“Um Misterioso Iceberg” !...
Não
sei quantos, mas há muitos, muitos anos, uma frota bacalhoeira, desatracava do
cais, da Estação Fluvial de Belém.
Toda
a tripulação, era ela, composta por homens experientes, audazes marinheiros,
alguns diziam-se de origem mediterrânea...
A
despedida era muito triste, para os que partiam e para os que ficavam...
Difíceis, eram também, as comunicações naquela época!
Em
amplo Oceano Atlântico, os mareantes avistavam, ainda, uma nuvem de lenços
brancos a acenar, ao mesmo tempo que, ouviam na imensidade do espaço, o eco que
repetia incessante-mente:
-
“Boa viagem, Deus vos acompanhe, até à volta!”-
A
frota rumava com destino ao Canadá! O tempo que levaria na viagem, dependeria
do que pudesse surgir. Os perigos espreitavam a cada instante! As noites
pareciam infindáveis... Até que, a certa altura, se aperceberam de que a Terra
Nova não estava longe, pelas mudanças bruscas das temperaturas.
-
Ventos arrebatados enfunavam as velas e atingiam as proas; surgiam os icebergs,
que estavam na fase dos degelos. Ondas alterosas e a bruma, a grande inimiga
dos navegantes, dificultando-lhes a visibilidade mas, com a ajuda de Deus, tudo
ia sendo ultrapassado...
Numa
manhã muito fria, a frota alcançava o termo do percurso...
Agora,
o trabalho iria ser árduo. A Pesca do Bacalhau seria, sem sombra de dúvida, uma
verdadeira aventura!...
Tudo
estava a postos- Descidas as amarras, a frota fundeava ao largo do Oceano; a
azáfama a bordo não parava. Arreavam-se os dóris; cada barco, comportava uma equipa
de três a quatro homens.
Em
seguida, dirigiam-se para os Bancos... Aí preparavam os cercos; anzóis no mar e
os insaciáveis bacalhaus induzidos pelo engodo, não se faziam esperar...
O
tempo passava, os porões abarrotavam e os incansáveis escaladores não tinham
mãos a medir. Seguia-se a salga, depois a secagem. Tudo era feito ao mais
ínfimo pormenor!
De
vez em quando as actividades piscatórias tinham de ser interrompidas, quando o
mar não favorecia, ou pela terrível brisa, frios que os pescadores não conseguiam
suportar.
Havia
meses que eles mantinham a dura labuta, sujeitos a problemas de vária ordem...
Apesar dos contratempos, a safra tinha sido bastante generosa e a faina chegava
ao fim.
A
Companha preparava-se para a viagem de regresso, mas antes, iria em terra,
comprar algumas recordações para familiares e amigos.
Finalmente,
o dia aprazado para a partida!
No
cais, lá estavam os amigos e alguns camaradas, que ficavam por lá, para lhes
desejar boa viagem.
Navegavam,
em pleno alto mar, quando ao fim do segundo dia, quase ao escurecer,
desencadeava-se uma enorme tempestade! O firmamento e o mar assemelhavam-se a
mantos negros; os navios andavam em remoinho e as velas despedaçavam-se, com as
fortes rajadas de vento. Relâmpagos fosfóricos cruzavam o espaço, seguidos de
estrondosos trovões...
Os
pescadores mal diziam a sua sorte e, na maior aflição elevavam ao céu as mãos
postas em cruz, numa fervorosa súplica:
- “Senhor,
salva-nos! Nossa Senhora dos Navegantes, encaminha-nos para bom porto!”
Estavam
na iminência de naufragar!... De repente, como por milagre, um clarão iluminava
um rochedo, de grandes proporções, ao mesmo tempo que, uma força oculta,
detinha toda a frota, ficando esta, completamente estática. A gigantesca
falésia estendia-se às embarcações e nela havia umas reentrâncias, espécie de
degraus, formando uma escadaria.
Os
Arrais pediam aos seus homens muita coragem pois, iriam subir até ao cimo do
monstruoso rochedo...
Assim
aconteceu! Alcançado o ponto mais alto, viram com surpresa, uma pequenina ermida
na qual se encontrava sobre uma mísula, a Nossa Senhora dos Navegantes, com o
Menino Jesus no regaço... Todos ajoelharam e, perante as belas imagens,
rezaram, agradecendo as suas vidas.
Agora
mais confiantes, acomodavam-se o melhor que lhes era possível e ali esperaram
que a procela se afastasse completamente. Aquela luz intensa, também se
manteve, como farol, até o vendaval se ausentar.
A
aurora despertava, o mar começava a ficar sereno e os homens desceram às
embarcações, sem problemas!
De
novo a bordo, mas preocupados, verificaram os danos causados pela tempestade e,
como não tinham outra alternativa, voltaram ao ponto de partida, para
consertarem as três embarcações , da respectiva frota...
Passados
alguns dias, a navegação recomeçava, cautelo-samente. À medida que se aproximava
do local, onde se encontrava a imponente falésia, que tinha sido porto de
abrigo dos pescadores, viram em seu lugar, um majestoso Iceberg. Tudo era tão
misterioso!...
Fosse
o que fosse, eles tinham sido salvos, graças à Divina Providência, por isso,
fizeram uma breve paragem em sinal de agradecimento pelo bem recebido! Nesse
preciso momento, surgiam três enormes baleias que se abeiraram da frota, depois
colocaram-se, como guias, à frente de cada embarcação... E a viagem decorrera
sem qualquer incidente.
Os
navios –São Cristóvão, São Pedro e Neptuno atracavam no cais, de terra
portuguesa. Enquanto todo o cenário se desenrolava, os robustos animais que os
acompanhavam, desapareceram tão misteriosamente, como surgiram. Mas, de uma coisa
os pescadores tinham a certeza, a bordo, traziam o fruto do seu trabalho e,
ainda, nas suas mentes, a mais insólita estória para contar!...
Maria Romana
Sem comentários:
Enviar um comentário