Estamos no centro de
Faro, junto da doca. O casal encontra-se junto do Centro Naval e caminha
pela ponte de embarque na direcção do barco que se encontra encostado e
pronto para navegar. São 6 horas. O Sol ainda não "nasceu". Ela embarca
e senta-se no banco da frente voltada para a proa. Ele desamarra o barco e
senta-se no banco do centro de costas para ela. Pega nos remos e põe o
barco em movimento. As pás movimentam-se com subtileza num movimento
rotativo e penetrante na água calma da Ria Formosa.
Passa sob a ponte do
comboio e segue embalado pelos remos pelo canal na Direcção das quatro águas
onde, neste momento, se encontra fundeado o navio de fiscalização a
'Bicuda".
Á esquerda, lado nascente, o Sol dá os primeiros
passos mostrando os primeiros raios luminosos num céu cristalino de azul
celeste maravilhoso. Está um dia calmo e o mar, como se diz em meteorologia
marítima, "mar chão".
O barco continua o seu
rumo embalado pelo esforço conjunto das mãos do homem nos remos. Cruza com
a Bicuda, onde um marinheiro, na amurada, acena com a mão. Ela, com um
sorriso aberto corresponde.
O barco aproxima-se do
Ramalhete. Bem à vista e á direita da
praia do Ramalhete o casarão e a pirâmide, branquinha, de sal. E o barco
vai navegando com extrema suavidade. Os remos saboreiam a água. E esta
tolerante recebe o suave peso dos remos . O homem acaricia os remos, em
círculos que se encerram na palma das suas mãos. Sente a boca seca e chama
em seu auxílio a saliva enquanto suspende o esforço de remar. Durante um
certo tempo sente o desejo de persistir no descanso de remar. Olha para a direita
e observa as casas de pescadores junto da praia do Ramalhete. A mulher
volta-se e olha-o admirada pelo silêncio dos remos com interrogação no
olhar. Ele sente os braços cansados, levanta - se, abre a torneira do
depósito, puxa o cordel do motor, senta-se voltado na direcção da proa e
orienta o barco na Direcção da praia de Faro (Praia do Ancão), em velocidade
moderada. A mulher jovem não diz nada. Emudeceu interiormente. O Ramalhete
fica para trás.
Uma gaivota paira
esvoaçando por cima do barco e pousa na proa olhando para a mulher que, com
um admirado sorriso aberto, fixa o pássaro. Este, como resposta ao olhar
fixo da mulher, lança um grasnido fazendo vibrar o ar, como sinal de
revolta de intromissão no seu habitat. E lança-se em voo vertical. Paira,
aponta o bico, olha lá do alto, sobrevoa o barco e voa na direcção das casas
da Praia de Faro. O homem que abrandara o andamento da barca, com um
sorriso acelera na direcção da praia.
Como não estamos na
época termal o movimento de pessoas e embarcações é quase nulo durante a
semana, aumentando aos fins de semana, com os passeantes e turistas.
Neste momento sente-se
mudança no tempo. O cristalino céu azul transformara-se em compactas nuvens
cinzentas. Repentinamente a força do vento aumentou. A ondulação bamboleia
o barco que sobe e desce, sem arbítrio, pelas cristas e vales das ondas na
Ria Formosa. O homem consulta a mulher que aceita o retorno e faz com que
dê a volta ao barco para
regressar à
doca. De vez em quando, uma
onda levanta o barco e deixa-a num momento suspenso, caindo e produzindo um
forte ruído, enquanto o motor na água desloca constantemente o centro da
gravidade. Água e fibra do barco unem-se na desordem agredida. A mulher
agarra com força as bordas do barco para suster o desequilíbrio.
O barco e a água
cansam-se desta brutal luta, mas o homem consegue sair vitorioso e chegar á doca, onde o temporal não é tão ríspido.
Enquanto a mulher sente que desembarcou no paraíso ...
Uma Tapa do Roger
Focando os anos 50.
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