Na morte de um escritor farense
OPINIÃO | JOÃO LEAL
É inevitável mas custa
sempre. A notícia da morte do escritor natural da farense freguesia de São
Pedro, Dr. José de Matos Guita, “moço do meu tempo” foi daquelas que, nos
últimos tempos, nos deixou tristes e afetados com este final da humana vida.
Membro de uma das mais respeitadas e tradicionais famílias da capital sulina,
este professor e escritor amava com toso o afã sua terra natal e a ela lhe
dedicava um querer bem concretizado nas agradáveis conversas que periodicamente
eram proporcionadas nas esplanadas dos cafés da nossa “calle mayor”, a Rua de
Santo António, quando aqui voltava nas suas “romagens de saudade”.
O Dr. José de Matos Guita,
a que nos uniam laços vários e à famílias de ambos, neto que era da sempre
saudosamente querida “Comadre Guita”, que outro nome lhe não conhecemos,
assinou vários livros, mormente focando a Faro dos tempos idos. Foi em 1937
(gémeos que o éramos no ano de nascença) que “Zé Guita”, que outra forma não
queria que o tratássemos, veio ao mundo.
Frequentou a escola
primária e o liceu (1948/55) nesta nossa urbe e licenciou-se em Ciências
Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras das Universidade Clássica de
Lisboa, sendo a tese de licenciatura assinada pelo eminente mestre que foi o
professor Jorge Borges de Macedo. Este trabalho foi distinguido, pelo seu valor
e mérito, no concurso Henriquinino (1960) aquando do V centenário da morte do
Infante D. Henrique, o que diz bem dos méritos e valores deste cidadão farense.
Era um colaborador habitual, na secção “Vistos e Vistas” dos Anais do Município
de Faro”, valioso arquivo das coisas do concelho e da região, que o saudoso
académico Professor Pinheiro e Rosa criou, que o Dr. Libertário Viegas
prosseguiu com empenho na sua direcção e que tem, presentemente como
responsável a figura eminente do prof. Romero de Magalhães, mestre na
Universidade de Coimbra.
A vida profissional do “Zé
Guita” foi o ensino havendo leccionado nos liceus de Santarém, Oeiras e Passos
Manuel (Lisboa), no ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) e no
Colégio Militar, instituição onde desempenhou destacadas funções, sendo a
“História Contemporânea” a disciplina que mais o ocupou em termos pedagógicos.
Neste desfilar de lembranças não pudemos olvidar o curso por ele leccionado em
Bruxelas, no âmbito do programa Erasmus sobre Cultura Portuguesa.
Morreu o Dr. José de Matos
Guita, o “Zé Guita”, que era o vocativo de tratamento nos encontros já
referidos. A cidade e o Algarve estão mais pobres. À sentida nota do município
com expressivas condolências à família juntamos a nossa saudade e a nossa
homenagem!
João Leal
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