Um texto de
Manuel Inocêncio da Costa
Manuel Inocêncio da Costa
O PROFESSOR DE JAPONÊS
Continuação
CAPÍTULO II
Mas era muito novo, para não fazer nada. Então começou a pensar o que é
que poderia fazer? E como entretanto fora estudando, poderia talvez muito
facilmente arranjar um trabalho. Assim pensava. Uma profissão que pudesse
desempenhar, mas que o não absorvesse o tempo todo. Aliás teria mesmo que
encontrar tal trabalho. De contrário, o pecúlio amealhado, depressa acabaria,
se não fosse alimentado, com verbas novas que fossem entrando. É que ele não
desconhecia as exigências de qualquer sociedade moderna. Quanto a gastos e á
frente de tudo, estavam as verbas que qualquer Estado exige de cada cidadão. E
essas verbas, têm mesmo muitos nomes, e, todas elas formam uma corrente, qual
rio caudaloso, que é alimentado através de milhões de fiozinhos de água, com
que cada cidadão concorre, para que a enchurrada seja grande. E esse poder,
chamado Estado; é como que um animal, com uma fome danada. A sua especialidade
é pensar cada dia e cada noite, como aliviar cada cidadão, de grande parte dos
seus bens. A toda essa maneira de sacar, chamam-se impostos. E estes existem
para todos os gostos, mesmo que seja a contra gosto - o que acontece quase
sempre. São imperativos. Mas além esses gastos, existem muitos outros
necessários.
Nesses tempos em que andava a pensar encontrar
uma nova ocupação, um belo dia, quando deambulava numa das suas grandes
caminhadas, pelo grande e frondoso parque da cidade, cruzou-se com um
conhecido, que não conhecia muito bem, mas que sabia, que era gerente de uma
escola de línguas, e se chamava Eusébio, que ao vê-lo o cumprimentou dizendo:
"Boa tarde como está? Que famosa tarde está hoje. Costuma vir para
aqui, dar alimento às pernas?
"Sim, é verdade. Regularmente venho até
aqui. Este parque é realmente um lugar priveligeado. São estes canteiros de
flores e esta relva sempre bem tratados. E esta fragrância a cravos, rosas e
mesmo a flores selvagens e que nos entra pelas narinas adentro; são estas
árvores, algumas delas talvez centenárias, é este grande lago, que dele faz
parte, e onde podemos ver uma grande diversidade de aves, sim na verdade
sinto-me muito bem aqui.
" Mas parece-me, pelo seu semblante algo preocupado. Será que algo
o preocupa? Ou é mera impressão minha? Ainda acrescentou o Eusébio.
" Felizmente, nada de grave me preocupa, disse o Joaquim. Vinha
apenas a pensar em arranjar uma ocupação, onde pudesse ocupar parte do meu
tempo, porque não sei se sabe, saí da fábrica de pão.
"É curioso. E que
coincidência. Como julgo que sabe, sou o gerente da Escola de Línguas
Universal. E, neste momento, a Escola debate-se com um problema. São muitos
alunos que se querem inscrever em japonês. Mas só temos um professor de
japonês. E, só esse, não tem possibilidade de dar aulas a tantos alunos. Ora,
sei que o senhor sabe japonês. Estaria eventualmente interessado, num lugar de
professor dessa língua na nossa Escola? A nossa Escola tem grande renome. O
horário são três horas por dia, cinco dias por semana. Pagamos muito bem aos
nossos professores, quer de japonês, de russo, de inglês de chinês ou de alemão.
"Em principio aceito. Teremos todavia que analisar tudo o que deve
constar do contrato, desde o horário ao ordenado, a férias.
"Então, caso possa, vá amanhã pelas 10 horas à nossa Escola. Se nos entendermos, como penso que acontecerá, assinaremos o contrato.
Continua no Capítulo III
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