“O Lume Ateou a Chama do Amor”
Conta-se que, em tempos
idos, na época do romantismo, um rapaz, filho de família tradicional mas, de
fracos recursos económicos, apaixonara-se por uma linda moça, logo que a viu,
pela primeira vez. Maria Francisca era filha de pais abastados e ele não se
atrevia a transmitir-lhe o sentimento que tinha por ela.
Um dia, confidenciando,
com José, seu amigo desde a infância, confessou-lhe o que sentia por Maria. Este
ao ouvir o seu desabafo, aconselhou-o a mudar o visual, vestir-se com elegância,
dizendo que lhe facultaria o que ele precisasse. E, quando ela lhe perguntasse
qual o seu modo de vida, dizer-lhe que negociava os produtos que cultivava na
propriedade que tinha e, que vivia com os pais, em “Vila Formosa”.
Alberto, era este o seu
nome, ficara apreensivo, José aconselhara-o a uma coisa que não seria a melhor
ideia pois, tem-se em dizer que, “brincando com o lume”, poderia queimar-se. Seria
uma grande aventura se a pusesse em prática. Mas , o tempo passava e nada acontecia. Vendo
que não tinha outra alternativa, decidira fazer o que o amigo lhe alvitrara.
Alberto sabia que, na
“Aldeia dos Roseirais”, onde a moça vivia, realizavam-se bailes todos os
sábados à tarde. Maria Francisca estaria lá, de certeza, e ele teria ocasião de
se encontrar com ela. “ Se bem pensou, melhor o fez ”.
E, quando o baile abriu, Alberto
dirigiu-se a Maria e, com a delicadeza que lhe era peculiar, convidou-a para
dançar. A moça não se fez rogada. Nesse rodopio constante das danças, o moço
abrira-lhe o coração, dizendo que havia algum tempo que se sentia atraído por
ela, em suma, estava apaixonado. E, no seguimento da declaração, perguntara-lhe
se ela aceitava namorar com ele. Maria Francisca hesitou em responder depois,
reflectindo no pedido, disse-lhe : - “ Você não me é indiferente mas, eu mal o
conheço! “ -. Então, Alberto relatara-lhe o que havia sido combinado e
aconselhado pelo José. A partir desse momento, o sonho que sustentava, tornara-se
realidade...
O tempo corria veloz e os
jovens, cada vez, mais apaixonados. Numa tarde amena de Primavera, Maria e
Alberto conversavam animadamente, sentados sob um caramanchão, coberto de rosas
trepadeiras. Ela fazia projectos para o futuro. Em dado momento, a rapariga
perguntou-lhe quando é que ele a levaria a conhecer os pais, pois a partir daí,
seria um passo para o casamento. Alberto fora apanhado de surpresa e, logo não
lhe deu resposta. Maria apercebera-se da sua perturbação, perguntando-lhe se estava
com algum problema. Ele respondera-lhe que tinha tido apenas, uma repentina dor
de cabeça mas, que já estava a acalmar. E, levantando-se despediu-se dela,
dizendo que depois combinariam o dia certo para a apresentar à família.
Alberto estava
desorientado, não sabia o que fazer, apanhado pelo lume que o envolvia. Como
iria sair dessa fogueira que ele mesmo ateara!?
Não podia voltar a vê-la!...
Entretanto, Maria Francisca
estranhava a ausência de Alberto e perguntava-se: - “O que teria acontecido?
Ele dizia-me que eu era o grande amor da sua vida! Seria fingimento? Não podia
acreditar que se tivesse afastado dela, sem lhe dizer a razão! ” –
Por outro lado, Alberto
sofria horrivelmente… Decorriam dois meses, desde o dia em que estivera com ela
pela ultima vez. Não podia esperar mais tempo, por isso foi novamente falar com
José, para lhe dizer o que acontecera.
Quando este o viu, ficou
alarmado por ver o estado em que o amigo se encontrava. Tentou serená-lo, dizendo:
- “Não resolves nada, a
sofrer dessa maneira. O melhor que tens a fazer é dizer-lhe toda a verdade. Se
ela te ama realmente, embora fique furiosa, vai perdoar-te”-.
O moço aceitou o conselho,
com alguma apreensão. Passados alguns dias, encheu-se de coragem, vestiu-se com
a sua própria roupa, e apresentou-se humildemente à namorada. Maria ao vê-lo
quase não o reconhecera, se não fora os seus gestos e a fala. Depois, ela perguntara
a causa do seu mau aspecto e porque estivera tanto tempo sem aparecer.
Alberto, calmamente,
narrara-lhe a triste estória; mas, se assim procedera, foi com receio de que
ela não o quisesse pela sua pobreza e pediu-lhe que o perdoasse.
A rapariga ao ouvir aquele
enredo, ficou desorientada, e disse-lhe que não o queria ver nunca mais. Disse-lhe
ainda, que ele esteve brincando com o lume.
Perante o acontecido, o moço não teve palavras
para se defender e, consternado, foi-se embora, cheio de amargura...
Alberto ficara
psicologicamente afectado, José vendo o amigo a definhar-se, resolvera tomar
uma atitude, ir em sua defesa. Contactara Maria para lhe explicar que o único
culpado era ele, incitando-o a tal encenação. Por isso, pedia-lhe que não
destruísse um amor tão sincero e lhe perdoasse.
Depois do esclarecimento
de José e de saber que o Alberto estava muito doente, resolvera encontrar-se
com o namorado e dizer-lhe que o amava muito…
Quando os pais de Maria tiveram
conhecimento deste desatino, opuseram-se ao enlace, pelo único motivo de
Alberto ser pobre.
Os moços estavam sujeitos
a sofrer a proibição ao seu amor, mesmo assim, juraram fidelidade um ao outro…
Porém as coisas mudavam de
feição, a favor dos dois enamorados.
Alberto tinha um tio no
estrangeiro, muito rico, solteiro e sem filhos. Ao ter conhecimento do que se
passava com o sobrinho, veio em seu auxílio, para apadrinhar a união e oferecer
alguns bens essenciais aos noivos para começarem a vida de casados, sem grandes
dificuldades...
Assim terminava este episódio,
que fora envolvido pelo lume da paixão, mas a tempo de ser apagado, para dar
inicio a um lume mais ardente, o que unia dois corações, pela chama de um
grande amor!...
“Maria Romana”
Sem comentários:
Enviar um comentário