quarta-feira, 16 de setembro de 2009

UM TEXTO... DIÁRIO, SEMANAL, MENSAL... OU DE VEZ EM QUANDO

Jorge Tavares


SEGUNDA PARTE
RECORDAÇÕES DE FARO


A Esplanada do São Luis Parque era um espaço de lazer tipo multi-usos e iniciou as sessões cinematográficas com o filme "JOANA D'ARC", ao qual assisti depois de permanecer mais de duas horas na fila para comprar bilhete.

Em regra abria ao público em Junho e encerrava em Setembro, deixando de haver cinema no CSA durante esses meses.

Foi durante anos, no periodo do Verão, um lugar previligiado para a cidade e consequentemente para os farenses. A geral, feita de bancadas em pedra, tornava obrigatória a colocação de algo que permitisse amaciar a dureza e desconforto do assento. A rapaziada tinha como seu lugar favorito, a bancada que ficava por debaixo do edifício onde estava instalada a sala de projecção e que nos protegia nas noites de grande cacimba. A plateia, equipada com cadeiras de braços em ferro, tinha uma zona VIP com mesas, que permitiam aos utentes serem servidos do bar, por empregados de mesa: Um luxo!

Foi neste espaço, de boa memória para os costeletas da década de 1950/56, que decorreu o seu baile de finalistas, brilhantemente acompanhado pela orquesta "Night and Day".Infelizmente na nossa cidade, como noutras, a imobiliária e os interesses económicos, aliados à falta de sensibilidade cultural, têm eliminado grande parte do património que serviu o quotidiano da nossa riquíssima geração de costeletas. Felizmente, ainda algumas coisas perduram, e neste número e em primeiríssimo lugar, a nossa ESCOLA TOMÁS CABREIRA...

Embora laico, desejo que Deus lhe dê muitos anos de vida!

Jorge Tavares

costeleta 1950/56


Recebido e colocado por Rogériop Coelho

VIAGENS NA MINHA TERRA


(o posto da Sacor no Patacão; foto de A. Gabadinho)

No meu tempo de rapazote, o empreendimento mais significativo lá da terra era a bomba de gasolina da Sacor , como era chamada nesse tempo ou o posto da gasolina. Depois da Sacor, havia a curva da estrada, mais perigosa quem vinha de Loulé, onde se deram alguns desastres. Depois os moços que se juntavam no Largo da bomba e mostravam as suas máquinas a pedal ou a motor. Falavam dos bailes de domingo à noite, das tampas que apanhavam e da música das tabletes.

A terra fica situada a 5 Kms de Faro, virando à direita vai dar ao Chelote, passando pelos Braciais e Mar e Guerra, se se for em frente vai dar a Santa Bárbara de Nexe e vindo de Faro virando-se ligeiramente para a esquerda vai dar a Loulé.

Eis o Patacão, a terra onde reside a menina Cristina e eu cresci.

Gente costeleta dali, eram o Custódio Julião, que jogava a ponta de lança no clube da terra, o Custódio filho do cabeleireiro senhor Serafim que reside no Canadá, onde ganhou o euromilhões, o Manuel Pires Victória e um pouco mais afastados, nos Braciais, eu, os meus primos Carlos , o Zé e o António Louro Rodrigues, a Susana Guerreiro e mais à frente o Zé Dias Rafael, o primo Joaquim e o Zé Martins Baptista e depois já no Chelote o Moreno da Marinha Mercante, que era bom no desenho e o Matinhos que foi dos primeiros a ir para Lisboa, frequentar o Instituto Industrial na Rua Buenos Aires, onde já lá estava o Bernardo Estanco dos Santos, dos Braciais, que estudava nocafé do Jardim da Estrela.

Tenho saudades da minha terra e desses tempo.

Uma vez jogámos à bola no terreno do Martinho Jacinto contra uns tipos de Faro e ganhámos três a dois e o melhor em campo foi o Zé Raimundo, que hoje explora um estabelecimento comercial ou tasca, que fica situado à esquerda, quem vem do Patacão para os Braciais, logo no primeiro cruzamento, no local onde antigamente se situava a venda do Zé Manelinho.

Na outra esquina está hoje um barbeiro alentejano.

Lembro-me do casamento do Agostinho que foi empregado na Sacor e faleceu derivado de uma infecção surgida, quando uma vez estava a encher de ar um pneu numa carroça e o aro soltou-se, vai em sua direcção e partiu-lhe o braço, foi parar ao hospital e a coisa complicou-se....

Chovia muito no dia do casamento do Agostinho..

Recordar o costeleta da noite, meu primo, bom no desenho e que foi emigrante em França, o Sebastião de Brito.

A minha terra é a minha saudade.

(continua)

texto de
JBS

TEMA LIVRE

Dicotomia Cesário Verde/João Brito de Sousa

De Alfredo Mingau

“Para Cesário Verde, ver era perceber o que se esconde na realidade, era captar as impressões que as coisas lhe deixavam e, por isso, percepcionar o real minuciosamente através dos sentidos e reflectir essa mesma impressão que o exterior deixa no interior do sujeito poético. Ou seja, o real exterior é apreendido pelo mundo interior que o interpreta e recria com grande nitidez, numa atitude de captação de real pelos sentidos, com predominância dos dados de visão: cor, luz, o recorte e o movimento”
De pessoa bastante delicada Cesário Verde empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar, como João Brito de Sousa o faz, os seus amigos, a pessoa, cenário predilecto, na forma mais material possível.
Tal como Cesário Verde, João Brito de Sousa apresenta-nos uma afinidade de realismo que nos dá uma outra dicotomia de realidade/inspiração.
A Força do João Brito de Sousa pelas suas figuras, na poesia, lembra-nos uma afinidade com o realismo em que revela sentimentos e sensações, servindo de suporte às ideias e sentimentos como poeta.
Tem imagens extremamente visuais que nos dão uma realidade em que mistura o físico e o moral e que podemos considerar mais uma dicotomia ao tratar estes espaços como pessoa/amigo.
Por tudo o que referi, poderei dizer que, na minha leitura destes dois poetas, existe uma afinidade que me apraz registar. E, por aquilo que tomei conhecimento, os pais do João Brito de Sousa e do Cesário Verde eram lavradores.Gosto da poesia de Cesário Verde… gosto da pçoesia do João Brito de Sousa...
Bem Hajas!
…………………….
Teus olhos imorais,
Mulher que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!
Cesário Verde
………………………
Agarrem num bom baraço
E façam que vão rabiscar
Façam o mesmo que eu faço
Vão às que estão p’ra apanhar.
João Brito de Sousa
………………………..
Inté
Alfredo Mingau