sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A CASA DAS FERRAMENTAS.

Por João Brito Sousa

Quando ele me atendeu o telefone, perguntei-lhe, então, o que estás a fazer? Olha, estou a arrumar as ferramentas, devias de ver como isto está, são ferramentas por todos os lados, parece a casa do escritor Baptista Bastos, que diz ter livros na casa de banho e até debaixo da cama, li isso uma vez numa entrevista.
- Estranho o facto de estares ligado às ferramentas e simultaneamente à literatura. Impressiona-me porque sempre pensei que os homens da "ferrugem" não se davam bem com os livros.
- Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Ainda ontem estive numa livraria e estava lá o livro do António Feio, o actor recentemente falecido, e de lá retirei a seguinte fase: digam tudo o gostariam de dizer e façam tudo o que gostariam de fazer. Vê a dimensão disto. Li ainda a entrevista que o António Lobo Antunes deu ao Ricardo Araújo e li no Financial Times, porque razão a China, que é um País pobre. comprou a dívida externa portuguesa. Como vês essa questão não se põe e além disso, tenho, quando posso, a minha tertúlia onde convivo com os meus amigos, amanhã vamos almoçar â Figueira da Foz com a malta da Escola Náutica e depois já temos um almoço marcado no Cabrinha com o Peter & Cª e depois ainda tenho as ferramentas... para arrumar.
- Precisavas de viver dez dias num só, disse eu.
- E não sei se chegava, disse ele. Só as ferramentas são um mundo, mas é preciso gostar-se. Vê bem, eu tenho ali um serrote e ao olhar para ele começo a imaginar a série de coisas que eu posso fazer com ele. Cada ferramenta tem a sua função e quem trabalha com elas ganha-lhes afeição e cria-se uma relação de amizade muito grande entre elas e quem as utiliza. Digamos que existe entre ambos, utilizador e utilizado, uma relação de harmonia e fidelidade.
- A escrita, onde apareceste em grande agora, como vai ? perguntei.
- Vou fazer um texto sobre figo cheio para o blogue, disse ele.
-E o que é que vais dizer, perguntei.
- Vais ler, disse ele.
-Ok, fico à espera, disse eu.
E despedimo-nos.com um abraço.

Jbritosousa@sapo.pt

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