domingo, 8 de maio de 2011

VIDAS  RETALHADAS
Lina Vedes

Tinha uma colega, Alexandra, que morava na Rua da Misericórdia, que andava comigo na explicação da D. Gracinda, empregada nos Correios. A porta do quintal desta amiga servia várias casas, era o nº13 e ficava na Rua Manuel Belmarço. Todas as casas que faziam canto com a R. da Misericórdia tinham quintais ao fundo que se conjugavam e todos os moradores os partilhavam como um bem comum.
A Alexandra tinha uma particularidade que me espantava. Assumia diferentes personalidades sendo uma colega como as outras, conversando normalmente, ou parecendo viver longe da normalidade.
Quando eu ia para a explicação passava pelo quintal dela, chamava-a e se não respondesse ia à porta da rua. Normalmente estava em casa ou no quintal, tinha uma vida solitária, nunca senti a presença de um pai, e a mãe levava os dias na igreja, rezando, esquecida da filha.
Abria-me a porta, punha o indicador direito junto dos lábios, a pedir silêncio, com a mão esquerda puxava-me para dentro de casa e com voz surda, confidenciava-me:
- Anda comigo, vamos pelo quintal, devagarinho, eles estão à nossa espera. Vem atrás de mim e faz o que eu faço. Não tenhas medo, são demónios bons e amigos.
Eu entrava no jogo, era diferente e divertido.
Ela avançava e eu seguia-a, mais parecíamos um gato perseguindo a presa, olhando à esquerda e à direita, agachadas ou levantadas até atingirmos a porta para sair. Pegava nos livros que tinha escondido num muro e íamos, tranquilamente, para a explicação que ficava numa casa encostada à parede da muralha, no Largo de S. Francisco. Eram 3 ou 4 casas, à entrada e à direita, que haviam sido construídas aproveitando a parede do castelo e que hoje já não existem. A da explicadora ficava na do meio.
Acontecia estarmos a trabalhar e ouvirmos a porta da rua bater e, o marido da D. Gracinda, com aspecto de grande felicidade estampada no rosto entrar na casa de jantar, onde nos encontrávamos.
A explicadora tinha uma cara encarniçada, com muitas “espinhas”, mais parecendo uma adolescente, uma pele bastante oleosa e a boca sempre pintada de vermelho vivo. Quando falava com as pessoas, gesticulava, batia, empurrava, e quando a conversa a entusiasmava, abusava de tal maneira, que uma vez espalmou a minha mãe contra a parede.
Ao encarar o marido, nessas ocasiões, ficava branca, transbordava de raiva e começava a descarregá-la esmurrando-o no peito, nos braços, na barriga volumosa e blasfemando:
- Continuas na mesma. Trabalhar não é contigo. Chegas às tantas da madrugada, dormes toda a manhã, almoças e desapareces. Não arrumas a louça que sujas nem a cama onde dormes. Farto-me de trabalhar para te sustentar, grande malandro. Tenho de dar explicações para pagar as tuas dívidas. Isto tem de ter um fim. Ou trabalhas, ou rua….
Ia batendo num desabafo de revolta contida, enquanto ele, agarrado à cadeira de braços que em parte o protegia dos arremessos, continuava com a expressão de felicidade, olhando-a com olhos de “carneiro mal morto”…
Cansada de tantas palavras e gestos, a D. Gracinda começava a ceder e a amansar com o olhar que ele lhe “jogava”, um olhar que era um pedido, utilizando um código gestual que para nós era indecifrável.
Aos poucos, ela suavizava, ele pegava-lhe na mão, puxava-a suavemente, todo ternura. Ela ainda, num último estertor, clamava:
-Não!
Ele não desistia, insistia, os olhos brilhantes, a boca com um sorriso “sacana”, a mão a avançar pelo braço, a chegar-lhe à cintura, a puxá-la, com uma insistência sábia…
- Meninas vão brincar para o Largo de S. Francisco que eu já as chamo.
Saíamos felizes e contentes, correndo em direcção ao apeadeiro, pisando a terra, as pedras, as covas. Atravessávamos a linha do caminho-de-ferro e ficávamos donas das salinas!
Aqui, a Alexandra não queria silêncio. Era um cavaleiro andante que corria pelo labirinto de caminhos que ladeavam os tanques de água salgada. Esses caminhos eram estreitos e altos com comportas de madeira maciça e grossa que serviam para conter as águas. A água em baixo fazia remoinhos bastante fortes, tornando o local perigoso mas nós, qual cavaleiros corajosos galgávamos todos os obstáculos, brincando no nosso mundo de “faz de conta”.
Já não existem essas salinas!
Voltávamos para o trabalho, para a explicação da D. Gracinda e verificávamos que o clima, entre o casal, tinha mudado.
O senhor marido sentado na cadeira de braços da explicadora, rodeado de almofadas, com uma mesa pequena na frente, coberta com uma toalha, dava a sensação que havia acabado de saborear um bom petisco, daqueles que os homens gostam, com bastante gordura e um bom vinhito a acompanhar…
Estava saciado a digerir prazer!!!!!
A D. Gracinda olha para o nosso trabalho, passa-nos outro e diz:
- Já volto.
Volta com um prato cheio de comida fumegante, coloca-o na mesinha, na frente do marido.
- Come, meu amor!
Olhámos uma para a outra, espantadas, sem perceber nada…
- Ainda tem fome??!!




Qual a origem do Dia das Mães?

A mais antiga celebração do Dia das Mães tem origem mitológica. Na Antiga Grécia, a entrada da primavera era festejada em honra a Rhea, esposa de Cronus e mãe de Zeus , considerada a Mãe dos Deuses.Bem mais tarde, no início do século XVII, a Inglaterra começou a dedicar o quarto domingo da Quaresma às mães das operárias inglesas. Este dia ficou conhecido como o Mothering Sunday (Domingo das Mães). Nesse dia, as trabalhadoras tinham folga para ficar em casa com as mães e levavam o mothering cake, um bolo, de presente para elas.Nos Estados Unidos, as primeiras sugestões em prol da criação de uma data para a celebração das mães foi dada, em 1872, por Júlia Ward Howe, autora da letra do hino do país. Seria, na concepção dela, um dia dedicado à paz.Mas foi outra americana, Ana Jarvis, da Filadelfia, que em 1907 iniciou a campanha para instituir o Dia das Mães. Ana perdeu sua mãe e entrou em grande depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a idéia de perpetuar a memória de sua mãe com uma festa. Ana quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas. Em pouco tempo a comemoração se alastrou por todo o país e, em 1914, sua data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson: dia 9 de maio, o segundo domingo de maio.

Mais de 40 Países aderiram na comemoração do dia no segundo domingo de Maio , incluíndo o Brasil . Em portugal é no Primeiro domingo de Maio , enquando a data é variavel em outros Países .

Saudações Costeletas

António Encarnação