Transcrevemos do Livro, da escritora Lina Vedes, cujo título colocamos em roda~pé
Histórias dos anos 40 contadas na 1ª pessoa.
Também fizeram história, no mesmo sitio, os retratistas “à la minuta”, com o tripé que suportava uma caixa, com um pano preto a tapar a parte posterior evitando a entrada da luz, e a objectiva, na dianteira.
Histórias dos anos 40 contadas na 1ª pessoa.
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Ainda há poucos anos, à volta do coreto, homens de outros tempos, engraxadores e retratistas “á la minuta”, desenvolviam as suas actividades.
Ainda há poucos anos, à volta do coreto, homens de outros tempos, engraxadores e retratistas “á la minuta”, desenvolviam as suas actividades.
Recordo com saudade os engraxadores, à volta do coreto, disputando entre
si os fregueses, com a sua caixa da graxa, de madeira, abrindo lateralmente,
com o pé alto, contendo as tintas, as pomadas, as escovas, os panos de dar
lustro, as talas para protegerem as peúgas dos clientes.
Trabalho modesto, independente, de pouca aplicação de capital e que
permitia um bom contacto com o público.
Lembro-me do “Marrequinho” com a sua corcunda e permanente má
disposição, do ”Cow-boy” amantíssimo da “pinga”, do “Mestre Zé Cuco” que punha
tanto empenho no trabalho que comparava o brilho dos sapatos por ele engraxados
com o dos espelhos da Casa Nobre e que estabeleceu o seu horário de trabalho
cumprindo-o tão rigorosamente que deixava o freguês com um sapato por engraxar
ao bater do meio-dia, dizendo:
-Volte às duas horas.
No local operavam ainda, na nobre missão do brilho do sapato, o “Zé
Fitas”, a “27” ,
o “Pinau”, o “Menino António”, o “Velhote Macário”, o “Ti Macoi”, a “Gastaldo”,
o “Maçarico”, o ‘Rato”, o “Américo”, o “Alvor”...
Cada engraxadela custava uma coroa (5 tostões, 50 centavos), o mesmo
preço do café e do jornal e os Sábados e Domingos eram dias de trabalho
intenso.
Todos eles tinham orgulho na sua profissão, engraxando meio mundo, submissos mas vaidosos dos clientes ilustres que continuavam com eles ao longo de gerações.
Todos eles tinham orgulho na sua profissão, engraxando meio mundo, submissos mas vaidosos dos clientes ilustres que continuavam com eles ao longo de gerações.
Os sapatos ficavam a luzir e se alguma mancha, impertinente, permanecia
estragando o seu brio profissional, uma boa “cuspidela” seguida de uma fricção,
dada com “genica”, à custa de esforço, punha o sapato num brinquinho, o cliente
satisfeito e ele, engraxador, vaidoso da obra desempenhada.
Também fizeram história, no mesmo sitio, os retratistas “à la minuta”, com o tripé que suportava uma caixa, com um pano preto a tapar a parte posterior evitando a entrada da luz, e a objectiva, na dianteira.
Era uma caixa mágica que nos reproduzia as caras!
O fotógrafo/artista metia a cabeça no pano preto, espreitava, corrigia a
nossa posição, espreitava de novo, pegava num interruptor, retirava a cabeça e,
olhando para nós, recomendava:
- Não se mexa! Atenção!… OLHA O PASSARINHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Tirada a fotografia, colocava a cartolina branca com as pessoas brancas
de cor preta, “de pernas para o ar”, em frente da câmara, voltando a dar o
“clik” com o interruptor.
Mergulhava a foto numa pequena tina contendo um líquido, durante algum
tempo. Retirava-a, olhava para verificar se estava perfeita e estendia-a numa
corda, presa com uma mola de roupa.
Os últimos retratistas que me recordo, os irmãos Seita, tinham um cavalo
de madeira e/ou papelão, para alindarem as fotografias infantis, montando a
criançada ou colocando-os de pé junto do brinquedo.
A caixa/máquina/fotográfica era decorada, lateralmente, com retratos já
realizados, que serviam de modelo e prova de eficiência.
Tudo era feito no momento, do positivo a fazer negativo, com arte, saber
e desejo de bem servir.
Tratando da sua história de vida os carroceiros e os moços de fretes
permaneciam ali nas redondezas, aguardando trabalho.
Os moços de fretes autorizados, cirandando no Largo das camionetas, no
café Coelho e no Madeira, tinham um boné com uma chapa numerada na copa e
alguns, uma carreta para carregarem as malas dos imensos caixeiros-viajantes
que chegavam a Faro com muita frequência,
Os ganhos eram fracos e o facto levava-os a perseguirem os passageiros
para que lhes entregassem as bagagens. Assisti, uma vez, a um moço ser levado
para a esquadra por um polícia, por ter assustado uma senhora ao querer levar-lhe,
à força, uma pequena sacola.
Ainda recordo muitos desses moços de fretes, o “Pirilau”, o “Má-língua”,
o “Macaco”, o “Rato-chino”, o “Menino Chico”.
Vejo, ainda, o Menino Chico correndo pela rua a transbordar de
felicidade porque, finalmente, lhe tinham atribuído o boné de trabalho!
Lembro-me de um, que morreu novo, que
assobiava magistralmente, deleitando-nos nas noites de Verão, quando toda a rua
convivia à porta das casas.
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IN FARO retratos “à la minuta” – LINA
VEDES
Nota: Pesquisa de Roger publicada com autorização da autora.
Nota: Pesquisa de Roger publicada com autorização da autora.
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