quinta-feira, 11 de agosto de 2011


NÃO HÁ COSTELETAS MAUS

Um arranjo de Alfredo Mingau

A chuva que caía há dias parou finalmente antes do meio dia daquele Sábado. Um suspiro de alívio percorreu a turma toda. Os rapazes sabiam agora que o jogo de futebol entre os Costeletas e os Bifes, há tanto ansiosamente esperado, poderia ter lugar e já não seria cancelado por causa do mau tempo.
— Bom, às três horas no campo de jogos de S. Luís, mas em ponto! diz Alfredo para Maurício, ao irem juntos para casa no fim das aulas.
Maurício abana acabeça e murmura algo de incompreensível de cada vez que Alfredo dá pontapés nas pedras da rua para ensaiar golos. Tenta acertar num tronco, numa pedra, ou até numa determinada folha de um ramo. Maurício já não suporta esta mania. É que Alfredo tem tudo menos boa pontaria.
As suas brincadeiras com as pedras já tinham causado aborrecimentos que chegassem. Alfredo achava que era precisamente por isso que devia treinar mais. Como se dar pontapés a pedras fosse de uma importância vital!
Ainda Maurício não tinha acabado de pensar e já se ouvia o barulho de vidros partidos: a última pedra de Alfredo tinha voado direitinho à janela da entrada do Sr. Gilberto. Maurício ficou a olhá-la petrificado.
— O melhor agora é fugir! Ouviu Maurício sibilar. E, com um grande salto, o autor da asneira desapareceu a correr pela rua abaixo.
Maurício ainda estava a olhá-lo, confuso, quando sentiu que alguém o agarrava pela gola e o puxava com força. À sua frente, furioso e ofegante, estava o senhor Gilberto.
— Até que enfim que te apanhei, rapazinho! Espera lá, que te vou levar já ao teu pai, e vais ver o que te vai acontecer!
Às três horas em ponto, Alfredo apareceu no Estádio de S. Luís mas, por mais que procurasse Mauricio, não o encontrou.
“Afinal sempre o apanharam”, pensou Alfredo “e, ou assumiu ele a culpa, ou não o deixaram falar. Já é costume. O pai dele, às vezes, é muito severo.”
Alfredo ficou de pé, na tribuna, a olhar para o campo vazio. Combinavam quase sempre encontrar-se uma hora antes, para arranjarem um bom lugar. Mas, de um momento para o outro, Alfredo perdeu o entusiasmo pelo jogo. Pensava no vidro da janela, em Mauricio, e a má consciência atormentava-o. Devagar e de cabeça baixa, abandonou o campo e encaminhou-se, hesitante, para a casa dos pais de Mauricio.
Foi o pai em pessoa que lhe abriu a porta. Irado como estava, nem sequer deixou Alfredo falar, dizendo-lhe asperamente:
— É inútil, rapaz! O Maurício está fechado no quarto, de castigo, a fazer os trabalhos de casa… Ele que te conte tudo na segunda-feira, na escola. Já só faltam dois dias, e voltou para dentro, fechando a porta com força
Alfredo voltou a tocar à campainha insistentemente e, desesperado, acabou por bater à porta com os punhos. Não podia aceitar uma injustiça daquelas. Mas ninguém se mexeu dentro de casa.
Os pensamentos atropelavam-se-lhe na cabeça.
“Muito bem”, pensava ele, “então vou contar-lhe a verdade pelo telefone. E se ele também não me deixa falar pelo telefone?
De repente, Alfredo tem uma ideia e volta a correr para casa. A mãe ainda não tinha regressado do trabalho. Procurou papel de carta e um envelope, escreveu a toda a pressa umas linhas no papel e levou a carta à casa de Maurício, metendo-a na caixa do correio.
Uma meia hora mais tarde, o pai de Maurício, depois de abrir a caixa de correio, abria uma carta, E, admirado, leu:

Caro Sr.Pinto,

Venho, por este meio, provar-lhe que a verdade afinal consegue entrar em sua casa. Fui eu que parti o vidro da janela e vou pagá-lo com a minha próxima semanada.
Espero pela resposta em frente à sua casa.
Com os meus cumprimentos
Alfredo

A resposta que o pai de Maurício mandou a Alfredo pesava quase 40 kg e vinha a rir-se. O pai tinha mandado o filho. Assim que viu o amigo sentado à espera na soleira da porta, disse:
— Alfredo, tu és o maior maluco do mundo! O que tu fizeste… bem, nunca hei-de esquecer.
— Ora, resmungou Alfredo, não fales tanto, senão ainda perdemos também a segunda parte do jogo com os bifes.

AM.-Um Costeleta dos anos 40.

CANTINHO DOS MARAFADOS

Numa casa no Alentejo, diz a mãe para o filho:
- Antóino, anda cá!
- Na vou.
- Á queres tourada, atão vou já chamar o teu pai!

AGabadinho enviou
Rogério colocou.