segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 

CRÓNICA DE FARO

JOÃO LEAL

O JOÃO RODRIGUES, FOTÓGRAFO

            Por certo, muito antes da minha idade de conhecimento e de memória, Faro teve destacados fotógrafos, alguns dos quais com amplos e encenados estúdios, de que ouvimos falar ao longo destas mais de oito décadas que de vida havemos. Entre outros aponto os casos de dois nomes destacados pela sua arte e labor. Foram o Tony, com oficina na Rua Brites de Almeida, num prédio que se conserva igualzinho, onde funcionou a Associação de Atletismo de Faro e se encontra no rés - do -chão, uma galeria de antiguidades. O outro foi o Samorrinha, ali na Rua Baptista Lopes, na confluência do Largo do Sol Posto com a Travessa das Flores, em imóvel de há anos desaparecido e onde está instalado a ACT (Autoridade das Condições de Trabalho). Este estúdio, cuja aquisição ainda foi tentada nos tempos em que o Dr. Emílio Campos Coroa presidia à Direcção do Cine Clube de Faro, teria dado um valioso Museu do Cinema e da Fotografia.

             Ali bem perto ficava o bem estimado fotógrafo, de modo próprio pela malta estudante, «bifes» e «costeletas», de seu nome João Rodrigues, mas por toda a cidade conhecido por «Torto», por via de um defeito visual de que sofria. Era, de modo próprio, na época de matrículas escolares, por via do elevado número de fotos tipo passe necessárias que a freguesia afluía e «todo o mundo e mais alguém» corria ao «Stúdio Rodrigues» para tirar as 12 fotografias que eram exigidas (uma por disciplina para a caderneta do professor e mais as que a inscrição tornava necessária).

              Ainda sem havermos entrada na época desenfreada do marketing acontecia-o na promoção dos fotógrafos (Rodrigues, Arnaldo, Correia, Matos, Seita na Jardim junto Coreto), que ofereciam brindes (15 fotos e paga 12 e mais um postal...), procurando atrair a população estudantil.

                Sem desmerecer dos méritos dos demais o João Rodrigues, o meu amigo «João Torto» que se fosse vivo hoje teria cento e alguns anos era um «senhor artista». «Olha o passarinho, pst!» - disparava a máquina e pronto - sorrindo, trombudo, pensativo ou quejando a malta lá pousava e ficava aguardando o ir buscar o retracto. 

                 Como os tempos são diferentes e as fotos também. Mas a lembrança do João Rodrigues, o meu saudoso «João Torto», essa permanece intocável.

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NOTA: Passei aqui, no estúdio do João Rodrigues, muitos dias e horas com ele na camara escura, nos intervalos das aulas na Tomás Cabreira, a ajudar e aprender a fazer fotografia. Ensinou-me tudo. O "Torto" foi um grande amigo. Na Força Aérea fui o fotógrafo oficial na minha base e trabalhando em fotografia  na Câmara escura. Obrigado João pela tua crónica. Roger

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