sábado, 4 de maio de 2019


A VIAGEM PROMETE - 4º

   Quarto e último episódio desta mini saga que teve como protagonista o fim-de-semana. Bem, na realidade, a verdadeira estrela foi o Peugeot 308!
   Pois é. A minha teoria da conspiração confirma-se. Hoje de manhã, para despistar qualquer suspeita que o meu Huawei pudesse estar hackeado, quem acedeu à Uber foi aquela pessoa que quase me abateu à paulada no sábado de manhã - a minha querida mana mai nova - e guess what: vinha a caminho um Peugeot 308. Fiquei tão intrigada que não me recordo se tinha barbas ou não. Apenas sei que estava entorpecido, não sei se pelo calor se pelo facto de ser segunda feira de manhã. Whatever... Ainda bem que saí com tempo e assim não perdi o comboio.
   Carruagem 21. Lugar 84. Lá vou eu de costas para o destino. Sinceramente, adoro a possibilidade de poder comprar o bilhete no MB, mas calha-me sempre a fava de ir contra a maré. Será isto uma espécie de castigo para quem não vai à bilheteira ou não se dispõe a queimar o cartão de crédito com estas ninharias? Um dia hei-de descobrir.
   Estão quase todos os lugares ocupados. Olho à volta e a estrangeira ali sou eu. Sim, estrangeira no meu país, pois não há um único rosto que pareça falar português - pelo menos o português que eu conheço.
   Acho que vou arriscar a dormitar um pouco. Dada a hora e o ar civilizado das pessoas à minha volta não me parece correr o risco de vir a acordar com a música do saco de plástico. Música do saco de plástico? Pois... E não, não tem isto nada a ver com a recente guerra ao saco de plástico. Passo a explicar este fenómeno musical: pela hora do pequeno-almoço, há toda uma incontornável sinfonia de sandes, sumos, pacotes de batatas fritas, bolicaos e bolachas aos quais para se ter acesso é necessário que sejam retirados das suas embalagens, invariavelmente de plástico. Como se isto não bastasse, há pessoas que ainda os enfiam dentro de outros sacos de plástico. Parece um jogo de matrios-kas!    
   Fechem os olhos e tentem imaginar o barulho. Agora multipliquem por uma carruagem. Qual orquestra de metais, de cordas ou de sopro dirigida por uma fanfarra.
   Durmo. Acordo na estação da Funcheira. Mas quem é que diabo usa uma estação perdida no meio de nenhures? Pelos vistos mais uns nacionais de outro país que não Portugal. Barbudos. Talvez as barbas que faltaram ao meu Peugeot 308 de hoje de manhã.
   De repente reparo num pequeno cartaz colado no topo da carruagem. Diz respeito ao NOS ALIVE deste ano e a uma promoção fantástica de bilhete integrado (entrada + viagem). Hummm, parece-me interessante. Espera! Só contempla a zona norte e a zona centro. WTF? Primeiro fico intrigada. Passo por uns segundos de revolta. É só depois compreendo o cerne da questão. O festival acontece em Julho e por essa altura, ali pelo meu Sul, está tudo com o rabo de molho na praia ou a dar o litro no emprego sazonal. Sem comentários! Só não vou destilar veneno, quer dizer, indignação, para as redes sociais da CP porque a pobre da equipa de Social Media que está atrás com computador não tem culpa nenhuma.
   Para finalizar a viagem vou agarrar-me ao João Tordo que, pobre coitado, está abandonado à sua sorte, dentro da minha mochila. Até já, Faro!


   Margarida Vargues
   (ver foto na galeria à direita)