CRÓNICA DE FARO
JOÃO LEAL
O JOÃO RODRIGUES, FOTÓGRAFO
Por
certo, muito antes da minha idade de conhecimento e de memória, Faro teve
destacados fotógrafos, alguns dos quais com amplos e encenados estúdios, de que
ouvimos falar ao longo destas mais de oito décadas que de vida havemos. Entre
outros aponto os casos de dois nomes destacados pela sua arte e labor. Foram o
Tony, com oficina na Rua Brites de Almeida, num prédio que se conserva
igualzinho, onde funcionou a Associação de Atletismo de Faro e se encontra no
rés - do -chão, uma galeria de antiguidades. O outro foi o Samorrinha, ali na
Rua Baptista Lopes, na confluência do Largo do Sol Posto com a Travessa das
Flores, em imóvel de há anos desaparecido e onde está instalado a ACT
(Autoridade das Condições de Trabalho). Este estúdio, cuja aquisição ainda foi
tentada nos tempos em que o Dr. Emílio Campos Coroa presidia à Direcção do Cine
Clube de Faro, teria dado um valioso Museu do Cinema e da Fotografia.
Ali
bem perto ficava o bem estimado fotógrafo, de modo próprio pela malta estudante,
«bifes» e «costeletas», de seu nome João Rodrigues, mas por toda a cidade
conhecido por «Torto», por via de um defeito visual de que sofria. Era, de modo
próprio, na época de matrículas escolares, por via do elevado número de fotos
tipo passe necessárias que a freguesia afluía e «todo o mundo e mais alguém»
corria ao «Stúdio Rodrigues» para tirar as 12 fotografias que eram exigidas
(uma por disciplina para a caderneta do professor e mais as que a inscrição
tornava necessária).
Ainda
sem havermos entrada na época desenfreada do marketing acontecia-o na promoção
dos fotógrafos (Rodrigues, Arnaldo, Correia, Matos, Seita na Jardim junto
Coreto), que ofereciam brindes (15 fotos e paga 12 e mais um postal...),
procurando atrair a população estudantil.
Sem
desmerecer dos méritos dos demais o João Rodrigues, o meu amigo «João Torto»
que se fosse vivo hoje teria cento e alguns anos era um «senhor artista». «Olha
o passarinho, pst!» - disparava a máquina e pronto - sorrindo, trombudo, pensativo
ou quejando a malta lá pousava e ficava aguardando o ir buscar o
retracto.
Como
os tempos são diferentes e as fotos também. Mas a lembrança do João Rodrigues,
o meu saudoso «João Torto», essa permanece intocável.
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NOTA: Passei aqui, no estúdio do João Rodrigues, muitos dias e horas com ele na camara escura, nos intervalos das aulas na Tomás Cabreira, a ajudar e aprender a fazer fotografia. Ensinou-me tudo. O "Torto" foi um grande amigo. Na Força Aérea fui o fotógrafo oficial na minha base e trabalhando em fotografia na Câmara escura. Obrigado João pela tua crónica. Roger
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