sexta-feira, 6 de novembro de 2009

EPISÓDIOS DA VIDA REAL

Saudações Costeletas
Para o moderador

Como já tive oportunidade de referir, existe um contencioso entre o “escrevinhador” e a máquina fotográfica. Espero que o mesmo litígio esteja resolvido hoje. As noticias que tenho não são boas para mim, uma vez que segundo o meu advogado, vou ter que enfrentar a dita cuja e como pena acessória fazer a digitalização, parece que é assim que se diz. (modernices, eu meto-me em cada uma).


Ousadia

É na realidade uma ousadia esta minha atitude de escrever algumas coisas para que outros possam ler. Profissionalmente nem sou de letras, sou sim de números, e o que escrevi regularmente foram relatórios e reclamações aos sucessivos ministros das finanças, reclamando dos impostos. Parafraseando o personagem da novela de Dias Gomes, Odorico Paraguassu, sou um “reclamador militante”.
Humildemente peço perdão pela ousadia e ficarei muito feliz se pelo menos um costeleta tiver a pachorra e a bondade de ler o que escrevo.

Episódios da vida real

Pelo que antes foi escrito por mim e pelo colega António Encarnação, é do conhecimento geral que vivi parte da minha vida no Brasil e que esse período foi fértil em acontecimentos, digo eu agora, mas também a minha forma de estar na vida, contribuiu para que a mesmice, em que a mesma por vezes se transforma, não estivesse no meu horizonte.
Vamos então aos factos:
Algum tempo antes de tomar a decisão de sair do país, assisti eu e certamente muitos outros portugueses, pela televisão, a um incêndio pavoroso, num edifício de escritórios no centro de São Paulo, edifício “Joelma” de seu pomposo nome e de triste memória.
Foi pavoroso assistir às pessoas em desespero, lançarem-se dos andares mais altos, como ultima esperança de salvação, morreram então, salvo erro 32 pessoas. Ficou na minha memória visual, um homem (a última vitima) lançando-se do andar mais alto e ficar imóvel, sem vida, no asfalto.
O tempo tudo faz esquecer e passados alguns dias obviamente ultrapassei, mais uma noticia de uma tragédia, idêntica a tantas outras que nos são dadas a conhecer diariamente.
Ao iniciar a minha vida profissional em São Paulo, fui apresentado a todos os colegas e chamou-me a atenção um colega mais velho, certamente com mais uns 30 anos do que todos os outros e que se chamava António Borges, por coincidência o nome do meu falecido sogro. A simpatia foi mútua e como ele não tinha carro, passei a dar-lhe carona (boleia) para o centro da cidade, a empresa situava-se no Alto da Lapa, longe do centro.
Apercebi-me então que ele queria ficar sempre no mesmo local, ainda longe de casa e tentei desvendar o mistério sem conseguir, o que me fez sentir a necessidade de lhe perguntar.
Fui então confrontado com um homem, que naquele momento, dentro do meu carro, me pareceu ter mais de 100 anos, duas grossas lágrimas escorriam-lhe pelo rosto. Fiquei chocado.
Contou-me então que 200 metros à frente do local onde me pedia para parar, ficava a Praça das Bandeiras e que nessa praça se situava o edifício “Joelma”. Este local era de passagem obrigatória para quem vinha da Av. 9 de Julho para o centro.
Perguntou se eu sabia do incêndio que tinha destruído aquele edifício, ao que lhe respondi que sim, que tinha assistido pela televisão quando ainda estava em Portugal!
- Ah então você ainda viu o meu filho vivo, foi aquele que se jogou do ultimo andar, a ultima das vitimas. Fiquei sem palavras, sem saber o que dizer ou que pensar. Ele continuou:
- O meu filho foi um herói, talvez tivesse, se ainda estivesse entre nós, a sua idade. Uma vida pela frente. A licenciatura em Administração de Empresas, permitiu-lhe candidatar-se a um bom emprego numa multinacional, eram 16 pessoas que trabalhavam sob suas ordens naquele escritório, todos se salvaram, proporcionou a todos uma saída rápida e segura, só ele já não teve tempo, continuou sem que eu conseguisse esboçar uma palavra:
- Ainda trabalho para ajudar os meus dois netos, cuja responsabilidade carrego sobre os ombros.
Compreendes agora porque não consigo passar em frente desse maldito edifício?
Mais uma vez não consegui responder, não encontrava palavras perante tanta dor demonstrada.
Quando cheguei em casa, senti a necessidade de abraçar as minhas 3 filhas .
O Joelma foi recuperado mas durante alguns anos ninguém, alugou ou comprou qualquer parte do imóvel, mas como disse no inicio o tempo cura as feridas, mas não faz esquecer.
Amigo Borges, estejas onde estiveres e só podes estar num bom lugar, a pessoas da tua qualidade Deus sempre reserva os melhores lugares, aceita a minha singela homenagem.

António Viegas Palmeiro

AGENDA

Efemérides

Novembro - 6 - Sexta Feira

* Dia Internacional para a prevenção da exploração do ambiente em tempo de guerrane dos conflitos armados.
1772 - Promulgada a carta de Lei que oficializa o ensino primário em Portugal;
1886 - Austria anexa a República da Cracóvia, violando o tratado de Viena;
1919 - N. no Porto Sofia de Melo Breyner Andresen, poetisa;
1921 - Teatro Ginásio de Lisboa destruído por um incendio;
1952 - Nos EUA, realiza-se com exito, a primeira deflagração da bomba de hidrogénio.
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