sábado, 24 de maio de 2008

NOTÍCIAS DE COSTELETAS

Manuel Silo da Graça Caetano



Depois de ter conseguido divulgar e colocar a alfarroba nos mercados internacionais, Manuel Caetano quer dar novo impulso ao fruto e explorar as suas potencialidades na produção de biocombustíveis. Aproveitando o conhecimento das Universidades de Évora e de Faro, o Vice-Presidente da Associação Interprofissional para o Desenvolvimento da Produção e Valorização da Alfarroba, crê ter condições para avançar com a construção de uma unidade industrial de bioetanol em quatro anos e promete criar uma nova indústria no panorama económico do Algarve. A fábrica terá capacdade para produzir três milhões de litros de combustível


IN Jornal "Barlavento"


Colocado por Rogério Coelho

IMPRENSA JN e um COSTELETA


UM GRANDE COSTELETA

MÁRIO ZAMBUJAL, jornalista, escritor, poeta, contador de histórias, homem da rádio, televisão, cinema e teatro e outros, um homem do mundo. Foi ele que deu esta entrevista ao JN e que, respeitosamente, reproduzimos aqui.

"A ideia do prazer está muito associada a mim"

Mário Zambujal sempre se recusou dedicar por inteiro à escrita porque considera que essa é uma matéria que lhe apetece fazer por prazer. Diz que, depois de ter escrito a "Crónica dos bons malandros", em 1980, a obra se lhe colou à pele. Reconhece que foi para o jornalismo por paixão e que, de certo modo, o acaso faz parte da sua vida. Publica, agora, "Já não se escrevem cartas de amor".

Não esconde que sempre foi um romântico e que, nos tempos da juventude, escreveu tantas cartas de amor que até lhes perdeu a conta. Lamenta que hoje tenha desaparecido esse lado encantatório da carta e da caligrafia. Mas, dono de um refinado sentido de humor, brinda-nos com um sorriso franco e remata "Vivemos dependentes do telemóvel e do computador, mas mantemos as mesmas paixões".

O seu novo livro é um olhar melancólico sobre a Lisboa dos anos 50. Contudo, o autor avisa: "Não sou um saudosista".

Não tem sido muito assíduo a publicar...

Mário Zambujal
É verdade. Tive muito rompante de escrever quando lancei a "Crónica dos bons malandros", em 1980. Seguiram-se-lhe "Histórias do fim da rua" (1983) e "À noite logo se vê" (1986). Depois, estive muitos anos sem publicar, embora continuasse a escrever muito para rádio e televisão. É claro que essa produção não dá para pôr na estante....

Mas durante esses anos não lhe apeteceu publicar?

Houve uma altura em que fui desafiado para me dedicar por inteiro à produção literária. Mas a ideia do prazer está muito associada a mim. Sempre achei a liberdade de escrever uma coisa fabulosa. Mas mais fabuloso ainda é a liberdade de não escrever. Os livros que escrevi deram-me prazer. E lancei-os na convicção de que também daria alguma coisa às pessoas. Não penso que sejam livros de grande significado intelectual. Mas gosto que as pessoas acabem de ler e digam "gostei disto". Essa é também a minha grande satisfação.

Agora, está de volta com "Já não se escrevem cartas de amor". Um livro melancólico...Todas as pessoas, quando chegam a uma certa idade, têm saudades do tempo em que eram novas. E tendem a dourar esses tempos...

Se calhar, isso é uma estupidez. A grande riqueza dessa época era que eles eram novos e desfrutavam de tudo. As pessoas tendem a guardar o melhor que têm. E isso, se calhar, também me acontece. Mas não sou nada saudosista. É claro que não posso esquecer de quando tinha 20 anos e de como me divertia e de como gostava das raparigotas..

Este livro é autobiográfico?

Não sendo na totalidade, a verdade é que aquele gajo de 70 anos, o Eduardo, tem muitas coisas minhas. E as diferentes personagens são construídas com base em tipos que conheci. Porque, afinal, o que é uma personagem? É uma pessoa. E ninguém inventa personagens que não sejam parecidas com as pessoas que conhece ou que conheceu. As minhas personagens são inspiradas pela realidade das pessoas que me cercam. Portanto, ou são generosas ou maliciosas ou são aquilo que a gente sabe que existe. Não alteramos uma realidade. O desenho psicológico das personagens equivale àquilo que vemos que é a realidade humana.

Em "Já não se escrevem cartas de amor", há algumas referências à situação política da época.

Mas são apenas afloramentos....
Este livro não tem pretensão de ser um livro sobre a situação política da época. Não sou investigador. Por isso, afloro apenas algumas coisas. Acho deslocado falar-se dos anos 50 numa cidade, num país onde havia uma determinada realidade política e social e passar à margem disso. O livro não pretende ser um retrato dos anos 50, uma memória política dos anos 50, porque sobre isso já se escreverem muitos e bons livros. Mas, uma vez que a acção decorre nessa época e o cenário é Lisboa, preciso dar ao leitor algumas coordenadas.
Este é um livro cheio de referências afectivas a diferentes lugares de Lisboa, ao cinema, aos livros, à música da época....

O cinema foi uma das minha paixões. Não havia televisão e, quando passou a existir, mudou muita coisa. Antes, as pessoas saíam de casa de fatinho, iam aos chás dançantes, onde, obviamente, não tinham que se limitar a beber chá. Não havendo televisão, ficar em casa à noite era bom, mas era chato. Hoje, há isso tudo e muito mais e, mesmo assim, os jovens gostam de sair.

Como definiria este livro?

Acho que este é um livro sobre um tempo (até os capítulos estão divididos em horas...). É um acompanhar da memória através de um determinado período de vida de uma pessoa. É a viagem dessa pessoa, de 70 anos, que está bem com a vida e que, enquanto espera o regresso de alguém que lhe é querido, vai aos confins da sua memória, recorda e de novo regressa ao tempo actual. Nas últimas linhas do livro, as duas histórias tocam-se e resolvem-se.

publicação de
João Brito Sousa