A INOCÊNCIA DOS LOUCOS
Com excepção dos inocentes, das crianças, dos loucos, subentenda-se aqui
os "bons loucos", é difícil encontrar alguém assim como ele, o meu
amigo Silva.
Só não sei exatamente em qual dessas
categorias ele seria inserido com mais acerto. Seria na categoria dos
inocentes? Talvez, apesar de ter mais de sessenta e cinco; como todo o homem
maduro, avò de dois netos. Dono dessa inocência que faz a pessoa cantar para os
netos dormirem, para os netos acordarem "ligados", e na impossibilidade de poder cantar para os filhos
e netos dos outros dormirem e acordarem.
Ele sabe aquele tipo de paz, de quando a gente
fecha a cortina e não importa se o que bate na vidraça é o vento, a chuva ou o
sol? É desse tipo, a inocência da qual me refiro. Tudo está bem de qualquer
jeito, porque o mundo do inocente transborda mesmo é no coração.
Falando em bater no vidro, lembrei-me
de que justamente com o Silva aconteceu o seguinte, num trânsito de situação infernal.
Lá estava ele, dirigindo, com as crianças devidamente sentadas no banco de
trás, enquanto no banco do lado viajava a sua carteira.
Obviamente, tratando-se do avò, eles
cantarolavam alguma música junto com o rádio.
Eis que, no semáforo vermelho, dois
motoqueiros, um de cada lado do carro, param. O do lado do motorista, bate no
vidro e o Silva olha, achando um pouco estranho aquele homem, naquele calor,
com aquela roupa toda e mais o capacete fechado.
Não consegue entender o que ele diz.
Também, com aquele capacete e o volume da música no rádio! Ele parece agitado e
o Silva abre um pouco mais o vidro, sugerindo com um gesto para ele abrir o
capacete. Ele levanta a viseira, e assim o percebe realmente irritado mas não
entende o que diz. Então ele comenta para o “motoqueiro”:
- Tá
um grande calor?
O outro insiste, apontando para o
outro lado. Ele olha e nota que o outro vidro está meio abaixado e responde
sorrindo:
- O vidro está aberto! Obrigada moço!
E começa a fechar os vidros, percebendo nesse momento que existe mais um “motoqueiro”, do outro lado do carro.
O sinal abre e então os dois “motoqueiros” saem lado a lado,
conversando. O neto de apenas sete anos lhe diz:
- Avô, você não percebeu que ele te
queria assaltar?!
- Imagina filho, não era nada disso,
ele estava avisando que o vidro estava aberto!
Dias depois ele sabe pelo jornal que
existem duplas de motoqueiros atacando naquele semáforo. Roubando os
motoristas, principalmente mulheres e pessoas idosas, das quais eles "pedem" as bolsas e carteiras.
Mas será que ele se encaixaria mais
na categoria criança? Talvez, já que brinca e conta histórias para crianças
como se fosse uma delas!
Por fim, seria louco este meu amigo?
Talvez... Porque manter a inocência nos dias actuais, só de loucos!
Rogério Coelho
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NOTA:-Assuntos pendentes não me permitiram trabalhar o Blog na Quinta Feira. Roger