Este
mês de Maio comporta sempre duas efemérides que são festivamente
assinaladas segundo a tradição popular. Referimo-nos ao «Dia de Maio», com
que abre este calendário gregoriano, mas com celebrações que remontam à Antiguidade
ou, na evocação já nestes nossos tempos, das lutas das classes
trabalhadoras em busca de uma maior justiça social. No 1 ° de Maio temos a par das
celebrações vindas do próprio povo e mantidas durante séculos, casos dos
Maios ou Maias ( engenhosos bonecos colocados em varandas, açoteias,
passeios ou outros locais públicos, retratando cenas da vida quotidiana ou
réplicas das azáfamas e casos em relevância ou essa tradição. Hoje quase
esquecida, que era o «atacar o Maio», Consistia em aos instantes iniciais
de um novo dia se beber com os figos e amêndoas torradas ou os bolos
caseiros, casos dos suspiros, um cálice de aguardente de medronho ou figo
ou de vinho doce, para afastar as doenças e os «espíritos malignos. Minha saudosa
avó materna, que nascera nos Machados (São Brás de Alportel), onde hoje
está essa referência da gastronomia algarvia, que é a «Adega do Nunes» ( o
tio Manel Nunes, que dá nome ao restaurante era seu irmão direto),
acordava-nos aos primeiros alvores do Sol, para com uma bandeja coberta por
um alvo pano, nos fazer «atacar o Maio». Depois, à tarde,
era irmos ao campo, como então se dizia em relação a todo o espaço, que não
fosse Faro urbano, para se comerem os caracóis e as nêsperas; a
que-muitas-vezes se juntava-essa delicia do «roteiro gastronómico
da Ria Formosa», que era a «vila de ameijoas». Em «Dia da Espiga»,
liturgicamente «Quinta Feira da Ascensão», em que, quarenta dias após a
Páscoa, se recorda a subida de Jesus aos Céus, exatamente amanhã, 30 de
Maio, ia-se apanhar a espiga, constituída por hastes de trigo, papoilas,
romãzeiras e outras espécies vegetais indígenas simbolizando a fertilidade
da terra. A mesma era colocada por detrás da porta da casa, muitas vezes ao
lado de uma ferradura usada, com o propósito de «dar sorte». Na ida ao
campo comiase, bebia-se, dançava-se e passava-se uma tarde alegre e
divertida. As estradas e caminhos eram mares de gente, verdadeiras
procissões de e para o meio rural, onde, em plena natureza, se celebrava
esta Quinta Feira da Ascensão ou «Dia da Espiga». Tradições em que nós os
«costeletas» as vivíamos intensamente e forte participação. Todos nos
recordamos das idas ao Rio Seco, aos bailes da Cooperativa, hoje uma
agremiação recreativa e cultural, na estrada para Pechão ou no «Salão
Nobre», do Chico Rosa, na E.N. 125 e onde hoje funciona um comércio de
produtos agrícolas. E os tais ataques ao «caracol amarelo» (nêsperas)?
Tempos idos, recordações ....
João Leal
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