segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O VELHO E A GAIVOTA (cont)
Por João Brito Sousa

III


Hoje é sexta feira.
Durante a semana não pensei muito no assunto. Voltei à biblioteca e esperei todos os dias pelo meu amigo da Repartição de Finanças, quenunca mais veio. Poderá ainda vir um dia. Ou morreu, sabe-se lá. Mas
morrer não é problema, o velho e todos nós sabemos disso. Ou poderáser, porque poderia ter morrido alguém muito próximo, familiarmente falando. Pode ser uma pista, sei lá, deveria anotar mais esta hipótese.
Entretanto encontrei outras pessoas com quem conversei sobre os maisdiversos assuntos. As que estão nesta situação, estão livres da suaactividade profissional e disponibilizam-se para outras coisas e estão mais abertas. Mas não são de conversar muito. Há algum receio nas
relações sociais e o mundo está cheio de problemas. Muitos problemas, quer seja no âmbito familiar quer seja no campo laboral. O mundo são problemas e mais problemas, apesar de ter havido tantas revoluções, mas que tal não conduziram à resolução dos mesmos.
E eu tenho entre mãos a tentativa de resolução de um grande problema. Que é maior ainda porque estou a leste do paraíso. Não sei nada denada. Era bom que o Dr. Guedes fosse hoje à biblioteca. Era capaz delhe colocar o problema porque ele tem boa memória. E a memória ajuda aconstruir uma boa base lógica. Mas se o Guedes vai, não tenho nadapreparado para lhe dizer. O Guedes parece que simpatizou comigo.
Cheguei á biblioteca absorvido neste assunto, para o qual não me parecia ter qualquer inclinação. É elementar meu caro Watson, lembrei-me de que tinha lido isto algures.
Foi nesta altura que ouvi chamar pelo meu nome. Olhei para trás e vi o Dr. Guedes a acenar-me.
- Ismael, espere por mim, gritou o Guedes.
- Levantei-lhe o polegar como que a dizer que sim, enquanto me deslocava ao seu encontro.
- Desculpe-me, não tenho podido vir, disse o Guedes.
- E eu que tenho estado à sua espera, disse-lhe. Mas porque não veio?
- Sabe lá, fui ao jardim e encontrei lá um velho com um grande problema, mas não sei o que é. Meti-me nisto, quer dizer, apaixonei-mepor este labirinto ou o que quer que seja, fiado na minha boa memória, mas não vejo saída. Gostava de contar consigo para explorar o assunto,
porque eu sozinho não tenho pedalada, já vi.
- Mas um momento, onde fica esse jardim, é aqui na cidade, como sechama isso, perguntei eu.
- Fica ao cimo da rua Damião de Góis, o Ismael conhece, claro.
- Conheço claro, é o jardim da tropa, é assim que chamam a esse local.
- Sim por causa dos militares que vão para lá, disse o Guedes.
- Ouça uma coisa Dr., o velho estava sozinho.
- Estava a olhar par uma gaivota.
- E como foi isso, o encontro?
- Ele estava sozinho sentado no banco do jardim. Eu queria pedir-lhe licença para me sentar, pois não havia mais lugares disponíveis.
Cheguei e disse-lhe boa tarde.
- E ele… respondeu logo?
- Não, respondeu um pouco depois.
. Dr. vamos sentar-nos na biblioteca, quero falar com o senhor.
- Ok. Vamos. Diga, disse o Guedes já sentado.


jbritosousa@sapo.pt

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