sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

RECORDANDO O "A AÇOTEIA"


NÓS, as raparigas

Título: Escrevo para vocês,,,

Colegas! É para vós que escrevo estas poucas linhas; porém, sinto-me sèriamente atrapalhada. O que vou eu escrever que vos seja estranho? Nada! E, principalmente, a vocês raparigas que, como eu, temos problemas tão comuns?! Queria falar-vos dum problema familiar. Ao mesmo tempo receio pegar na caneta. Eis que uma amiga vem para mim com um ar amargurado, vestígios de lágrimas ainda. Senta-se a meu lado e diz-me: «... Gostava tanto de ter uma mãe diferente que fosse para mim uma irmã mais velha, que compreendesse os meus problemas...»

Apenas disse como resposta: «gostavas? e que fazes para que ela seja diferente...» e um «NADA» gelado sai dos seus lábios trémulos. Nada! Sim! que fazemos nós para que isso aconteça?

A nossa mãe, à primeira confidência que lhe façamos, será para nós um mundo novo, raparigas! Assim o espero e o desejo,... principalmente! Então, com a minha colega, combinei: vamos mudar o ambiente de nossas casas. E, para vós, vai a mesma proposta.

«Vamos!» Responderão algumas, E que faremos para dar realidade a este desejo? Apenas isto: não mais veremos nas nossas mães umas pessoas severas, com ideias antiquadas, sem carinhos.

Combinado? Não mais ficaremos caladas, acabrunhadas, com medo de falar.

Serão elas, no futuro, as nossas confidentes, a irmã mais velha, a amiga.

Assim reinaria a compreensão em todos os lares e isso «Depende de nós!»...


Maria Joana M. Pitti

(IN A AÇOTEIA - Ano I - Nº 4 - Fevereiro de 1963)


Uma recolha de Rogério Coelho

NOTA: Em todos os Artigos recolhidos, respeitamos os "Direitos de Autor" e, transcrevemos na íntegra, como foram publicados no "A Açoteia"

RECORDANDO O "A AÇOTEIA"

Entrada principal da Escola
Título da notícia:

"OS PORTÕES DA ESCOLA E A DISCIPLINA"


Com a distribuição das entradas e saídas dos alunos e das alunas por dois portões afastados resolveu-se um importante problema disciplinar da nossa Escola.


Acabou-se com o espectáculo verdadeiramente deseducativo e indecoroso, provocado pela afluência, junto do portão principal, de enormes magotes de alunos turbulentos e indisciplinados e evitaram-se os vexames a que se sujeitavam as colegas e até pessoas estranhas à Escola.


Verificou-se posteriormante que alguns alunos aproveitavam a circunstância dos portões se encontrarem abertos para sairem nos intervalos e se postarem junto do portão das alunas molestando as colegas com palavras e atitudes menos correctas.


Em consequência, deram-se ordens para uma maior vigilância e para que os portões só fossem abertos nas horas das entradas e das saídas.


O portão principal ficou reservado para os casos imprevistos e justificados, a qualquer hora.


Pretende a Direcção que todos os alunos e alunas colaborem, no sentido de prestigiar a Escola e a si próprios, não tentando iludir ou sufismar as normas estabelecidas e procurando facilitar a tarefa dos empregados.


Sabemos que muitos alunos são respeitadores, educados, auto-disciplinados. Mas, infelizmente, não há processo de os distinguir dos outros, dos muitos que não possuem ainda essas qualidades. As normas têm de ser extensivas a todos.


O que não é possível é fazer educação e ensino sem um mínimo de ordem, de respeito e de disciplina.


O ideal seria que a ordem e a disciplina se conseguissem expontâneamente, sem coacção.


Está nas vossas mãos, jovens que frequentam a Escola, contribuirem para que nos aproxtmemos desse ideal dando sempre exemplos de uma conduta digna, particularmente os mais idosos e os que têm já uma personalidade formada.


O corpo directivo da Escola acolhe sempre com toda a atenção e interesse os alunos que se lhe dirigem expondo os seus problemas e procura solucioná-los dentro do possível e do razoável.


Não pode, porém, abster-se de chamar à ordem aqueles que, pelo seu comportamento anti-social, põem em perigo a obra educativca da Escola.


Contudo, todos, sem excepção, podem contar com a nossa boa-vontade e compreensão mesmo quando prevaricaram arrastados, quantas vezes, por impulsos momentâneos que não souberam ou não puderam controlar.


O Director

Jorge Monteiro


(IN AÇOTEIA - ANO I - Nº 3 -Maio de 1962)


Recolha de Rogério Coelho
NOTA: Algo se falou dos portões da Escola para alunos e alunas, achei que esta notícia do "A AÇOTEIA" vinha em altura própria.


ESTABELECIMENTO COMERCIAL

(este texto é dedicado à memória do Luís Cunha, que faleceu sem me conhecer. E tínhamos combinado que nos havíamo de encontrar. Mas já não foi possível...)

E ainda para a Nely Cunha, Engº Víctor Cunha, Joana Cunha e Norberto Cunha, todos costeletas..

FELIZARDO & GLORINHA
(amigos dos costeletas que muito ajudaram)

"Quando eu cheguei a Faro em 52 o estabelecimento" comercial FELIZARDO & GLORINHA, já lá estava instalado de armas e bagagens na rua da PSP.

O estabelecimento era dividido, se bem me lembro, em duas áreas comerciais, uma de mercearias e outra, digamos assim, de comes e bebes.

Além de toda a clientela do bairro, havíamos nós, os alunos da Escola Comercial e Industrial, que consumíamos da zona dos comes e bebes, as célebres sandes de atum, de cavala e de outros.

Para nós, a designação do estabelecimento era indiferentemente chamado de estabelecimento do Ti Felizardo ou o estabelecimento da Ti Glorinha. Dizer vamos à do Ti Felizardo ou dizer vamos a da Ti Glorinha era a mesma coisa.

Todavia, em termos de carinho recebido da parte do patronato, a D. Glorinha era como se fosse a nossa mãe, sempre atenta à nossa estadia ali, sempre preocupada com o que nos pudesse acontecer na cidade, sendo que, esta atenção, era mais direccionada para os montanheiros, como eu e éramos muitos, que não percebíamos nada do que era a Escola nem o que era a vida na cidade

È claro que faziam lá o seu negócio, como faziam também o senhor Manuel dos bigodes e o Coelhinho, que lá iam vender sorvetes e pinhões e um tipo de Olhão, que ia lá vender ratos, um rebuçado grande feito à base de mel, que a gente gostava muito.

Mas na loja da Ti Glorinha é que era bom e a gente ia lá tratar da nossa saúde. Comíamos umas sandes, bebíamos qualquer coisa e toca a andar.

Ainda hoje, falando com os alunos da Escola do meu tempo, quando nos encontramos, lá vem sempre uma referência de saudade das sandes da TI GLORINHA e do TI FELIZARDO.

Por isso tudo, o que quero realçar nesta crónica é o acolhimento que nós recebíamos dessas pessoas, digo FELIZARDO e GLORINHA, que antes de serem comerciantes eram seres humanos e que igualmente nos tratavam como tal A nossa vida estava mais facilitada com a sua presença no terreno. Em caso de necessidade nós sabíamos que eles estavam lá.

Não é porque nos emprestassem dinheiro a juros, não é porque nos vendessem as sandes fiado, não é porque nos fizessem descontos nas encomendas ... nem por quaisquer outras milhares de razões... Nada disso.... nada

Nós íamos à do Ti FELIZARDO porque dos proprietários deste estabelecimento recebíamos... tão só... um pouco de carinho e amor ou seja, um pouco mais de calor humano... que foi muito importante para todos nós, que nos estávamos a iniciar na complicada caminhada da vida.

Agora que já terminei esse percurso e estou reformado, quero dizer-lhes muito obrigado Ti FELIZARDO e TI GLORINHA.

É a minha opinião e recordo-os com saudade.

Estejam lá onde estiverem, aí vai para eles, um ALABI... ALABÁ... BUM.. BÁ....que era o grito dos costeletas lá da Escola Comercial, onde aprendemos os rudimentos do Comércio ou os rudimento da Indústria.

Mas o outro aspecto da vida, começámos a aprender no TI FELIZARDO.

O que é que queres?

Cinco tostões de cigarros, Ti FELIZARDO.

E lá vinham três Hight Life, ou três Três Vintes, ou três Paris, que eram as marcas de tabaco mais populares desse tempo.

Eram outros tempos.

Agora já não fumo mas o estabelecimento ainda lá está, gerido agora por um neto, a quem peço o favor de honrar a memória dos avós."

Respeitosamente

João Brito Sousa

QUEM SE LEMBRA DELE ?

(poderia ser o Urbano)
O URBANO
Nota recebida do “Costeleta” Jorge Tavares

“Tenho lido com alguma atenção os relatos, lembrando costeletas que foram bons desportivamente, particularmente no futebol e andebol.

A falta de referência aquele que foi um dos melhores guarda redes de andebol -Urbano -, obriga-me a recordá-lo pelo merecimento que lhe é devido.

Recordo que tambem era o bonitão das miudas - louro, cabelo cheio de ondas naturais, que não careciam de fixador e ou brilhantina-, notabilizava-se pelo elevado interesse que despertava no sexo oposto, com alguma pontinha de inveja da nossa parte.

Aonde estiver (suponho que no Brasil), um grande abraço

JORGE TAVARES”


NOTA DO BLOGUE,

Meu caro Jorge,

Viva.

Muito obrigado por te lembrares do URBANO que eu ainda vi jogar.

Acontece que por estarmos a preparar um texto sobre guarda redes de andebol da Escola, o nome do URBANO ainda não tinha aparecido.

Mas vai aparecer seguramente.

A todos, saudações costeletas e boguistas.

João Brito Sousa

ZÉ ALEIXO SALVADOR, S.BRÁS E BNU

(estádio de s.luís)

AO JOSÉ ALEIXO SALVADOR, velho amigo.


NO CAMPO DO FARENSE, COM O SALVADOR PARA VER JOGAR O JÚLIO ROSA DO SAMBRASENSE.

Eu e o Zé Aleixo Salvador, fomos parceiros de carteira num ano lá na Escola Comercial e Industrial de Faro e ficámos amigos para sempre. Gostávamos de futebol, ele sportinguista e eu benfiquista, como convinha, e lá tínhamos as nossas discussões futebolísticas.

Uma vez que o Sambrazense foi treinar a Faro, fomos ver o treino e vi jogar o Júlio Rosa, que era crack na equipa de São Bras. E ali a meio campo, jogava um irmão do Zé Aleixo Salvador, igualmente de nome Salvador, que, numa entrada apertada recebeu a ajuda oral do Júlio Rosa, com este... à vontade Salvador.

Esta crónica vem a propósito do Salvador me ter telefonado ontem à noite a perguntar por mim e pelo nosso blog. Achei piada pelo facto do Zé se interessar por estas coisas e porque é um grande amigo, aí vai um post dedicado a ele e à malta do nosso tempo.

Nós, eu e o Zé Aleixo, somos do tempo daquela equipa de futebol da Escola em Faro, onde alinhavam o Malaia, Joaquim Petroleiro, Caronho e Pinto Faria, Zeca Bastos e Julião, Nuno, Xavier, Eugénio, Parra e Honorato Viegas., que ganhavam tudo e a gente ia ver jogar contra o Liceu ao campo do FARENSE..

Quem andava sempre com a gente era o Vieguinhas de Pechão, o João Coelho Pencarinha de Loulé, o Zé Cristo que veio de Silves e era muito amigo do Zé Aleixo e mais um ou outro. Era mais ou menos esta equipa que ia ver as moças ao Colégio de S. Pedro.

Os professores desse tempo eram o Rebelo da Silva a Inglês, o PiriPiri a Francês, ambos umas anedotas do catano. Anda tivemos no primeiro ano do Comércio também a Francês o Dr. Proença, que era muito amigo do Helder Faísca, chamava-o ao quadro e dizia-lhe: anda cá Faísca que tu tens a mania que xabes...

Tivemos também a D. Florinda, que era uma jovem menina, competente em termos de conhecimentos, que nos dava Contabilidade e Cálculo Cmercial, mas que nunca amou os montanheiros, que nunca percebeu os sacrifícios que os nossos pais e nós próprios fazíamos para frequentar uma coisa que não sabíamos bem o que era, pois o nosso grau de montanheiro era muito elevado.

Noutras crónicas vamos falar do Vieguinhas, do Arnaldo Silva, do Zé Vitorino, do Firmino Cabrita Longo, do Xameca, aquele que chamou atletista afanado ao Firmino quando este foi correr uma prova ao Liceu e falhou....

E vocês contem também aí umas histórias. Alo Zé Bartílio, Joaquim Cruz e Ferrinho Pedro, velhos amigos.

Até lá, aí vai um abraço para todos os mencionados, em especial para o Aleixo e esposa, ambos costeletas.

João Brito Sousa