sexta-feira, 9 de outubro de 2020

 

:: A ERA DO DESINTERESSE ::

 

E por que é que nada prende? 

Porque não se quer nem se sabe esperar. Porque não se quer nem se sabe explorar. 

Tudo o que vá além do mensurável dá muito trabalho. Assim, salta-se de poça em poça sem nunca querer mergulhar no lago.

Tudo o que está à mão de semear é mais prático do que ter de esticar o braço. Afinal, faz mexer os músculos, inclusivamente o coração.

Porque se projecta no outro aquilo que queremos para nós. Não há o todo. Há um roteiro e pelo caminho os viajantes vão sendo colhidos e despejados.

Porque se acha que há alguém sempre a embarcar nesta viagem.

Porque no fundo do frigorífico há sempre o tupperware com umas sobras da última refeição - até ao dia em que se abre a porta na meca das tais sobras e alguém já fez uma limpeza profunda ao interior e, pasme-se, o Tupperware da salvação já não está lá.

E só aí, na escuridão do frigorífico fechado, nos damos conta de que não prendemos, não explorámos, não mergulhámos, não esticámos o braço nem fortalecemos o coração, não traçámos a rota em conjunto, e não soubemos saborear a refeição sem nos fartarmos.

Margarida Vargues 

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