segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Foto do Moinho dos grelhas em que a última moleira foi D. francisquinha Grelha mãe do josé Grelha , fiscal da Câmara e marido da Professora que na época ensinou as primeiras letras na escolinha da casa dos rapazes a vários Costeletas provenientes da mesma .



As Morraceiras


Uma Profissão que terminou há mais de 50 anos , pela evolução das Tecnologias após a guerra .

A População Rural nessa época ( anos de 1940 a 1955 ) vivia num percentual elevado dos produtos que cultivava numa agricultura de sobrevivência em minifúndios tanto nas áreas de Sequeiro como irrigadas ,ou de ‘ Regadio “ .A área de regadio ou hortas entende-se por uma distancia entre o Litoral e interior de 5 a 7 Km. que no concelho de Faro se verificava até aos limites da Conceição de Faro , Besouro , ( com algumas hortas em bela Salema ) e S. João da Venda .
Actualmente muito se fala em Bicombustível , agricultura Biológica ou orgânica , ( os Agrotóxicos apareceram nos primeiros anos da década de 50 para controlar o carocho Americano ( Escaravelho da batateira , falava o povo ter sido importado pelas multinacionais Americanas para vender o DDT ) . A fertilização orgânica em alguns casos era complementada com a adubação Química que se limitava a alguns corretivos de terrenos designados por “ Buano e Nitrato de Amônio “ .

Nessa época a Morraça em parte era matérias primárias da alimentação animal , a diferença era que não existia o Parque automóvel da forma actual !
Algumas máquinas eram movidas pela força animal em tarefas como arar e endireitar terrenos , puxar engenhos na Tiragem de água para irigação , transportes dos Produtos , ( Nos transportes de pessoas . se notava a situava econômica dos utentes : os pobres utilizavam burros , os remediados ou classe médias Mulas e Machos , enquanto os Ricos os Cavalos. ) Também no Trabalho agrícola era empregadas vacas geralmente Ruívas , porque as de cor Branco e Preto eram Leiteiras .

Os Agricultores precisavam de alimentar os animais que com eles conviviam e trabalhavam , e a Fonte de Alimentação estava na Ria Formosa .em paralelo com outros produtos Alimentares, Peixes e mariscos diversos , até que na época não tinham ainda acesso ás Rações nem Concentrados para animais que se limitavam ao Farelo de trigo também denominado de semea ,

A Ria em Faro se centralizava na Canal que vinha da Ilha do Farol até pouco depois do local onde a Marinha Fundeava as canhoneiras Bicuda e Azevia .
Em ambos os lados saíam as denominadas regueiras que se sub/dividiam em outras mais pequenas que no Movimento das Marés cobriam quase a totalidade dos ilhotes e parchais . Precisamente nesses ilhotes se encontravam dois grupos de Plantas :
A Morraça de cor Verde que conforme crescia as folhas agarradas ao caule . Planta pela sua natureza pode atingir os 50 cm. ou mais . Mas seu Valor energético e nutritivo se encontra enquanto sua altura não subia além dos 25 cm .
Desconheço seu valor protéico , mas deduzo esteja na média dos 20 % , , logicamente que não tão concentrada como os grãos das Plantas milho etc. mas na utilização alimentar das Vacas Leiteiras aumentava a Produção do Leite ( embora o mesmo tivesse um paladar característico da mesma )
O outro grupo era formado por algumas variedades a que na generalidade chamavam de Mato , arrancada por uma “ Ganchorra “ ( tinha um cabo de madeira que termina com dentes grossos virados para dentro que passando pelo mato o quebrava perto da raiz , Esse mato era utilizado nas camas dos animais ( poupando a palha e o feno ) e se transformava no estrume ( o adubo orgânico ) que fertilizava as culturas .
Existia ainda outro Produto chamado por Sêba ( folhas compridas e finas existentes no fundo da Canal e regueiras maior que se ao despender se juntavam nas areias das ilhas e também dos ilhotes ) sua utilização era a de conservar as batatas evitando a traça .
As Morraceiras
Na generalidade mulheres dos Agricultores que iam apanhar a Morraça , na generalidade um dia por semana , em pequena percentagem os homens !
Vinham desde Machados , Bordeira . Alcaria Cova , muitas da Falfosa , descendo outros sítios até ao litoral . Não é exagerado falar em vários milhares que tendo como ponto de Partida os Moinhos existentes com seus pequenos cais desde o da Torrinha até ao do Ferradeira depois do Chale das Canas , embarcavam em Lanchas com destino aos ilhotes para apanhar a Morraça .
Algumas eram profissionais que apanhavam diariamente a Planta para vender a clientes agricultores enquanto muitos marítimos que na generalidade vendiam o Mato e a Seba também se dedicava á Morraça .
A venda tinha como medida básica a designação de Maré , o que equivalia a uma quantidade numa média de cerca de 400 litros , efectuado por vinte escudos , tendo de pagar vinte e cinco tostões ao barqueiro ( o salário agrícola era para as mulheres de doze escudos e dos homens vinte escudos )
. Naturalmente muitos Marítimos apanhavam o equivalente até três marés ou mais . mas a concorrência ou competitividade não era significativa até que cobravam das Morraceiras a passagem .
A Morraça era apanhada em horários de acordo com as Marés antes da água cobrir os Ilhotes , as mesmas denominadas de Marés Vivas consoantes as fases da lua Nova e Cheia , enquanto nos quartos Minguante e Crescentes eram as marés Mortas .
Nas marés vivas o tempo de trabalho era menor podia terminar antes do meio dia , mas as plantas encontravam-se mais Viçosas e fáceis de ser apanhadas ou ceifadas com uma foice com cerca de 40 cm com uma pequena curva e dava mais produtividade .
Depois tinham de lavar as plantas para separar as lamas o que aconteciam num recorte do ilhote ! de Inverno era um trabalho difícil devido ao frio do Clima e da água .
Todo essa actividade desenvolvia bastante movimento que testemunhei na Praia dos Estudantes entre os Moinhos do Manuel Lázaro e da Francisquinha Grelha , junto ao qual existia um cais privativo da fábrica Fritz para carga e descarga da Cortiça por via marítima .

Esta recordação é a minha homenagem a muitas dessas personagens das quais existe pouco sobreviventes actualmente .

Saudações Costeletas
António Encarnação