quinta-feira, 8 de outubro de 2015

"UM ARTIGO DE OPINIÃO"


Sonho ou realidade...o leitor que decida

Por Jorge Tavares

  Quem tem necessidade de contactar  diariamente com instituições governa-mentais, camarárias, bancárias  e ou grandes grupos empresas, adquire uma experiência de fazer inveja a qual ser frequentador do “inferno” .
  Nas instituições governamentais, dificilmente obtemos resposta por telefone – se fôr atendido, o que é raro.
  Quando necessitamos que a resposta seja comprovada por documento, passamos a esperar  muito tempo e na grande maioria das situações, nem resposta recebemos.
  Se o assunto que pretendemos tratar, e rara é a situação em que o mesmo não dependa de legislação em vigor, então o sarilho é muito maior: Os códigos, decretos-lei e portarias que regulamentam o exercício do poder governamental são redigidos de molde a deixarem sempre algo em suspenso, que permite o denominado “contraditório “. Exemplificando: um artigo qualquer destas regulamentações, caracteriza um determinado procedimento, para mais adiante um outro artigo, permitir que essa regulamentação não se cumpra, se se verificar isto ou aquilo ou, entre de serviço um advogado, para reclamar, contrapor ou simplesmente, informar.
  Apesar do apreço que tenho por todos os que trabalham, no sector público ou privado, reconheço que a organização e os métodos utilizados, colocam as pessoas a executar formas de trabalho e atendimento, que caracterizo de alucinante. Exemplificando: Uma determinada empresa tem de organizar um processo  para ser apreciado e deferido ou não, por um organismo estatal. Apronta-o e apresenta-se aos balcões com o processo que julga estar em ordem. O funcionário começa a sua análise, e aos primeiros documentos encontra algo que necessita ser corrigido. De imediato toma uma decisão irrevogável : Devolve o processo para correcção.
Esta cena repete-se, com um vai e vem aos balcões,  sempre que qualquer documento necessita correcção. E se houver fila de espera, terá sempre de esperar a sua vez, claro!
  Apesar da proximidade aos cidadãos, a edilidade devia ser muito mais eficiente nos seus métodos, e procurar servir os munícipes de forma exemplar. Tal não acontece, antes pelo contrário. Qualquer assunto que nos obrigue a entrar em contacto com  os serviços camarários, desde licenças de obras, a limpeza e conservação  é um martírio.  Por telefone, é perda de tempo e aos balcões há sempre alguém acima da pessoa que atende, a quem o assunto vai ser exposto. Isto pode significar várias deslocações e tempo de espera, sem que os assuntos se resolvam.
  Mas não apenas, nos serviços públicos.
  Quem pela primeira vez instalou um banco, julgo que a sua filosofia seria: cativar o dinheiro dos depositantes, remunerando com juros, utilizando posteriormente  esses valores para emprestar  a empresas ou indivíduos, cobrando  juros mais elevados daqueles que pagava, e pela diferença obter o seu lucro.
  A certa altura, passaram a classificar esta actividade como Indústria (talvez por que  o dicionário também a define como “arte, manha ou destreza) e ao longo dos séculos passou a ser muitíssimo procurada e apreciada, porque era bem remunerada, principalmente ao nível de dirigentes de topo e médios.
  Com a proliferação de instituições bancárias, a desonestidade das suas administrações e com alguma complacência dos governos e supervisores, a confiança e o serviço que deviam prestar às empresas e particulares, foi-se esvaindo drasticamente, predominando a especulação a todos os títulos. Nos elevados juros que cobram, nas despesas que surgem nos extractos bancários, subtraindo valores sem justificativos, colocando autênticas “marionetas” nas decisões regionais  ( perdoem a expressão que pretende unicamente simbolizar  a sua falta de poder de decisão ), enganando as empresas com promessas de financiamento à sua actividade, criando espectativas que não se concretizam, e colocando autenticas barreiras de acesso a qualquer  diálogo, salvo quando pretendem cativar depósitos.
  Por outro lado, as grandes empresas e os grandes grupos económicos criaram um sistema de diálogo e de comunicação com os clientes e utilizadores dos seus serviços – empresas e cidadãos -  através do “abençoado” call center. Temos de reconhecer  a enorme vantagem para as empresas: Redução de custos com pessoal, utilização de pessoas sem grandes qualificações e contratados em condições de quase escravatura, a quem é ministrado um curso intensivo de atendimento  (reconheçamos a delicadeza no atendimento) para ficarem especialistas no uso da tecla do telefone: Se quiser falar com, carregue na tecla 1 do seu telefone, ou digite o seu número de cliente com as teclas do seu telefone e assim sucessivamente. Já me aconteceu que os  departamentos  são tantos , que tenho de repetir uma e outra vez para saber concretamente o que devo fazer e depois, ainda não é aquele mas o outro, e repete e repete até à exaustão, ou até cair a chamada, o que também é bastante frequente.
  Acresce ainda que, se esse contacto é originado por uma factura que não está correcta, temos sarilho garantido. Temos de pagar e aguardar meses pela rectificação e depois de muitos e muitos  minutos de conversa com muitos e diferentes“call center”.
  Acordei! Estive sonhando que estava em qualquer país do terceiro mundo... E afinal, estou em Portugal e no meu país é assim!... Que medo!!!!!!!!!!


CULTURA

Olhão: cultura no “Poesia a Sul”.
Até ao dia 17, o concelho de Olhão vai ser “invadido” por cultura, nas mais variadas formas e em locais diversos. Trata-se da primeira edição de “Poesia a Sul”, uma organização da Câmara Municipal com a presença de nomes grandes da cultura ibérica ao sul.
O certame, o maior encontro de poesia a sul de Lisboa e comissariado pelo advogado e escritor olhanense Fernando Cabrita, leva ao concelho de Olhão nomes sonantes da cultura nacional e internacional, como Manuel Alegre, Amadeu Batista, Teresa Rita Lopes, Fernando Esteves Pinto, ou Manuel Moya, entre muitos outros.

Poesia, exposições, animação de rua, debates, música, apresentação de livros e sessões de declamação de poemas são apenas alguns dos motivos pelos quais vai valer a pena visitar Olhão na primeira quinzena do mês de outubro…

Algarve Brass Forum faz estreia nacional em Lagoa

O auditório municipal de Lagoa vai acolher, nos dias 9 e 10 de outubro, entre as 10h00 e as 24h00, a primeira edição do Algarve Brass Forum. Trata-se de um evento inovador em Portugal, produzido pela Orquestra de Jazz do Algarve, que pretende ser “o ponto de encontro criativo para músicos, profissionais ou amadores, estudantes 




O que se vivia na minha rua
Recordações dos anos 30/40

Era “moce” e as recordações daquele tempo abrem-se, não na minha imaginação, mas na minha memória. Parece que foi ontem. Mas já lá vão oitenta e alguns mais.
Tentarei passar a “gravação do filme” daquilo que a minha memória se lembra do quotidiano da minha rua, naquele tempo.
Abramos um parêntesis para focar algo de diferente.
Rapazinho, que eu era, não tinha brinquedos com a quantidade que hoje se vê. Muitos dos brinquedos imaginava-os. E, quando desejava alguma coisa, lutava para alcançar esse objectivo. As crianças de hoje não têm  imaginação, não lutam, nem se empenham, não convivem, porque não vivem, como nós vivíamos livremente. A ocupação de hoje é feita na frente de um televisor ou de outros aparelhos que a invenção tecnológica lhes proporciona. Falta-lhes a liberdade, que nós tínhamos de correr pelas ruas sem o perigo dos carros, dos assaltos ou… dos raptos. A nossa televisão era de facto a rua. Mas vejamos em pormenor o quotidiano que referi.

A minha rua

Manhã cedo e batiam à porta. Era a “Ti Chica” com o leite num cântaro de lata. Ou então, quando ela não podia, o rapaz a bater e a gritar “Leititos”. E lá ia a mãe com a vasilha para comprar a quantidade, para o café da manhã, de toda a família.
O carteiro batendo a todas as portas para entregar pessoalmente a correspondência. O homem das “carca-nholas”(ostras) a dois tostões a dúzia. A mulher das bananas e “alcagoitas”; por vezes passavam o “menino Xico”, o “Cuco” o “Gaiana” o homem das rifas a apregoar “do menino pr’á menina, da menina pr’ó menino é testão”. Tudo diferente daquilo que é hoje.
Mas continuemos, porque, estamos a ouvir uma sineta no cimo da rua, era a carroça do lixo puxada pelas bestas, a cheirar que tresandava, com os homens que recolhiam o lixo, dentro das alcofas, para despejarem na carroça, com o acompanhamento de uma praga de moscas.
E, logo a seguir, vinham os aguadeiros com os cântaros de barro, que enchiam no poço de S. Pedro, fazerem a distribuição.
A “Ti Maria”, e outras, com seus produtos hortícolas, e que eram pesados naquela balança já ferrugenta e desalinhada. Balança romana que devia valer hoje uma boa quantia de euros para os coleccionadores daquelas relíquias.
          E a carroça ali ficava parada no meio da rua, com as mulheres à volta, e sem paragem do trânsito. Não havia carros.
O homem do sal, numa pequena carroça, puxada pelo burro e que gritava “Sal e azar”, que a polícia de vez em quando o levava preso e que, depois de solto, voltava a vender o sal com o mesmo pregão.
Aproximava-se a hora do almoço, sentindo-se, por toda a rua, aquele cheirinho de boa comida.
E logo depois, verificava-se uma calmaria, naquele período de descanso sem burburinho.
Por vezes ouvia-se a gaita do caldeireiro ou do amola-tesouras, aquele que remendava com solda os tachos de cobre e punha “gatos” nos de barro, este com aquele barulho característico a amolar as tesouras e as facas.
À tardinha ouvia-se a correria louca dos ardinas com os jornais nas suas sacolas. Jornais que tinham chegado no rápido de Lisboa. Era uma “guerra” aberta entre o Vieguinhas e o Pardal apregoando o “Século” o “Diário de Notícias” e outros.
Por vezes observávamos desentendimentos entre as mulheres, com puxões de cabelo, por causa dos maridos ou das amantes.
Mais “filmes”, da minha rua, poderíamos contar no dia a dia da cidade, bastava um pouco mais de atenção.
Era assim o dia-a-dia da minha rua na cidade de Faro.
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Faro - Anos 30