domingo, 21 de setembro de 2008

RECORDAÇÕES COSTELETAS


SALÕES DE BILHAR EM FARO

"O ULÍMPICO. "
or João Brito Sousa


As salas de bilhar que eu conheci em Faro nos anos cinquenta foram: o Ulímpico, o Café Acordeón, o Café Aliança e o Café Brasília. Mas penso que haveria mais algumas.

O bilhar entre a juventude, era um desporto muito popular aí em Faro. Havia até bons jogadores dessa modalidade, entre a rapaziada da Escola Comercial e do Liceu. E nós, “os montanheiros” também éramos bons, tínhamos os irmãos Gabadinho, o Zé e o Xico, que se batiam com a malta da cidade e eram bons sobretudo a jogar ao tacho.

O tacho, era uma forma de jogar bilhar que exigia muito domínio do jogo. Era colocado um pires de café no meio da mesa, onde se punha o valor das apostas (era um jogo a algumas moedas), e o jogador deveria fazer o seu jogo de forma a fazer carambola e não atingir o pires (tacho) com nenhuma das bolas. Se o fizesse perderia todas as carambolas já feitas.

Depois de terminadas as aulas, a rapaziada ia até ao Ulímpico para descongestionar um bocado, antes de ir começar a recapitular as matérias do dia. Até mesmo aqueles que não jogavam, iam, como é o caso do hoje Exmº Senhor Doutor Juíz Jaime Machado (filho do Sr. Machado da Casa Verde), que nesse tempo era o Jaime. O Jaime aparecia lá... todo coiso e tal... eh pá tenho que ir estudar Filosofia e tal... e coiso... e mesmo quando já estava em Coimbra a fazer o Curso de Direito, aparecia lá na mesma. O Joãozinho Nobre, da casa de móveis Nobre, que ficava em frente ao cinema da rua de St º António, era outro que aparecia por lá pelos bilhares e mais uns cem ou duzentos rapazes desse tempo.

A melhor sala nesses anos 57/58 e mais...era o Ulímpico na rua dos Cavalos. Da malta que lá jogava, o Elias era o maior. Pegava no taco de uma maneira única, ou seja, mão direita no rabo do taco e metia a outra parte, a mais fina, numa espécie de argola feita com o dedo indicador da mão esquerda. E depois atirava-se para cima da mesa, ele e o taco, dava a força que julgava ideal para a tacada funcionar e, com este modelo fazia mesmo carambola... à Elias. Ora um razoável jogador de bilhar, primeiro assenta a mão esquerda no pano verde e firma-a bem, depois ensaia a tacada após ter visionado toda a mesa e a posição das bolas. Sai a tacada e umas vezes carambola-se e outras não. O senhor Elias preparava tudo fora da mesa de bilhar; punha o taco na argola da mão esquerda, pegava no rabo do taco com a mão direita e aí vai disto. Era um espectáculo.

Disse-me o Mestre de Ourique, que estudou aí no Colégio Farense na Rua Filipe Alistão e jogava futebol (por acaso muito bem) com o Elias no Sport Lisboa e Faro, que nos cantos, quando era o Elias a bater, a bola vinha com uma rosca tal que quem metesse a cabeça à bola estava arriscado a ficar sem cabeça e sem cabelos. Mas o Elias era um jogador de futebol jeitoso e com muita habilidade até.

No Olímpico, às seis da tarde, havia uma partida de bilhar na primeira mesa à esquerda quando se entra, onde jogavam um Oficial de Justiça a trabalhar aí em Faro mas que era do Porto, por sinal um excepcional jogador, o Ministro, um tipo magro, com físico de desportista, que trabalhava no Banco Espírito Santo aí na cidade, o Leal da Câmara de Faro e o Domingos, outro tipo que não me lembro onde trabalhava. Dos quatro jogadores o do Porto era muito melhor e os outros três equiparavam-se. Mas o bilhar é uma modalidade onde é preciso muita concentração e calma. Ora o Leal não tinha nada disso, tinha um jogo largo mas muito seguro, defendia bem e ganhava melhor ainda, porque mandava umas bocas à Pedroto que, no bilhar também desestabiliza os adversários.. O Ministro ficava bravo.. lá tá este gajo com a sorte dele!....porra. ..E o Leal vá de rir à grande...

O melhor jogador do Liceu creio que era o Matias e da Escola Comercial, o melhor era o Jacinto da cortiça, também bom jogador de tacho e de snooker.

Passavam-se ali grandes tardes.

Noutra crónica, falaremos dos outros locais onde se jogava bilhar, vamos recordar o senhor Pereira, ou o Pereirnha, magro e de estatura média que trabalhava no Café Acordeón, que tinha na altura três boas mesas de bilhar. Mas antes disso vamos recordar o senhor Passos (já falecido), da drogaria ali ao lado do café, um homem que vestia muito bem, sempre bem arreado, melhor do que ele só o amigo Moreira da Citroen.

No largo onde se situa o café Acordeón, há ali muito trabalho a fazer: cumprimentar o Aníbal Veríssimo do café Baía que foi para a Bélgica há cinquenta anos e nunca mais o vi, recordar o médico que ali está na estátua, saber dos Barracosas ali da loja (um deles, o que esteve na Casa dos Rapazes tinha um remate terrível no andebol) saber do Toni que foi militante da Luar, licenciou-se agora em Direito e na juventude acompanhava com a gente lá da escola, ir à loja do João Fava e apresentar-lhe cumprimentos, saber se o lutador Alex anda por ali, pois parece-me que trabalhava por aquelas bandas... enfim, vamos numa de matar saudades...

Hasta la vista..