quarta-feira, 1 de março de 2017


Um bonito texto da "Costeleta Poetisa Maria Romana"


“Um Misterioso Iceberg” !...



Não sei quantos, mas há muitos, muitos anos, uma frota bacalhoeira, desatracava do cais, da Estação Fluvial de Belém.
Toda a tripulação, era ela, composta por homens experientes, audazes marinheiros, alguns diziam-se de origem mediterrânea...
A despedida era muito triste, para os que partiam e para os que ficavam... Difíceis, eram também, as comunicações naquela época!
Em amplo Oceano Atlântico, os mareantes avistavam, ainda, uma nuvem de lenços brancos a acenar, ao mesmo tempo que, ouviam na imensidade do espaço, o eco que repetia incessantemente:
- “Boa viagem, Deus vos acompanhe, até à volta!...”
A frota rumava com destino ao Canadá! O tempo que levaria na viagem, dependeria do que pudesse surgir. Os perigos espreitavam a cada instante! As noites pareciam infindáveis... Até que, a certa altura, se aperceberam de que a Terra Nova não estava longe, pelas mudanças bruscas das temperaturas.
- Ventos arrebatados enfunavam as velas e atingiam as proas; surgiam os icebergs, que estavam na fase dos degelos. Ondas alterosas e a bruma, a grande inimiga dos navegantes, dificultando-lhes a visibilidade, mas, com a ajuda de Deus, tudo ia sendo ultrapassado...
Numa manhã muito fria, a frota alcançava o termo do percurso...
Agora, o trabalho iria ser árduo. A Pesca do Bacalhau seria, sem sombra de dúvida, uma verdadeira aventura!...
Tudo estava a postos- Descidas as amarras, a frota fundeava ao largo do Oceano; a azáfama a bordo não parava. Arreavam-se os dóris; cada barco, comportava uma equipa de três a quatro homens.
Em seguida, dirigiam-se para os Bancos... aí preparavam os cercos; anzóis no mar e os insaciáveis bacalhaus induzidos pelo engodo, não se faziam esperar...
O tempo passava, os porões abarrotavam e os incansáveis escaladores não tinham mãos a medir. Seguia-se a salga, depois a secagem. Tudo era feito ao mais ínfimo pormenor!
De vez em quando as actividades piscatórias tinham de ser interrompidas, quando o mar não favorecia, ou pela terrível brisa, frios que os pescadores não conseguiam suportar.
Havia meses que eles mantinham a dura labuta, sujeitos a problemas de vária ordem... Apesar dos contratempos, a safra tinha sido bastante generosa e a faina chegava ao fim.
A Companha preparava-se para a viagem de regresso, mas antes, iria em terra, comprar algumas recordações para familiares e amigos.
Finalmente, o dia aprazado para a partida!
No cais, lá estavam os amigos e alguns camaradas, que ficavam por lá, para lhes desejar boa viagem.
Navegavam, em pleno alto mar, quando ao fim do segundo dia, quase ao escurecer, desencadeava-se uma enorme tempestade! O firmamento e o mar assemelhavam-se a mantos negros; os navios andavam em remoinho e as velas despedaçavam-se, com as fortes rajadas de vento. Relâmpagos fosfóricos cruzavam o espaço, seguidos de estrondosos trovões...
Os pescadores mal diziam a sua sorte e, na maior aflição elevavam ao céu as mãos postas em cruz, numa fervorosa súplica:
-  “Senhor, salva-nos! Nossa Senhora dos Navegantes, encaminha-nos para bom porto!”
Estavam na iminência de naufragar!... De repente, como por milagre, um clarão iluminava um rochedo, de grandes proporções, ao mesmo tempo que, uma força oculta, detinha toda a frota, ficando esta, completamente estática. A gigantesca falésia estendia-se às embarcações e nela havia umas reentrâncias, espécie de degraus, formando uma escadaria.
Os Arrais pediam aos seus homens muita coragem pois, iriam subir até ao cimo do monstruoso rochedo...
Assim aconteceu! Alcançado o ponto mais alto, viram com surpresa, uma pequenina ermida na qual se encontrava sobre uma mísula, a Nossa Senhora dos Navegantes, com o Menino Jesus no regaço... Todos ajoelharam e, perante as belas imagens, rezaram, agradecendo as suas vidas.
Agora mais confiantes, acomodavam-se o melhor que lhes era possível e ali esperaram que a procela se afastasse completamente. Aquela luz intensa, também se manteve, como farol, até o vendaval se ausentar.
A aurora despertava, o mar começava a ficar sereno e os homens desceram às embarcações, sem problemas!
De novo a bordo, mas preocupados, verificaram os danos causados pela tempestade e, como não tinham outra alternativa, voltaram ao ponto de partida, para consertarem as três embarcações, da respectiva frota...
Passados alguns dias, a navegação recomeçava, cautelosamente. À medida que se aproximava do local, onde se encontrava a imponente falésia, que tinha sido porto de abrigo dos pescadores, viram em seu lugar, um majestoso Iceberg. Tudo era tão misterioso!...
Fosse o que fosse, eles tinham sido salvos, graças à Divina Providência, por isso, fizeram uma breve paragem em sinal de agradecimento pelo bem-recebido! Nesse preciso momento, surgiam três enormes baleias que se abeiraram da frota, depois colocaram-se, como guias, à frente de cada embarcação... E a viagem decorrera sem qualquer incidente.
Os navios –São Cristóvão, São Pedro e Neptuno atracavam no cais, de terra portuguesa. Enquanto todo o cenário se desenrolava, os robustos animais que os acompanhavam, desapareceram tão misteriosamente, como surgiram. Mas, de uma coisa os pescadores tinham a certeza, a bordo, traziam o fruto do seu trabalho e, ainda, nas suas mentes, a mais insólita estória para contar!...


Maria Romana

POSTAL ILUSTRADO


QUEM SE LEMBRA?

FOTO TIRADA EM MAIO DE 1949


ARRAIAL DA ARMAÇÃO DO ATUM
PRAIA DE FARO - RIA FORMOSA

Observam-se, à esquerda, bem enfileirados, os 6 barracões
que abrigavam os "companheiros" e suas familias

ÓBITO


QUANDO UM SÓCIO COSTELETA PARTE


FERNANDO DA SILVA CORREIA
"PARTIU"

À família enlutada e a todos os seus amigos enviamos o nosso profundo desgosto

DESCANSA EM PAZ FERNANDO