quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ELES TIVERAM NA CULATRA




VIVA A CAMARADAGEM COSTELETA.

HOJE O ALMOÇO FOI NA CULATRA,

ALINHARAM,


JOÃO MALAIA, ANTÓNIO PAULO, CARONHO, REINA E GINJÃO, MATIAS, MADEIRA, POEIRA e NUNO, JOÃO PARRA e LABRUNA


NA PARADISÍACA CULATRA,

Era vê-los....
a saltar
na praia

e a jogar

quem sabe de bola
não esquece
e até apetece

ver

uma antecipação
do Reina
ou uma defesa do Malaia
na Culatra

maravilhosa praia

Ver o Poeira parar a bola

que fica logo ali
e fazer de seguida a abertura
para o Madeirinha

que diz, a bola é minha

toma lá Caronho

Faz golo
uma jogada de sonho
destas que não se vêm

todos os dias

a bola agora é do Matias

que ninguém mais o agarra
Toma lá ó João Parra
Faz a finta num instantinho

e endossa ao NUNO AGOSTINHO

que manda brasa

E para o António PAULO
grande Keepeer
de antigamente
que me ganhou na final...

Um abraço e para os outros todos
igual.

CONVITE: O comboio ALFA sai de Faro às 7 da manhâ e chega aqui ao Porto às 13. Almoço, no PORTO, uma tripalhada e depois um jogo de fuetbol no Campo da Constituição. Tragam o João Pinto Faria, o Júlo Piloto, o Pepe, o Honorato Viegas e o Queixinho. E vocês venham todos, contas à moda do Porto, comoio 20 almoço 8. Vêem?

ps- O nome do GINJÃO figura aí como homenagem a todos os jogadores do Olhanense que já partiram entre eles o costeleta ARCANJO.

texto de
João Brito Sousa

ENTREVISTA A ANTÓNIO LOBO ANTUNES


PARA DEBATER E COMENTAR
(entrevista de Mário Crespo ao escritor António Lobo Antunes / texto retirado da net.)

SABER LER É TÃO DIFÍCIL COMO SABER ESCREVER

Podemos começar por falar de amor?
Se eu souber responder…

O título do seu novo romance, Eu Hei-de Amar Uma Pedra, nascendo embora de um canto popular, terá a ver, igualmente, com impossibilidades do amor?

Não sei russo, mas quando dizem que Pushkin empregava a palavra carne e sentia-se o gosto da palavra carne na boca, isso tem a ver com as palavras que se põem antes e depois. É a mesma coisa que amor. Os substantivos abstractos são perigosos.

Há uma personagem no livro, que, à quarta-feira, ao longo de décadas, vai, secretamente, a uma pensão da Graça, ama e ali morre…

Foi daí que o livro veio. Só mudei o sítio. Sempre me espantou essa extraordinária forma de amor. A sexualidade, sempre tão importante para mim - e continua a ser -, cada vez me parece mais vazia de sentido quando não há outro modo de diálogo e de encontro, embora seja muito difícil resistir ao desejo imediato.

Amor é algo mais?

A noção de amor varia de pessoa para pessoa. Muitas vezes estamos apaixonados ou estaremos agradecidos por gostarem de nós? Ou será que o outro é apenas alguém junto de quem nos sentimos menos sozinhos? Não sei bem o que é a verdade acerca do amor e duvido que haja quem saiba. Só tenho perguntas, não tenho respostas. Até que ponto o amor não é apenas a idealização de um outro e de nós mesmos?

Nunca é fácil salvar uma relação…

Uma coisa é o amor, outra é a relação. Não sei se, quando duas pessoas estão na cama, não estarão, de facto, quatro: as duas que estão mais as duas que um e outro imaginam. Não me preocupa muito. Preocupa-me em relação a mim mesmo, mas há grandes partes da minha vida que eliminei sem piedade. Não vou a jantares, não vou a lançamentos.

E não tem solidões?

Preciso e gosto de estar sozinho.

Ao fim de 25 anos de vida literária, celebrados hoje, quem é António Lobo Antunes para António Lobo Antunes?

Vida literária custa-me a engolir, soa pretensiosa. Digo que se passam 25 anos sobre a publicação do primeiro romance [Memória de Elefante], que andou em bolandas, de editora em editora, a ser rejeitado. Quando saiu, já tinha acabado mais dois livros. Mas 25 anos é muito tempo e serve para ver que já não terei mais 25 para escrever.

Em princípio, a morte não está nas nossas mãos…

Às vezes, a gente morre por desatenção. Outras vezes morre-se quando se pode. Mas, a maior parte das vezes, morremos porque se nos acabou a saúde. Não fomos feitos para a morte, a não ser para a morte voluntária. A involuntária sempre me pareceu uma tremenda injustiça, para não falar em crueldade.

A intensidade poética da sua prosa é para aliviar tensões entre as personagens?

Não me é consciente. Uma coisa para mim é clara: tenho de proteger os meus ovos, que são os meus livros. Se racionalizar as coisas, perco-as. Estaria a fechar portas a mim mesmo e a essas coisas, que não sei bem se me pertencem, e emergem com essa força. Nos momentos felizes, a mão anda sozinha. A cabeça está a ver ao longe e fica contente, porque são as palavras certas que a cabeça não encontraria. É a mão.

Como dissocia o escritor da obra?

Não tenho bem a sensação de o livro nascer de mim. Faço a primeira versão, trabalho muito a segunda, no entanto, depois de entregar o livro, não vejo provas, não faço mais nada. Tudo o que quero é fazer outro. O livro só existe quando estou a escrever. E o tempo é-me muito curto. Se fizer mais dois ou três…

Um autor acéfalo conseguirá realizar uma obra-prima?

Se tiver uma mão suficientemente grande… Prende-se com um conjunto de coisas: primeiro, é preciso ter lido muito. Aprende-se a escrever, lendo. E também é necessária uma grande humildade face ao material da escrita. É a mão que escreve. A nossa mão é mais inteligente do que nós. Não é o autor que tem de ser inteligente, é a obra. O autor não escreve tão bem quanto os livros.

Está a dizer-me que o livro, em relação ao autor, é uma mentira?

Estou a dizer que o livro é melhor do que eu. Não escrevo assim tão bem.

Quem escreve o livro por si?

Um dia, em conversa com Eduardo Lourenço, a propósito de criação literária, ele lembrava o soneto de Pessoa (de quem não sou grande fã e ele é), que fala de «emissário de um rei desconhecido (…)», uma espécie de mensageiro. Há uns tempos, disse ao telefone, ao meu agente, ter a sensação de que era um anjo que estava a escrever por mim. Lembrei- -me, então, que anjo quer dizer mensageiro. Quando estou a escrever, parece que estão a ditar-me e a mão a reproduzir.

Considera-se um predestinado?

Não. Isso até aumenta a humildade. Com o passar do tempo, há dois sentimentos que desaparecem: a vaidade e a inveja. A inveja é um sentimento horrível. Ninguém sofre tanto como um invejoso. E a vaidade faz-me pensar no milionário Howard Hughes. Quando ele morreu, os jornalistas perguntaram ao advogado: «Quanto é que ele deixou?» O advogado respondeu: «Deixou tudo.» Ninguém é mais pobre do que os mortos.

Despojamento, uma outra riqueza?

Quando uma pessoa morre, tira-se--lhe a roupa, objectos pessoais, o dinheiro, os óculos. Que vão vestir os mortos quando voltarem? Que dinheiro têm para comer quando voltarem? Morro, podem ficar os livros, mas os livros não são eu, que terei a boca cheia de terra e estarei no céu ou em parte alguma. Que diferença me faz? Quando voltar, com que óculos é que vou ler?

Como regressam os mortos?

E será que partem? Sou um homem religioso. Há um provérbio húngaro muito velho que diz: «Na cova do lobo não há ateus.» O nosso problema é se Deus acreditará em nós. Deus, porém, tem coisas incompreensíveis para mim. Acho que gosta muito dos tolos, porque não pára de os fazer. Mas, se calhar, o caminho de Deus terá tais profundezas que a gente não as entende. Tenho, sobretudo, a experiência das perdas. A perda de qualquer amigo é uma ferida que nunca cicatriza. A perda de pessoas de quem gostei, e que não são substituídas por nada, deixaram vazios que nunca serão preenchidos. Isso também ajuda a tornar-nos humildes.

Na desmultiplicação do narrador, em Eu Hei-de Amar Uma Pedra, todas as personagens se confrontam com perdas…

Dizem que os meus romances são polifónicos. Não são. É sempre a mesma voz que fala e gostaria que fosse também a voz interior do leitor. Ou melhor: essa voz não fala, nós é que a ouvimos.

Uma voz que se desdobra em vozes de muitas sombras?

Sombras, luzes. Gostaria que fossem vozes totais, para mim são vozes totais, porque trazem consigo carne, corpo. O drama é que a gente está a ler em folhas de papel. E, no entanto, nunca tive a sensação de fazer ficções.

O seu novo romance parte de fotografias. São o maior registo da memória?

Não acho que os romances sejam novos. Existem há muito tempo, à espera que seja capaz de chegar a eles. Em miúdo, conheci pessoas rodeadas de fotografias antigas. Perguntava quem eram aquelas pessoas, diziam-me ser o trisavô, todas pessoas mortas. Eu pensava: como podem estar mortas se olham para mim desta maneira, como se me conhecessem? Tinha a sensação de que as pessoas daquelas fotografias me compreendiam melhor do que as vivas. Naquelas fotografias amarelas subsistia a vida, o olhar. Na capacidade de transmissão de emoções e vivências, a fotografia sempre me fascinou. Nunca tirei uma fotografia, falta-me esse talento.

Mas temos fotógrafos geniais.

Não tirou fotografias às suas filhas?

A ninguém. Da mesma maneira que nunca gosto de me ver fotografado.

Acha-se feio?

Nunca lidei bem com o meu corpo. Vejo agora fotografias de quando era bebé ou de há 30 anos, e era bonito. Quando tinha 18 anos, as mulheres metiam conversa comigo.

Em dado momento da sua vida, isso foi razão para o tornar vaidoso?

Não era importante. Importante era que as mulheres fossem bonitas. As mulheres sempre exerceram um grande fascínio sobre mim.

Sentiu falta de um elemento feminino entre os seus seis irmãos?

Não podia sentir, porque não sabia o que era o elemento feminino.

Havia a mãe, as avós…

As mães, os pais não têm sexo. A mãe era a mãe, e mulher do meu pai. Também não sabia muito bem o que era ser mulher do meu pai. Julgo que todos os miúdos vêem os pais de uma maneira assexuada. Eu via a barriga da minha mãe a crescer mas não sabia qual o mecanismo que fazia com que a barriga da minha mãe crescesse.

Acreditava que os bebés chegavam no bico de uma cegonha?

Comigo era diferente. O meu pai estava na Alemanha, vinha uma vez por ano e a barriga da minha mãe começava a crescer. Sabia que tinha alguma coisa a ver com o facto de o meu pai ter estado cá. Mas nunca os vi beijarem-se, não sabia muito bem como aquilo era feito.

Não se falava de sexualidade às crianças. Hoje, o próprio ensino dá-lhe alguma atenção. É melhor?

Não faço juízos de valor, não sou médico.

É médico psiquiatra…

Já não faço nada disso. Só escrevo palavras. Nunca analisei essa parte, só me interessava tentar entender. Se analisarmos, não entendemos.

Como se chega ao entendimento sem análise, sem crítica?

Por osmose. Quando se critica, estamos a julgar. Se julgarmos já não compreendemos, porque julgar implica condenar ou absolver. Acho que era Malraux quem dizia: «A partir do momento em que a gente compreende, deixa de julgar.»

Que tempo vivemos: o do julgamento?

Tenho uma vida um pouco especial. Estive recentemente na Roménia, um país que me encanta e me faz reaprender o que é a liberdade. Um país muito parecido connosco…

No aspecto da liberdade?

No da latinidade. Quando voltei, havia todas essas coisas provocadas por este espantoso governo que temos. Tudo o que se tem passado me dá vontade de rir. Nós nunca vivemos em democracia, tal como os EUA não vivem em democracia. A democracia implicaria um referendar constante das decisões, e isso não acontece.

Há eleições…

Vota-se de quatro em quatro anos, mas, entre esses quatro anos, não nos pedem opinião. O que se tem verificado em Portugal, a propósito da liberdade de imprensa, não passa de uma luta de poder igual a tantas outras. De uma forma geral, olho para os políticos com uma indulgência divertida, sejam de que partidos forem. Há pouco tempo, estava no estrangeiro, num encontro com cento e tal escritores, e ouvi falar de Portugal por causa do «barco do aborto». Comentava-se que um ministro nosso terá dito: O mar português é um mar com princípios. Foi um motivo de troça à minha custa, que não tinha culpa nenhuma.

Portugal é diferente dos outros países?

Claro que não. Nem somos piores. E temos uma língua espantosa. E um clima maravilhoso. Cada vez me seria mais difícil viver longe de Portugal. Gosto muito do meu país.

Costuma ler as críticas à sua obra?

Devo ser dos poucos autores que não lêem as críticas, sejam boas ou más. O que faço ainda é cedo para ser compreendido. Tenho a sensação que estou a escrever coisas maiores do que eu. É preciso deixar passar um tempo. Talvez daqui a 50 ou cem anos seja tudo mais claro. Se uma pessoa está à frente do seu tempo, isso provoca reacções contraditórias. Mas há críticos excelentes que iluminam zonas de sombra dos livros. É também preciso grande humildade para se escrever sobre o que se lê e não julgar-se um livro com a nossa chave. Temos de aceitar que há livros muito bons de que não gostamos e livros de que gostamos que podem não ser bons.
Prefere que a chave dos seus livros fique na posse do leitor?

A chave vem com o livro. Saber ler é tão difícil como saber escrever.

Há quem tenha dificuldade em entrar nos seus livros…

Para mim, os livros que escrevo são óbvios e evidentes. Ao lermos certos autores muito bons - estou a pensar no Conrad -, parece caminhar-se no meio do nevoeiro e, de repente, o nevoeiro começa a levantar-se e o livro fica totalmente claro. Quando, aos 20 anos, via um filme de Bergman, aborrecia-me profundamente.

A partir de que idade começou a entender Ingmar Bergman, considerado o cineasta da memória?

A partir dos 40, comovia-me até às lágrimas. Era eu que não estava preparado para ver aqueles filmes e notar o quanto de mim existia neles. Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas.

Quando na sua escrita suspende a frase, a palavra, deseja deixar portas abertas? Pretende ter o leitor como um interlocutor constante?

Fui compreendendo que tinha de pôr a prosa a respirar de uma outra forma. É também uma maneira de pontuar. O problema é como isso se traduz para outras línguas. Neste momento, na Rússia, estamos com problemas de tradutores de português; traduz-se a partir do alemão. O português, em muitos países, é como o esloveno para nós. Um país onde se traduz maravilhosamente é em Espanha.

Que imagem tem da língua portuguesa, falada por 250 milhões?

Na sua maior parte, as pessoas que conhecem o português em alguns países conhecem o português do Brasil, cujo léxico e musicalidade são diferentes. Julgo que o meu português coloca problemas específicos. Estou a lembrar-me do problema que foi para um tradutor expressões como alto lá com o charuto. Todas as línguas têm a sua idiossincrasia. Uma tradução acaba por ser uma fotografia a preto e branco.

Sente-se bem a escrever em português?

É a minha língua, não me imagino a escrever noutra.

Nos seus livros faz sempre uma visita à infância. É o património mais vasto e rico da sua escrita?

Queria que os livros tivessem todos os tempos da minha vida. Talvez a partir de uma certa idade estejamos mais atentos à nossa infância.

Estou a lembrar-me de Séneca, que diz: «Ama como se morresses hoje.» No seu caso, escreve como se pudesse morrer hoje?

Não quero nada morrer hoje. Estou a meio de um livro, não o queria deixar imperfeito. E queria viver mais dois anos para fazer outro, e mais dois para fazer outro, como se andasse a negociar a vida. Gostaria de ter mais dez anos para escrever. E se calhar, mesmo morto, a mão vai continuar a avançar.

Quando poderá o escritor ter a percepção de que deve parar?

A partir de certo momento, tudo começa a ossificar-se. Muitas vezes não temos essa percepção.

Tem palavras por meio das quais procure um significado absoluto?

Tenho aprendido mais a escrever com os poetas do que com os prosadores. Em poesia, pelo menos nos poetas que admiro, cada palavra tem um brilho próprio. Mas não gosto de dividir as coisas em romance, conto, novela, poema.

Convoca tantas flores para os seus livros… Fazem parte da sua natureza?

Vivo sem flores, não tenho flores em casa. Vivo com livros e quadros, a maior parte oferecidos pelo Júlio Pomar. Nunca tive bens materiais. Nem uso relógio. Posso fazer a mala e ir-me embora. Não estou agarrado às coisas.

publicação de
João Brito Sousa