paz, a Felicidade, o Sonho e a Esperança - sentimentos que guardava na caixa escondida do meu coração. Amigos do convívio íntimo, tranquilo, percebi que eram cúmplices na missão de agir e de pensar.
Assomei-me à janela do meu Pátio e vi que estava na praça da Alegria. Por ela passava o Amor! Dei os bons dias ao Amor, sorri-lhe e o amor sorriu também. Entrava risonho no meu coração como um flor a desabrochar. Depois vi a flor fechar as pétalas e o Amor sair de casa e perguntei-lhe.
- Para onde vais Amor tão apressado? Mal chegaste e já desapareces deste canteiro florido?
- Vou espalhar-me por aqui e por ali...as minhas pétalas
Eu fiquei triste e senti entardecer – nessa altura o Ciúme porta adentro.
O Ciúme estava muito zangado com tamanha falta do Amor. Derramou lágrimas e disse adeus ao Amor, acenando um lenço branco de despedida.
O amor nem sempre fica connosco, chego a pensar que talvez eu seja uma Rosa com espinhos como a flor do meu nome.
- Mas não há amor sem ciúme, dizia a minha mãe! – Deixa o ciúme em paz!
Acercou-se de mim a Paz e tanto eu, como a minha mãe, compreendemos que tínhamos necessidade dela e que todos os seres humanos devíamos construí-la.
Ali ficamos as duas no poial da porta a conversar com ternura e afeição, sobre poentes e alvoradas que alimentam de gestos e ideias os hospedes do nosso coração. Depois veio a Felicidade ao nosso encontro e juntou-se à Paz e ambas compreenderam que moravam naquele instante dentro de nós.
E ficaram em silêncio até anoitecer. O céu encheu-se de estrelas luminosas e surgiu o Sonho, nas asas do pensamento. O sonho transportou-as ao mundo onde estavam os seus companheiros e amigos, felizes e sorridentes. A cada um deles um projecto de futuro e um desejo de concretização. O sonho fazia sempre parte das suas vidas. O sonho de ver um mundo feliz, de criar um lar para os idosos, um infantário para crianças e mais escolas... um hospital... e num repente, sentiu caminhar até uma instituição, onde era possível ajudar os mais desfavorecidos. E viu uma enorme constelação de amor a rodar num espaço, onde as estrelas brilhavam com um brilho mais intenso. E na imensa trajectória descrita pelos astros, chamou “Rotação” ao seu projecto. No sonho de levar o seu plano por diante, abria-se um horizonte ilimitado, um vasto mundo a percorrer...e girava, girava... qual dançarina mais leve... passo a passo o Sonho... transpôs a porta e saiu...
- Esperança! – gritava a mãe aflita! São horas de levantar! É Natal! Anda ver os presentes que estão na árvore!
Acordada do meu sonho, a Esperança fazia parte dos meus haveres. Parecia ainda dentro do meu sonho, conversando em paz nas noites prateadas de Luar e a imaginar a chegada dos Magos, seguindo a Estrela de Belém, com a mirra, o incenso e o oiro!
Ah! O ouro... era o meu sonho dourado na mina consagrada a Deus!
E o sonho não tinha fronteiras, atravessaria sempre aquela porta para me oferecer novos anseios, novas ilusões, novos projectos e atrás deles a nossa missão de servir a Humanidade e a ilusão de ser criança. Afinal continua com morada certa no Pátio da Ilusão!

COLOCAÇÃO DE
JBS