terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Cantinho da História




VULTOS IGNORADOS DA NOSSA HISTÓRIA


CARAMURU

Descobri Caramuru em toda a sua grandeza ao ler “O Fundador”, a história fascinante de Tomé de Sousa, o primeiro governador do Brasil, da autoria de Aydano Roriz.
Li , reli e tenho a certeza que voltarei a ler.
Tratando-se de um autor contemporâneo, que não é português, surpreendeu-me o rigor e o conhecimento demonstrados, relativamente a episódios menos divulgados “fora de portas”, da História de Portugal.
Mas para quem ainda não conhece vamos apresentar Caramuru:
- Diogo Álvares Correia, nascido em Viana do Castelo, por volta de 1475, fidalgo da Casa Real; o barco francês em que viajava para São Vicente, naufragou próximo do Rio Vermelho, na baia de Todos os Santos. Todos os companheiros de viagem foram mortos pelos índios tupinambás, Diogo Álvares consegue sobreviver e passa a viver com os índios de quem recebe a alcunha de Caramuru que significa “moreia”
Este homem torna-se numa lenda e aqui surge a primeira questão:
- Porque teria sido ele o único a quem os índios pouparam a vida?
- A versão mais consistente seria a de que para afugentar os índios ele teria usado o mosquetão, disparando um tiro para o ar que matou uma gaivota. Baseado nesta versão existe quem defenda a existência de outros significados para “Caramuru”, a saber:
- Pau que cospe fogo
- Homem trovão da morte barulhenta
O que se sabe é que ele foi muito bem recebido pelos gentios.
O morubixaba Taparica, deu-lhe uma das filhas chamada Paraguaçu, irmã da lendária índia Moema, citada no poema de Frei Santa Rita Durão.
Ao longo de quarenta anos manteve contactos com navios europeus que aportavam à Bahía . As boas relações comerciais com os normandos levaram-no entre 1526-1528 a visitar a França, onde a mulher foi batizada em Saint-Malo, passando a chamar-se, Catarina Álvares Paraguaçu (Catherine du Brésil) em homenagem a Catherine des Granches, esposa de Jacques Cartier, que foi sua madrinha.
Recebeu durante o governo do donatário da capitania da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, importante sesmaria e sempre foi um mediador entre os colonos e os índios, não conseguindo no entanto evitar o incidente de Itaparica onde Pereira Coutinho perdeu a vida.
Conhecedor dos costumes nativos, Caramuru utilizou esse conhecimento para facilitar os contactos entre os primeiros missionários e administradores, com os gentios.
Era bastante conhecido na Corte e em 1548, D. João III com a intenção de instituir o Governo Geral, recomendou-lhe que criasse condições para que a expedição inicial fosse bem recebida. Este facto revela bem a importância que havia alcançado perante o Rei.
Não estava sendo fácil para os reis de Portugal fazer valer a posse das terras encontradas do outro lado do Atlântico em 1500. Com a abertura do caminho marítimo para a India, eram poucos os súbditos da Casa de Avis que se dispunham a trocar o fascínio da riqueza fácil no Oriente pelo desbravamento dos trópicos selvagens.
El-Rei, coloca a questão num Conselho Real e apesar de alguns conselheiros se manifestarem entediados com o tema, insiste e obtém a informação, através de António de Ataíde, Conde de Castanheira, de um infiltrado na Sociedade parisiense, de que os franceses estariam preparando uma nova investida contra o Brasil.
O pau brasil e a sua utilização, despertavam a cobiça dos povos do norte da Europa, as riquezas extraídas pelos espanhóis onde se incluía a exploração do Rio da Prata, a venda de escravos levados de África, causavam algum incómodo na Corte Portuguesa, cujos cofres se encontravam vazios.
O Conde de Castanheira convence o rei Piedoso a investir forte no Brasil e a enviar um fidalgo seu parente, com poderes para revolucionar a anarquia que por lá reinava.
Acerta na escolha, nomeia e envia para a terra Brasil, como seu primeiro governador, Tomé de Sousa, fundador da cidade de São Salvador da Bahia.
Tomé de Sousa irá contar com a colaboração e protecção de Caramuru , será para o governador de uma lealdade inexcedível e foi sem dúvida o maior pilar da governação de um homem sempre fiel ao seu Rei e às ordens que dele recebera.
Caramuru, um herói quase desconhecido.
Voltarei ao tema para falar sobre Tomé de Sousa, pau Brasil, cana de açúcar e acima de tudo dos gentios.

António Viegas Palmeiro