domingo, 24 de janeiro de 2010

CANTINHO DOS MARAFADOS


A frase tem 2064 anos ...

Quem diria...
O Homem sabia do que falava......


Palmeiro

MORREU UMA GRANDE MULHER


Deixei passar propositadamente alguns dias sobre a tragédia do Haiti para tentar escrever um pouco mais friamente sobre alguém com quem tive a grande honra de me encontrar uma vez.
É assustador a forma como passamos a vida olhando para o próprio umbigo e praticamente não tomamos conhecimento de desaparecimento de alguém, que entregou a vida a uma causa e por essa mesma causa morreu.
Um futebolista, um politico, ou alguém que fosse figura habitual das chamadas “revistas cor de rosa” claro que ninguém iria ignorar.
A Rádio Vaticano ao anunciar a sua passagem para uma dimensão superior, disse: Morreu a grande mãe brasileira, eu retiraria aqui brasileira, por ela foi a grande mãe do Mundo, não tinha nacionalidade. Onde houvesse crianças e idosos necessitados, esse era o seu lugar.
Refiro-me objectivamente à médica sanitarista Zilda Arns Neumann, Fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança. Tornou-se conhecida pelo seu trabalho no combate à mortalidade e desnutrição infantil. Foi uma mulher sempre solidária com os desfavorecidos, apesar de ver tanta miséria e tanto absurdo, jamais demonstrou, revolta, tristeza ou amargura, sentia com certeza esses sentimentos, mas sempre conseguia, com a sua alegria e beleza, arrastar consigo um “exército” de seguidores.
Tinha há um tempo atrás entregue à Irmã Vera Lúcia Altoé a coordenação da Pastoral da Criança no Brasil, tendo assumido a Pastoral do Idoso, sempre voltada para aqueles que não têm voz e que estão limitados pela idade, continuou no entanto à frente da Pastoral Internacional da Criança.
Transcrevo aqui um trecho do discurso que a Dra. Zilda fez minutos antes de morrer:
“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmo” significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça, significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objectivos, servir com humildade e misericórdia sem perder a própria identidade.
Cremos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças…
Como os pássaros que cuidam de seus filhos ao fazer o ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe dos predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar dos nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los .
A médica Zilda Arns dedicou a existência a minorar o sofrimento dos desfavorecidos e a evitar o desperdício da vida. Até ao último minuto. Viveu como Santa e morreu como mártir aos 75 anos.
Nasceu em Forquilhinha, Estado de Santa Catarina, era viúva de Aloysio Neumann, 13ª. filha de um casal descendente de alemães, mãe de 6 filhos. A morte do marido aos 46 anos num acidente no mar alterou o curso da sua vida, a partir daí ela começou a alterar o destino daqueles que a miséria e a ignorância havia fadado para o sofrimento.
Era irmã de D. Paulo Evaristo Arns, que foi Cardeal Arcebispo e hoje Arcebispo emérito de São Paulo.
A Dra Zilda, com certeza jamais será esquecida por aqueles que a admiravam, peço licença para me incluir neste número, e por todos aqueles que beneficiaram da sua bondade, do seu carinho, da sua ajuda e sei que não exagero ao falar em milhões de crianças e idosos.

DESCANSE EM PAZ


António Palmeiro