EPISÓDIO
PASSADO COM O SIDÓNIO (ARTISTA)
Sidónio Almeida
Auto retrato
Foi há muito, há muito tempo, foi
precisamente em plena 2ª Guerra Mundial (1941) que eu e muitos mais colegas
frequentava-mos a Escola Comercial e Industrial Tomaz Cabreira.
Eramos ingénuos, eu tinha cerca de
11/12 anos e os colegas uns, pouco menos e outros um pouco mais, de idade.
Eu escolhi a secção de carpintaria, havia
poucos em carpintaria, eram quase todos serralheiros! Na oficina de carpintaria
pontuava o Mestre Vieira e o Mestre Guerreiro com a sua figura alta e esguia,
companheiro da Mestra D. Maria dos lavores das raparigas.
O pátio da Escola estava quase sempre
cheio de colegas que circulavam de um lado para o outro, especialmente no
intervalo das aulas, para cavaquearem um pouco entre colegas e logo de seguida
quando soava a campainha, toca a dirigirem-se para as aulas, trocando de salas
evidentemente.
Ora um certo dia na minha aula
prática de carpintaria, estavam alguns alunos, eu próprio, o Mário Rodrigues, o
Farrobinha, o Arrais, o Matias e ainda outro que não me lembro e os Mestres
naturalmente… quando de repente entra na oficina, inesperadamente o nosso amigo
Sidónio (o artista) com um grande cepo de oliveira na mão e a gritar com aquela
voz “fanhosa, de barítono mal afinado” a dizer: Está aqui, está aqui…vou fazer
o “Magaref”, o Magaref, mas qual Magaref? (É que o Sidónio estava matriculado,
mas só ia as aulas quando lhe apetecia, e o interesse dele era simplesmente o
das artes).
Na oficina começou logo a trabalhar o
tronco de oliveira para fazer certamente algum BUSTO, ou coisa semelhante, (nunca
cheguei concretamente a saber o que queria fazer).
O que é certo é que o amigo Sidónio
na aula prática seguinte faltou e foi faltando e o “Magaref” nunca mais se fez
e o amigo Sidónio desapareceu, porque eu não me lembra de tê-lo visto novamente
dentro da oficina ou na Escola.
Encontrava-o por vezes cá fora, quase
sempre na Rua de Sto. António conversando com os amigos.
Perguntava-lhe, então o Magaref,
dizia-me, que qualquer dia iria fazer o trabalho, mas o que é certo é que não
me lembro de ter voltado, pelo menos à oficina.
Era assim, descontraído e indiferente
aos acontecimentos, apenas lhe interessando as artes; o nosso amigo e saudoso
SIDÓNIO.
É um pequeno episódio passado com o Sidónio, mas que eu recordo com
saudade.
Wenceslau
Pinto
Gorjões, 2015