
UMA AVENTURA NO DESCONHECIDO
Conta-se que, uma poetisa, de nome Maria, costumava frequentar tertúlias, que se realizavam em lugares públicos, vários dias, na semana ... Dizia ela, que tinha interesse em conhecer o vasto mundo da Literatura Portuguesa e a possibilidade de saber algo sobre a Estrangeira.
Foi numa dessas reuniões que Maria teve conhecimento de um Concurso Literário, em homenagem ao prestigiado Médico, Jomalista, Escritor e Poeta, Transmontano, Homem multifacetado de grande talento, João Araújo Correia.
O tema era aliciante - A Língua Portuguesa -. Maria ficara entusiasmada e, logo, pensou em concorrer. A inspiração surgia e o poema nascia. Depois de cumpridos os requisitos obrigatórios, enviou-o imediatamente, pois, o prazo estava mesmo a terminar.
Decorriam meses, sem nada se saber do resultado. Tudo levava a crer qu~ ela não tivesse sido distinguida, por isso, deixou de pensar no assunto.
Certo dia, recebeu uma carta da Directora do Concurso, em que lhe dizia ter sido premiada e que contava com ela na cerimónia de entrega de prémios aos poetas distinguidos.
Quando Maria recebeu esta agradável notícia, a sua primeira reacção foi de muita alegria, não cabia em si de contente. Mas, passados alguns dias esmorecera, por pensar que a viagem era longa e não iria aguentar tantas horas, até chegar ao Peso da Régua. Telefonou à senhora Directora para lhe pedir desculpas por não sentir coragem em se deslocar até lá. A senhora respondeu que não aceitava a justificação pois já tinha reservado um quarto de casal, no Hotel Régua Douro e que deveria ir para conhecer aquela linda Região.
Assim aconteceu. Maria e Carlos, seu marido, concordaram em fazer a viagem. No dia da partida, levantaram-se muito cedo, pois o primeiro comboio saía de Faro às 7:00 horas. Mas, com receio de chegarem atrasados, chamaram um táxi. Coisa estranha, não havia nenhum disponível Aflitos, pegaram na bagagem e a pé, lá foram a toda a pressa. No caminho, encontraram um amigo, que tinha o carro ali por perto e os levou imediatamente à estação. Logo, a seguir, ouviu-se o sinal de partida ... A viagem, até ao Barreira, foi animada. Junto deles, iam umas pessoas que contavam as mais diversas estórias ...
Quando chegaram à estação fluvial do Barreira, correram para apanhar o barco, que atravessava o rio Tejo e os levaria à estação do Terreiro do Paço - Lisboa. Dali, seguiriam num táxi, para Santa Apolónia. O Pendular, comboio de alta velocidade, só partiria às 14,00 horas, por isso, tinham tempo de almoçar num restaurante, próximo da estação ...
Já em viagem, no comboio que os levaria à cidade do Porto, iam apreciando, através das enormes janelas, a belíssima paisagem. Lá estava o poético Mondego, Coimbra à vista e, por aí fora. Chegaram à tardinha, à estação de São Bento. O sol, ainda iluminava a terra. Desceram do Pendular e foram consultar o quadro electrónico, que indicava o comboio que os levaria a Peso da Régua. Subiram uma escadaria e, na parte de cima, viram uma locomotiva, com muitas carruagens, estacionada numa linha, bem juntinha à margem direita do Douro. Aí, o sol reflectia nas suas águas, dando a impressão de que a luz solar, vinha de baixo, para cima. Que panorama invulgar!..
O comboio estava, completamente vazio. Repentinamente, como, num abrir e fechar de olhos, a gare apinhava de gente. A dada altura, Maria perguntava a um funcionário donde vinha, tantos grupos de jovens. Ele respondera que, a maior parte, eram estudantes, que frequentavam as Faculdades na cidade do Porto e, como era sexta--feira, iam passar o fim-de-semana com os familiares
De repente, ouve-se o silvo e toda a gente tomou os seus lugares.
O mal-encarado comboio parava em todos os apeadeiros, sempre "a passo de boi", como se costuma dizer. Os bancos eram muito antigos, em madeira e já não havia posição para aliviar o corpo. Foram mais de duas horas, naquele martírio ...
A viagem, graças a Deus, estava a chegar ao fim. Maria pedira a uma jovem que estava a seu lado que a informasse como conseguiria um táxi, para os levar ao Hotel Régua Douro. A rapariga disse-lhe que não era preciso, bastava atravessar a rua que ficava à saída da primeira estação e logo avistariam o letreiro luminoso do hotel.
Seguindo aquelas instruções, apresentaram-se na recepção e informaram o funcionário, que tinham um quarto reservado pela Sra. Doutora Maria Fernandes.
Tudo estava certo. Em seguida, Maria telefonou à senhora para lhe agradecer e dizer que tinham chegado bem. Ela pediu-lhes desculpa, por não poder estar à espera deles, dada a hora já tardia mas, logo de manhã, estaria no hotel para os conhecer, cumprimentar e trocarem algumas palavras. E assim aconteceu. No outro dia, bem cedo, ainda o casal não tinha ido tomar o pequeno almoço, por ter estado a contemplar, da janela do quarto, o Douro e o Sol a beijar, com certa doçura, as suas águas, quando ouviram o telefone. Era da recepção a avisá-los que a Doutora e sua irmã estavam esperando por eles. Logo desceram para receber as simpáticas senhoras. Elas tinham-lhes preparado uma grande surpresa. Contrataram um taxista para os levar a conhecer Lamego e ver a Nossa Senhora dos Remédios, no seu trono. E a enorme escadaria de acesso, rodeada de bonita vegetação. De regresso à Régua, avistaram São Martinho da Anta, terra natal do ilustre poeta Miguel Torga. Presenciaram, a cada passo. vinhas bem cuidadas e o Douro a circundar todo o percurso.
Chegaram ao hotel a hora de ser servido o almoço.
Lá estavam junto à recepção os poetas e muitos convidados. Todos se cumprimentavam e se apresentavam uns aos outros. Dali, foram encaminhados para a grande sala de refeições, com vista para o Rio Douro. O cenário era deslumbrante, dava a impressão de algo irreal, só visto em sonho. Um verdadeiro paraíso.
O almoço foi servido, com pompa e circunstância. Havia em cada mesa um grupo de poetas e, uma representante da Associação Cultural da Casa do Alto Douro. A ementa, como não podia deixar de ser, foi inspirada na gastronomia transmontana. À sobremesa foram servidos os doces e o vinho do Porto, da Região demarcada da Régua, não foi esquecido. Por fim, a Directora do concurso, dirigiu palavras de apreço a todos os presentes e lembrou que se aproximava a hora de se dirigirem para a Câmara Municipal, onde iria decorrer a cerimónia da entrega de prémios e lidos os textos distinguidos. As principais individualidades da cidade estavam presentes. Voltando a falar dos premiados, Maria recebera das mãos da senhora Directora do Concurso, Doutora Maria Adelaide Fernandes, a Obra Literária de João Araújo Correia, uma travessa em porcelana, pintada á mão, o respectivo diploma e uma embalagem de três garrafas de vinho do Porto reserva. Por fim, foi servido um Porto de honra a todos os presentes. A tarde declinava e o casal que tinha pensado em regressar ao Algarve só no outro dia, mudava de ideia quando, um poeta amigo, Engenheiro Domingos Cardoso, que vive em Ílhavo, lhes ofereceu boleia até Aveiro. A Directora tinha-os convidado a ficar, para conhecerem as quintinhas, onde se faziam bons churrascos. Eles agradeceram muito toda a simpatia daquela especial senhora, dizendo que se Deus quisesse, ficaria para uma outra ocasião. Depois despediram-se com um grande abraço.
Chegados à estação de Aveiro, o casal ficou encantado ao ver os belíssimos azulejos, em tons de azul, formando painéis, com motivos diversos, da Região de Aveiro ...
A viagem de comboio, até Santa Apolónia, foi muito cansativa. Ao descerem na estação dirigiram-se a um taxista e pediram para que os levasse a um hotel ou mesmo, a uma residencial, com condições dignas, para pernoitarem. Mas, infelizmente, dada a hora bastante adiantada, ninguém abria as portas, nem sequer atendiam. Agora onde iriam passar o resto da noite, no meio daquele mal-estar? Pediram ao taxista que os deixasse perto da Rua Augusta. E, a pé, encaminhavam-se para a estação do Terreiro do Paço, Àquela hora, as cenas encontradas eram bem tristes! Mulheres encostadas às paredes e homens a rondá-las ... Depois, é que eles se aperceberam dos perigos, em que poderiam ter sido envolvidos.
Ao chegarem á estação fluvial, ouviram o apito do último barco que ia para o Barreiro.
Numa corrida, ainda conseguiram alcançá-lo. Já na estação, perguntaram onde poderiam dormir, se haveria algo por ali. O chefe da estação disse-lhes que àquela hora, não havia qualquer hipótese mas, para que não ficassem ao relento, pois a noite estava muito fria, aconselhara-os a ficarem na sala de espera, com a porta fechada e, de manhã, havia logo um comboio para Faro ás 7:00 horas.
O casal agradeceu a bondade daquele homem. Mas, outro episódio estava iminente. Como foi dito, a noite estava muito fria, porque estávamos em Fevereiro. Os bancos eram de latão, e sem condições nenhumas, e eles tentavam encontrar, mesmo às escuras, camisolas ou outro vestuário para se agasalharem mas, por pouca sorte, encalharam numa caixa onde vinham as garrafas de vinho do Porto, uma delas tombou e partiu-se. O vinho espalhou-se pelo chão e já ia a correr junto à porta da rua, mas, com uma camisola, ensoparam todo o líquido. Depois meteram tudo dentro de um saco de plástico. Borrifaram o chão com algumas gotas de água-de colónia, para disfarçar o cheiro do vinho. A manhã começava a raiar e o movimento nas linhas-férreas, era uma constante. Abriram a porta e foram á procura dos sanitários. O único que existia estava fechado. Dirigiram-se então. a um bar, dentro da própria estação pois, não tinham outra alternativa e logo, aproveitaram a tomar o pequeno almoço. entretanto, chegava a hora do embarque. O comboio estava na primeira linha. Através do altifalante, anunciavam a partida para o Algarve. Agora, sim, diziam eles, já mais tranquilos. A odisseia estava prestes a terminar, mas o regresso a Faro parecia não ter fim! Chegados a casa. Tomaram um duche e atiraram-se para cima da cama e só acordaram no outro dia, tal era o cansaço.
Passaram alguns anos, nunca mais voltaram à Régua, mas o contacto com a Dra. Maria Adelaide Fernandes continuou por carta ou por telefone.
Apesar da grande aventura no desconhecido, dizem eles, ter saudades de tudo por que passaram, ao longo da grande viagem... Do Algarve ao Peso da Régua
UM POEMA da Maria Romana:
MAGIA DO POETA
O mundo do poeta tem magia
E há nele uma candeia sempre acesa;
A chama bem ardente, que alumia,
É arte rendilhada de beleza!
Ele é por excelência uma alvorada
- A dádiva tamanha, tão suprema –
É essa luz suave, delicada,
Que exprime o colorido de um poema
Poeta é, sim, aquele que imagina
Um cenário distinto, uma pintura;
A força da mensagem predomina
E a música de fundo se mistura!
Há nele um santuário a palpitar
- A excelsa inspiração por natureza! –
Qual astro especial a cintilar
Ele é a própria Musa, ele é grandeza!
Maria Romana Rosa
Recebido por Rogério Coelho
2008.09.23
ResponderEliminarCARA MARIA ROMANA.
Viva.
Tenho ouvido falar muito de si e sempre bem. Lamentavelmente não a conheço mas isso vai acontecer um dia, seguramente.
Li o seu conto e o seu soneto e gostei. A sua prosa é segura e leva-nos atrás. A sua poesia é fresca e de palavras bonitas.
Ambas as peças são de muito boa qualidade e não sei se estou a dirigir-me à prosadora se à poetisa.
Os costeletas têm motivos para sorrir e a senhora também, porque tem muito talento.
Escreva sempre.
Os meus parabéns por seus excelentes trabalhos que o Mano ROGER aquí publicou.
E aceite os meus melhores cumprimentos.
João Brito Sousa