Um
texto engraçado, enviado pelo Costeleta José Ramos, que reproduzimos.
Assunto: NO CENTRO DE SAÚDE ....Riqueza da Língua Portuguesa
NO CENTRO DE SAÚDE
Fazer consultas médicas sem tradutor não é nada
fácil em Olhão…
Linguagem vernácula de Olhão
Nota prévia:
(A maioria das situações são fictícias mas os termos empregues foram recolhidos no Centro de
Saúde de Olhão, sendo o
espelho da confusão semântica e de vocabulário que tantas vezes existe nas
cabeças dos nossos utentes... e ao fim e ao cabo de nós todos.)
(Por partilharem comigo as suas histórias, os meus agradecimentos às
funcionárias administrativas Inês Simões e Fernanda Veloso, assim como à
técnica de cardiopneumologia Sandrina Marto.)
6h00, da manhã. O Sol já aparecia lindo sob o azul celeste.
À porta do Centro de Saúde, um pequeno grupo de utentes organizava-se para a
marcação da consulta "à vaga".
A maioria já se conhece. Afinal todos são
já bem experimentados nesta forma bem própria de utilização da consulta.
Aliás, o Director do Centro de Saúde até mandou instalar uns banquinhos de
jardim no local, para tornar a espera mais atractiva.
É uma excelente oportunidade para trocar experiências e conhecimentos, que
todos vão acumulando ao longo do seu percurso de contactos com os médicos e
hospitais.
A Maria do Céu vai à consulta do "Parlamento", a Dona Gertrudes vai à
consulta da "Monopausa" e a Rita é que as corrige informando-as que
aquela consulta chama-se de Planeamento Familiar.
Uma tem um "biombo" no
"úbero" e leva os resultados duma "fotografia"; outra está
preocupada com comichões na "serventia" do marido, até porque ele,
havia poucos dias, tinha já sido consultado pelo médico por estar com os
"alforges" todos inflamados. Alguém logo ali diagnosticou um problema
na "aprosta" do marido.
Mais à distância desta conversa, um grupo
de senhoras falava dos métodos contraceptivos e, uma delas, peremptória,
afirmava que nunca aceitaria porem-lhe uma "fateixa" dentro da
barriga!
Uma outra discordava, e lá lhe foi dizendo que, por causa disso, é que teve
tantos filhos, felizmente todos de parto normal, só o último foi de
"açoreana", mas aquele que lhe dava mais problemas era o mais velho
que já era "toxico-correspondente"!
Noutro local, um grupo de homens mais idoso ia falando da relação entre o
"castrol" e a "atenção".
Às tantas um deles começa a explicação
cuidada dum acidente que tivera. Por isso é que tinha a vacina contra o
"tecto" em dia, mas o acidente estragou-lhe a "tibiotísica"
e causou-lhe uma hérnia "fiscal", pelo que tinha ido fazer uma
"fotocópia" e um "traque".
Outro referiu que nunca teve problemas de ossos, o seu problema era uma grande
"espirrogueira na peitogueira".
Uma senhora, atraída pela conversa, queixava-se de entupimento no
"curso" com dores "alucinantes" quando se
"abaixava". Além disso cobria-se de suores e "gómitos",
ficava "almariada" e tudo acabava com uma forte
"encacheca", ficando cerca de 3 dias com cara de "caveira
misteriosa". Alguém lhe falou nuns supositórios que a poderiam ajudar mas
ela já os conhecia, aparentemente tinham sido muito difíceis de engolir, pelo
que o melhor ainda era o "clistério".
Finalmente, uma outra senhora queixava-se
da "úrsula" no "estambo", pelo que vinha mostrar o
resultado duma "endocuspia" e ainda algumas análises especiais, como
a Proteína C "Reaccionária".
8h30m da manhã. Ainda havia muito para conversar mas a Inês, jovem funcionária
administrativa do Centro de Saúde, obviamente tarefeira, acaba de chegar. Os
funcionários administrativos não podem chegar atrasados, caso contrário,
confundir-se-iam com os doutores.
- Quem é o primeiro, se faz favor? Ora
diga lá o seu nome?
- Josefina Trindade.
- Idade?
- 67 anos.
- Estado?
- Constipada, muito constipada!
9h00m da manhã. Aparece a enfermeira Freitas que grita para a pequena multidão
barulhenta que cerca a Inês:
- Quem está para medir as tensões? É você?
Então entre e diga-me qual é o seu problema?
- Sabe, senhora enfermeira, o meu problema
é ter uma doença "arrendatária" que "arrendei" do meu pai e
já me levou uma vez aos cuidados "utensílios" do hospital. Afecta-me
as "cruzes renais" e por isso dá-me muita "humidade à volta do
coração". Aliás, o doutor pediu-me uma "pilografia" e um
"aerograma" que aqui trago e recomendou-me beber pouca água.
Finalmente, chega o médico, que logo dá início às consultas:
- Então de que se queixa?
- De uma angina de peito, senhor doutor.
Tudo começou há uma semana quando fui às urgências. O médico disse-me que era
uma angina na garganta, mas a angina começou a descer e agora apanha-me o peito
todo!
Aos poucos, os utentes iam entrando e saindo, com melhor ou pior cara.
Alguns perguntavam à Inês onde era o
"pechiché da retrosaria" para pagarem a taxa moderadora.
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