RECORDAR CIDADÃOS FARENSES
A cidade de Faro é e sempre foi parca em acontecimentos sociais, que motivassem grande aglomeração de farenses. Por isso, recordo alguns que marcaram profundamente a minha (nossa) juventude:
- A passagem do General Humberto Delgado pela cidade e o ajuntamento de milhares de pessoas na baixa, com alguns mais afoitos transportando o general em ombros, até ao Hotel Aliança.
- A subida do Sporting Clube Farense à primeira divisão nacional, pela "batuta" da família Guerreiro. Quando o autocarro que transportou os jogadores chegou à baixa, eram milhares de farenses a saudá-los, vitoriando o enorme feito desportivo.
- A procissão de Sexta-feira Santa , vulgarmente apelidada pelo povo como procissão do Senhor Morto, que saía anualmente da Igreja da Misericórdia, também juntava (e junta?) na baixa e nas ruas por onde passava, centenas de pessoas.
- Na época carnavalesca, especialmente no mês que antecedia os três dias de festejos de Carnaval, às Quintas-Feiras e aos Sábados, as ruas de acesso às colectividades que recebiam mascarinhas - Artistas, Musical, Grémio, Farense, Ginásio, Sport Lisboa, etc - enchiam-se de milhares de farenses para as ver passar, receber uma carícia e festejar com um " Olá Mascarinha, quem és tu?"
Esta introdução, pretende recordar um evento, que reuniu igualmente milhares de pessoas, e que embora não fosse de festa, foi pelo menos de curiosidade.
Lembram-se do Sr. Oliveira? Quem era? Tipógrafo de profissão, exercia a sua actividade na denominada "Tipografia dos Padres", sita na Rua Tenente Valadim, na qual viveu o saudoso Padre José Gomes da Encarnação, e hoje ocupada pela cosmopolita "Via Valadim". Para quem não se recorde, ou esteja ausente de Faro há muito tempo, é a rua que dá acesso ao Largo da Palmeira, vindo da Rua de Santo António, e que nós frequentávamos nas idas ao salão de bilhares "Olímpico".
O Sr. Oliveira era de "boas famílias" e pessoa respeitadíssima na cidade.
Certo dia, alarma-se a cidade porque o Sr. Oliveira tinha sido preso e ia para a cadeia nessa tarde, a determinada hora. Junta-se então a população às centenas (milhares talvez), no largo da cadeia e nas ruas adjacentes - Rua da Boavista e Rua Serpa Pinto. Chega finalmente o Sr. Oliveira, em viatura da GNR e é entregue ao carcereiro, ao tempo o Sr. Francisco Manuel, pai do Sr. António Manuel, conhecido comerciante da Rua de Santo António.
Móbil do crime que deu voz de prisão ao Sr. Oliveira:
- Durante muitos anos, o Sr. Oliveira frequentou o cinema e outras sessões públicas, visualizando os frequentadores e seus hábitos. Posteriormente, escolhia a casa a assaltar, sem que nunca ninguém tivesse suspeitado de tal "actividade" extra profissão. Foi descoberto e condenado porque encontraram em seu poder, centenas de chaves (cópias integrais, das que correspondiam às casas que tinham sido assaltadas) e em sua casa, os bens que havia subtraído aos respectivos donos.
E assim era Faro, em tempos idos: Do melhor e do pior se fazia "festa"!
Jorge Tavares
costeleta1950/56