ILUSÕES
CAPITULO I
Na sala da casa de José, que visitava
pela primeira vez, sentado no sofá e olhando para a marquise perguntei
- Onde é que
aprendeu isso tudo, José? Você sabe tanto… Ou talvez seja eu que estou
convencido disso. Não. Realmente você sabe imenso.
José pendura o
lenço de seda acabado de lavar na corda da marquise, volta-se e responde:
- Num livro!
- Num livro?
- Sim, o
Manual da Salvação. É uma espécie de Bíblia dos Mestres. Devo ter um exemplar
na estante, que lhe posso emprestar se estiver interessado.
- Estou, sim!
É um livro que ensina…?
José procurou
afanosamente na estante e voltou com um pequeno volume, tipo livro de bolso,
encadernado num material que parecia ser camurça. Impresso a letras pretas,
podia ler-se:
“Manual
das Ilusões
“Meditação
para o Espírito Evoluído”
- Manual da
Salvação, disse você? Mas neste está escrito Manual das Ilusões.
- É mais ou
menos isso, respondeu ele, começando a recolher os vários objectos espalhados
sobre o maple, como a preparar-se para se sentar.
Folheei o
livro, verificando que se tratava de uma série de máximas e parágrafos curtos.
Num deles li em voz alta “Perspectiva. Se abriste o livro nesta página
estás a esquecer-te de que o que se passa à tua volta não é uma realidade. É
uma ilusão. Pensa bem nisto”
- José, você
leu isto acerca da perspectiva?
- Não!
Tomei a
resposta como uma brincadeira. Continuei a folhear o livro; reparei que estava
ali tudo o que um Mestre precisava de saber.
“Aprender
é descobrir aquilo que já sabemos”, “Todos são alunos e professores”, “Ensinar
é lembrar aos outros que eles sabem tanto como tu”.
- Está muito
calado, disse José, como se quisesse falar comigo.
- Estou! Respondi
continuando a ler.
Se aquele
livro era só para Mestres, não o queria deixar escapar.
- Há uma coisa
estranha neste livro, as páginas não estão numeradas!
- Pois não. Respondeu.
- Basta abrir
para encontrar aquilo que preciso.
- É mágico o
livro?
- Não. Isso
pode acontecer com qualquer livro e até com um jornal, o que interessa é dar
atenção ao que se lê. Já experimentou abrir um livro quando está com algum
problema e ler o que está escrito?
- Não.
- Então há-de
experimentar
Fechei os
olhos e tentei fazer o que ele disse, perguntando para comigo o que iria
acontecer se eu continuasse na companhia daquela estranha criatura que
conhecera há poucos dias. Sempre a pensar nisso, abri o livro e li:
“Os
teus amigos ficarão a conhecer-te melhor nos primeiros encontros? PURA ILUSÃO”
Fiquei
pensativo. Como estava na hora do almoço fiz as minhas despedidas e regressei a
casa.
CAPÍTULO II
Não pretendo
fazer comparações de consentimento com quaisquer fazendeiros do nosso burgo. E
muito menos com os montanheiros,
O que é certo
é que os ciganos precisam de bons terrenos para que o seu “trabalho” prospere. Têm que estar perto dos “clientes” e para isso precisam de descobrir campos de relva, de
feno, de aveia ou de milho cortado a dois passos das respectivas cidades. Sem
pedirem licença aos seus proprietários. Aqui, para terem comida para os seus
animais, ali para se deslocarem com facilidade e tratar do seu “comercio na cidade”. Numa manhã de
Sábado resolvi visitar o José cuja morada se situa nos subúrbios e resolvi
deslocar-me a pé apreciando os campos verdes de erva, sem nada semeado, uma
lástima, verificando, antes de chegar a casa do José, um pequeno aglomerado de,
chamemos assim, “favela cigana”.
Abri a cancela
da propriedade do José e entrei naquele pequeno jardim, de certo modo florido,
e reparei que o proprietário, de joelhos, podava umas roseiras.
- Bom dia
José! Posso entrar?
Respondeu com
um resmungo, que percebi ser “já entrou” e acrescentou:
- Oiça, disse
ele através do espaço que nos separava, “este mundo, e tudo o que nele existe,
não passa de ilusões, desde as coisas
mais íntimas – são tudo ilusões! Percebe o que eu quero dizer?
Não houve
piscar de olhos nem sorrisos; como se de repente ficasse furioso comigo por eu
não saber aquilo há mais tempo. Pensei, “a coisa promete” e respondi
- Sim, está
bem, são ilusões. Foi tudo o que eu consegui responder. Mas mudei de assunto e
disse:
- José, você
tem aqui próximo instalados novos vizinhos.
- Vizinhos?
Isso é outra ilusão. Satisfazem a fome aos animais, roubam-me a água e, de
repente desaparecem e noto depois que tudo o que é de ferro e cobre desapareceu
também. Será isto uma ilusão? Nómadas!
- De facto não
deixa de ter razão mas, até ser ilusão…
- No livro que
lhe emprestei está lá escrito esta máxima:
“É uma ilusão imaginar o universo belo, justo e perfeito”.
Conversámos
sobre outros assuntos e, na hora do almoço, o José apontou-me o dedo e disse:
- Vou tratar
do meu almoço e você, se quiser almoçar, vá para sua casa fazer o mesmo…
Despedi-me,
desejando-lhe bom apetite, saí a cancela e ao mesmo tempo que pensava naquele à
vontade, indeli-cadeza e falta de cortesia, dizia para os meus botões:
“Isto
é uma ilusão. Tudo o que se passou aqui pode estar errado”.
CAPÍTULO III
Uma manhã
destas pus-me a caminho, a pé, para visitar o José.
Quando cheguei
à entrada do quintal puxei o cordel e ouvi a sineta dentro de casa a badalar.
José apareceu
à porta, olhou-me e exclamou:
- Está fechada
à chave por causa dos ciganos.
- Já há alguns
dias que não conversamos e resolvi fazer esta visita, respondi
José abriu a
porta.
- Faça favor
de entrar,
Entrei e
sentei-me no sofá. José sentou-se na minha frente na poltrona.
- Então José,
muita leitura? Venho trazer-lhe o livro que me emprestou.
- Agora
tenho-me dedicado ao computador e ler as mensagens da internet.
- Muita coisa
interessante?
- Numa das
mensagens li que “Alguém” parecia daqueles velhinhos que se
metem pelas auto-estradas em contra-mão, com o ministro das finanças no lugar
do morto, a gritarem que os outros é que vêm ao contrário. De rabo entre as
pernas, fartinhos de saberem que estavam errados, não conseguem agora disfarçar
o mal que nos fizeram.
- Promessas de
salvação?
- Estamos bem
entregues! Querem-nos servir a sopa dos pobres, à custa dos milhões que ainda
recebem da Europa, e dão aos boys a sopa dos ricos, pagam os justos pelos
pecadores, uma injustiça; andam pela União Europeia sem vergonha, de mão
estendida, a mendigar e a rapar tachos, tratados pelos credores como caloteiros
perigosos e mentirosos de má-fé, com um nível “acima do lixo”. Esta tropa “fandanga” deu com os burrinhos na
água, não serve para nada e o estado do próprio regime se encarrega de o
demonstrar. Falharam todas as apostas essenciais e promessas. Todos os dias se
mostram incapazes. E outros virão para que tudo continue igual
- Tens toda a
razão José, só não percebo aqueles que votaram neles e querem repetir.
- Pois, é a
crise que os carneiros não querem ver!
- Claro, são
mesmo carneiros, e estes governantes são uma ILUSÃO, querem ser como os
ilusionistas. Nós vemos todos os truques, mas não percebemos. Eles não querem
que percebamos. Bem, esta conversa faz parte do “prato do dia” e, já sei que não me oferece o almoço. Vou andando
para casa fazer o meu. Até à próxima José.
- Vá com Deus.
E fui,
pensando: “Justiça? Pura ilusão!
d
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