:: A ERA DO DESINTERESSE ::
E
por que é que nada prende?
Porque
não se quer nem se sabe esperar. Porque não se quer nem se sabe explorar.
Tudo
o que vá além do mensurável dá muito trabalho. Assim, salta-se de poça em poça
sem nunca querer mergulhar no lago.
Tudo
o que está à mão de semear é mais prático do que ter de esticar o braço.
Afinal, faz mexer os músculos, inclusivamente o coração.
Porque
se projecta no outro aquilo que queremos para nós. Não há o todo. Há um roteiro
e pelo caminho os viajantes vão sendo colhidos e despejados.
Porque
se acha que há alguém sempre a embarcar nesta viagem.
Porque
no fundo do frigorífico há sempre o tupperware com umas sobras da última
refeição - até ao dia em que se abre a porta na meca das tais sobras e alguém
já fez uma limpeza profunda ao interior e, pasme-se, o Tupperware da salvação
já não está lá.
E só aí, na escuridão do frigorífico fechado, nos damos conta de que não prendemos, não explorámos, não mergulhámos, não esticámos o braço nem fortalecemos o coração, não traçámos a rota em conjunto, e não soubemos saborear a refeição sem nos fartarmos.
Margarida
Vargues
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