terça-feira, 9 de julho de 2013

PARA TODOS



Reabrimos com a  intenção de criar uma política de transparência na relação entre Costeletas.
Parece-nos que o nosso desejo está a dar os seus frutos.
Neste propósito gostaríamos de receber os vossos comentários


FÉRIAS



Temos conhecimento que o nosso colaborador Costeleta Roger com a Isabel se encontram no goso de umas merecidas férias nas termas de S. Vicente, a quem desejamos um bom descanso e o regresso ao nosso convívio.

A Redação.

CANTINHO DOS MARAFADOS



Leandro Miquelino



Hoje gostaria de vos falar um pouco do meu amigo, Leandro Miquelino.
Ele também foi costeleta mas nenhum de vocês se deve lembrar dele é muito introvertido, mas tem um humor corrosivo   que  por vezes não é bem aceite e que deixa as pessoas um pouco embaraçadas.
Vou contar-vos um episódio que ele protagonizou há mais ou menos seis anos.
Durante  algum tempo atravessou  uma fase  muito  difícil.  Problemas  de  saúde graves, tiveram como consequência a necessidade de uma intervenção cirúrgica ao coração. Dias antes da operação houve  a  necessidade  de  efectuar alguns exames pela equipe que iria efectuar a cirurgia, eis pois o diálogo com a enfermeira que estava  providenciando tudo.
Enfermeira: - Senhor tire os dentes!
Leandro Miquelino: - Vai ser difícil!
Enfermeira: - O senhor vai  ser entubado e difícil ou não, vai ter que tirar os dentes.
Leandro Miquelino: - Sozinho não vou conseguir.
Enfermeira: - Senhor Leandro!
Leandro Miquelino: - Miquelino!
Enfermeira: - Senhor Miquelino!
Leandro Miquelino: - Leandro Miquelino
Enfermeira: - (oscilando entre o paciente, o divertido e o irritado) Vamos lá senhor Leandro Miquelino eu ajudo o senhor a tirar a prótese.
Leandro Miquelino: - Que conversa mais sem sentido, quem disse à senhora que eu uso  prótese?

Este meu amigo é assim, mesmo nos momentos difíceis, continua mantendo algum humor.


António Viegas R. Palmeiro


DOIS DEDOS REAPARECIDOS



DOIS DEDOS DE PROSA (*)
Por Norberto Cunha

“COSTELETAS” e “BIFES” —  I (As Alcunhas)
                                                                                                                                                         
Que exista alguém contemporâneo do aparecimento daqueles epítetos colectivos, é muito pouco provável. Mas que durante décadas eles serviram de referente e de auto-referência aos alunos do ensino técnico (“Costeletas“) e do liceal (“Bifes”), é uma memória conservada e acarinhada pelos sobrevivos de várias gerações que as assumiram. 
Extravasando dos círculos estudantis, essas designações popularizaram-se e ainda hoje também delas se lembra uma parte da população de Faro. Do porquê, do como e quando das mesmas, não há, que saibamos, registo escrito, mas pode presumir-se que terão surgido nos finais dos anos trinta do século XX. Rogério Coelho, que em 1942 ingressou na Escola Tomás Cabreira, recorda que, à data, já o seu uso era rotineiro e sobejamente conhecido. E acrescenta que, por essa altura, constava que o involuntário autor de tais alcunhas tinha sido um indeterminado aluno da referida escola, no tempo em que um puritano docente liceal reprovava os namoros entre estudantes do respectivo estabelecimento, punindo por isso os infractores. Então, pressupondo pôr-se assim a salvo do castigo, a rapaziada do liceu começou a fazer a agulha para as raparigas da escola, invadindo o costumeiro “território de caça” dos moços da “Tomás Cabreira”. E contra isto se insurgiu o “anónimo” aluno, considerando uma afronta “que estes gajos ricos do liceu que têm dinheiro para comer bifes venham roubar as moças dos pobres que apenas têm dinheiro para comer costeletas”.                                                                                                                          
 Na realidade, ciosas das suas prerrogativas, interesses e pergaminhos, as famílias ricas não aceitavam dar aos seus filhos outra escolaridade que não fosse a do liceu, por onde passavam os futuros doutores, engenheiros e arquitectos. Mas se filho de rico não ingressava numa escola técnica, também para os menos ricos, mas abastados, tal estava fora de questão: colidia com o prestígio (real, suposto, ou ambicionado) da família e a auto-estima dos seus jovens.                                                                                                              
No entanto, e como não poderia deixar de ser, nem a esmagadora maioria dos alunos liceais provinha desse meio, nem a maior parte dos que ingressavam no ensino técnico era oriunda de lares pobres. De facto, uns e outros, juntos, somavam a minoria de jovens que, nessa época e até à instauração da democracia, tinha a possibilidade (e a felicidade) de ingressar no ensino secundário. Tratava-se, duma minoria que, salvo poucas excepções, se enquadrava no estrato social então vulgarmente rotulado de “remediado”.
Por certo, foi para enfatizar o seu protesto, que o “proto-costeleta” estremou a situação económica dos dois grupos, classificando-os, de modo redutor e hiperbólico, de ricos e pobres. Se por aí se tivesse ficado,  tal desabafo  cairia no esquecimento e hoje talvez não houvesse histórias de “costeletas” e “bifes” para recordar e contar. Porém, foi feliz na espontânea e sintética alusão que fez aos hábitos alimentares das partes, porque desse modo traçava uma mais intuitiva e ajustada linha divisória entre dois conjuntos economicamente próximos, mas sócio-culturalmente diversos. Com aquelas imagens do concreto, mas plenas de valor simbólico, evocava de imediato as condições de vida, e as visões do mundo, ideias e projectos delas emergentes, e que faziam a diferenciação mais efectiva entre um grupo e o outro.
Todavia, nem o “proto-costeleta”, nem os seus ouvintes, terão sequer imaginado que um dito ocasional, a propósito duma disputa de circunstância, viria a ecoar noutros confrontos pacíficos que, durante décadas, os dois grupos de estudantes travariam entre si. Mas, pela economia verbal que representavam e pela sua riqueza expressiva no contexto, as designações do consumido (costeletas, bifes) logo passaram a servir de referência aos seus putativos consumidores preferenciais, ocorrência que ambos os lados assimilaram pacificamente, generalizando, sem peias, o uso das alcunhas, não obstando o facto de, por vezes, serem expressas em tom depreciativo por uma parte em relação à outra.
Muito menos poderia ter passado pela cabeça do “proto-costeleta” e seus epígonos, que a assumpção desses epítetos viesse a contribuir para uma compreensão mais profunda e bilateral, daquilo que “bifes” e “costeletas” tinham em comum e de diferente.
 Disto se dará conta em artigo próximo.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          
(*) Publicado no Jornal “O OLHANENSE”  01/12/11