«OS MELHORES CARACÓIS DO
MUNDO»
Era
um oásis reconfortante, naqueles meses de Maio, Junho e A-gosto, após a
«maratona» desde a Vila até aos Almargens e regresso. Quando, do alto do serro
que domina São Brás de Alportel e onde se situava a vivenda do sr. Perxés, que
foi residência do saudoso benemérito e famoso tisiologista Dr. Medeiros Galvão,
aparecia a terra sambrazense, era um novo alento e a perspectiva de um frugal,
típico e regional lanche. Esperava-nos «um pratinho de caracóis», generosamente
servido, ali no Café Montanha, no Largo de São Sebastião, em pleno coração da
Vila. Pintado de amarelo, aquele estabelecimento tinha o nome escrito em grandes
letras negras e primava nele, para além de outros atributos o acolhimento e a
simpatia de todos, de modo próprio dos seus proprietários. Estes estavam
ligados aos familiares de um colega de meu pai e, como ele, internado no
Sanatório Carlos Vasconcelos Porto. Era a família Minhalma, ori-ginária de
Tavira, gente boa e a militar nos mesmos escalões que nós, facto que reforçava
a vivência desses tempos.
Era
o petisco os caracóis à algarvia, bem lavados e temperados com todos os
ingredientes que mãos sábias sabem colher nos nossos cam-pos, desde as
batatinhas brancas tipo «olho de perdiz», um acrescento que lhe adicionava um
sabor e um reforço alimentícios notórios, tubérculos criados nas cuidadas
hortas de São Brás de Alportel aos orégãos, poejo, hortelã e outros, que faziam
os ciclópodes emitirem um odor campesino e motivador. O pão era rústico e
apetitoso, dito «caseiro» e a pinga a acompanha um saboroso «tinto do Sales».
Decorria
num ápice este compasso reconfortante da caracolada ali no Café Montanha, nas
tardes estivais de Maio a Julho, a que se seguia o retorno na «camioneta do
Santos», logo ali ao lado.
JOÃO
LEAL
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