Um texto de
Manuel Inocêncio da Costa
(foto na Galeria)
O PROFESSOR DE JAPONÊS
Capítulo I
Naquele dia tempestuoso de inverno, quando a chuva caía em fortes
bátegas, que enchiam as ruas, e molhava os poucos transeuntes, que por elas
apressadas seguiam, para os seus destinos, não obstante levarem os grandes guarda
chuvas abertos e compridas gabardines vestidas, Joaquim Trigueiros, saiu de
casa, sem saber bem para onde iria. Nesse dia estava de folga. A mulher já
estava no emprego, e, as filhas, gêmeas, estavam na Escola Secundária, onde a
mãe as deixara, pelas oito horas e trinta minutos da manhã, como todos os dias
fazia, quando elas tinham aulas. Joaquim habitava, ia fazer vinte anos, naquela
cidade, de uns trezentos mil habitantes, onde encntrara o seu primeiro emprego.
Ah, lembrava-se bem do momento. Tinha 18 anos. Vinha de uma cidade pequena, que
distava uns 50 km. daquela onde agora viv'ia, a capital de distrito da região.
O seu primeiro emprego foi numa grande padaria. Esta fabricava muitos milhares
de pães diariamente, os quais depois eram transportados para as firmas
clientes, nos veículos da empresa panificadora. De princípio trabalhava num dos
turnos da noite. Trabalhava das 18 horas até às 4 da madrugada seguinte.
Depressa se habituou aquele ritmo. O seu relógio biológico foi-se afinando com
tal precisão, que umas semanas depois de ter começado, já não precisava de
despertador para nada.
O patrão gostava do seu trabalho. Da sua pontualidade. Do empenho que
punha no serviço, de modo que tudo corresse o melhor possível. Os camaradas do
serviço também ajudavam. Apenas o Elias destoava um pouco. Gostava da pinga, e,
nos dias em que apanhava a sua bebedeira, era certo e sabido, que nunca chegava
a horas ao serviço. A Rosa era outra excelente trabalhadora. Os grandes fornos
da empresa eram eléctricos. Tudo era regulado a computador. E, era ela que era
a responsável por tudo o que respeitava a marcação dos graus de aquecimento dos
fornos, dos tempos de cozedura do pão, e, de tudo o mais com tal relacionado,
até que os pães, levemente tostados, com a côdea, dum amarelo escuro
esbranquiçado, eram expelidos automaticamente, para dentro de grandes cubas.
E era um
espectáculo, de cada vez que os fornos deitavam fora cada fabulosa fornada, de
centenas e centenas de pães. Além de que um cheiro intenso muito agradável se
evolava, espalhando-se por todas as dependências da grande fábrica.
Passados anos, o Sr. Correia, o dono da empresa, um dia chamou-o ao
escritório, e, sem rodeios, convidou-o ser sócio da mesma. Dizia ele: "Já
não sou nenhum menino; assim decidi, desde já, dar participação na firma aos
meus dois filhos, para quando me reformar, a gerência da empresa, não sofra,
com uma mudança precipitada de direção; além dos meus filhos gostaria tê-lo
também como sócio da empresa. A sua dedicação ao trabalho, a sua honestidade, o
seu bom relacionamento com todo o pessoal, são para mim suficientes, que, se
aceitar, essas qualidades, aliadas à sua já experiência, serão garantia, de que a empresa poderá manter-se e
até mesmo progredir com a sua colaboração."
Aceitou.
E ali trabalhou mais 11 anos. A empresa estava mais forte que nunca.
Então decidiu vender a sua quota. Os dois filhos do patrão compraram-na.
Vendeu-a por muito bom dinheiro. Vendeu- a por se sentir cansado com tanto
trabalho. A co-gerência da empresa, absorvia-lhe quase todo o tempo. Não tinha
tempo para a famílía. Nem para quase nada. As filhas iam crescendo com muito
pouco pai. Quase nenhum pai. Um pai ausente que não tem tempo suficiente para
os filhos, para brincar com eles, discutir, conversar, viajar, aconselhar,
verdadeiramente não é um pai.
Continua no Capítulo II
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