sexta-feira, 15 de setembro de 2017

CIRCULO DE LEITURA

Um texto de 
Manuel Inocêncio da Costa

O PROFESSOR DE JAPONÊS
Continuação
CAPÍTULO III

E foi assim que Joaquim começou a exercer a sua tarefa, então como professor de japonês. Joaquim durante os anos em que trabalhara na fábrica, tinha estudado a língua nipónica, que já dominava muito razoavelmente. Posteriormente depois de sair da fábrica, continuara esse estudo. Chegara até à fazer uma viajem ao Japão, onde durante meses se inscreveu numa escola de japonês, melhorando os conhecimentos do idioma e cultura japonesa, que muito admirava.
Na Escola Universal conheceu muita gente. Desde logo os professores. Havia-os de várias nacionalidades. Anne p. e., natural de Nantes, lecionava francês, havia alguns anos, não obstante ainda não ter trinta anos. Era muito vivaz, desembaraçada, descontraída e um pouco atiradiça. Joaquim ainda não tinha quarenta anos; era magro, tinha cabelos pretos e uma forte compleição atlética. Anne gostava de se meter com ele, e, muitas vezes fazia-lhe perguntas esquisitas e afirmações inesperadas. Como de uma vez, em que num intervalo entre duas aulas, de repente, lhe perguntou: " Joaquim, que pensa daquelas religiões, em que um homem, pode, legalmente, ter várias mulheres?." "Joaquim respondeu que isso era um assunto dos praticantes de tais religiões" - mas ela acrescentou "pessoalmente acho isso muito bem". Ele não respondeu. nem comentou. Mas, a partir daí, nunca mais foi retomado ou levantado tal assunto. E, com o tempo, Anne conheceu a família do Joaquim, tornando-se bons amigos. Anne era uma exímia tocadora de violino, entusiasmou as filhas dele, a aprenderem a tocar tal instrumento, ensinando-as a tocar, de tal modo que a certa altura, na sua casa, mais parecia que constantemente se ouviam os sons maravilhosos dum concerto, fosse o "Mendelsohn violino in E minor, Op.64", ou "As quatro estações" de Vivaldi.
Tudo isto tinha Joaquim guardado na sua mente.
A chuva caia agora em tempestade, e, cada vez mais forte. Estava completamente encharcado. Andara às voltas pela cidade, durante horas, e, caso curioso, estava agora, novamente, junto à sua casa. O cair da chuva soava-lhe como uma música. E, fosse a chuva, fosse música, pareceu-lhe ouvir as notas dum qualquer trecho musical de Mozart ou de Bach, para violino.

Talvez Anne e as suas filhas estivessem a tocar.

FINAL DO TEXTO