quinta-feira, 17 de setembro de 2009

TEMA LIVRE

INSPIRAÇÃO

De Alfredo Mingau


23.00 horas.
Ligo a TV, corro todos os canais e não encontro programa que me satisfaça. Desligo o aparelho.
23.30. horas
Pego na esferográfica, no papel e… fico suspenso pensando no tema que possa abordar. Irrito-me!
Não consigo inspiração…!
Não me costuma suceder. Agarro na esferográfica, olho-a e penso: “odeio este objecto”. Não me dá uma ajuda… Caramba! Maldita esferográfica. Descarrego nela a minha irritação, torço-a, dobro-a, insisto com mais força… estilhaça-se. Fico suspenso; abro a gaveta da secretária e agarro noutra. “Isto nunca aconteceu. Que se passa comigo?” “Sinto necessidade de escrever e não consigo”. Saio para a rua. As horas passaram a correr.
O2.00 horas.
A noite já ia longa. Não sentia sono. A noite estava fresca, fazia uma brisa suave; sentia-se um cheiro a maresia. Peguei na chave do carro e arranquei; As ruas estavam desertas, não se via vivalma; sai da cidade sem rumo certo e arrumei o carro no estacionamento de uma discoteca. Uma música moderna, do agrado da juventude, fazia-se ouvir. A porta estava fechada, bati. O postigo abriu-se e entrevi um rosto que disse “estamos quase a fechar”, “ficarei até fechar” respondi. A porta abriu-se, entrei. O som era bastante alto, do agrado da juventude; o recinto estava cheio, dançava-se.
Encostei-me ao balcão do bar. Pedi um whisky com duas pedras de gelo. Agarrei no copo e deambulei por entre a multidão; olhando de lado dei um encontrão noutra pessoa. O copo caiu ao chão, estilhaçou-se..
- Está a dormir de pé?
- Desculpe, olhava para o lado, não a vi.
- É o que dizem todos!
- Acabei de entrar, é a primeira vez que aqui venho, e está um pouco escuro…
- Entrou?, eu estou de saída!
- Porquê, não está satisfeita? Perguntei, notando que a minha interlocutora era uma mulher jeitosa e com uma certa beleza.
- Sem companhia isto torna-se insípido.
- Estou condenado a passar pelo mesmo? Também estou só, podíamos dançar, até fechar, que acha?
- Não era má ideia mas…, tire o cavalinho da chuva se pretende avançar com outras ideias…
- Pode estar descansada, não pertenço a essa categoria.
Dançamos; a música era lenta, um slow que convidava a relaxar. Ela era boa dançarina. Dançamos até à hora de fechar. Olhámo-nos, sorrimos.
- Gostei da companhia, disse ela.
- Estou de acordo consigo, adorei, acho-a uma mulher simpática para esquecer o encontrão, meu nome é Alfredo, sou gestor de uma empresa e sou viúvo, apresentei-me...
- Muito prazer, sou Ana Maria, trabalho no turismo e, sou uma mulher divorciada.
- Em vez de virmos sozinhos, poderíamos combinar um encontro neste mesmo sítio, o que acha? Perguntei...
- Acho bem, respondeu Ana Maria, com um sorriso aberto.
E despedimo-nos, com um beijinho, depois de apontarmos o número dos telemóveis.
04.00 horas
Regressei a casa.
Faltou-me a inspiração para escrever, não me tinha acontecido. Porque não substituir a escrita pelo convívio, fazendo a vontade a quem não gosta de me ler? É fácil substituir a inspiração pela disposição…
Passem bem.
Recebido no mail da Associação e colocado por Rogério Coelho

6 comentários:

  1. Boa Tarde,

    E a "falta de inspiração" deu lugar á "invenção".
    É um trabalho de Escritor.
    Porque gostei, parabéns.

    AGabadinho

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  2. OBRIGADO ALFREDO.

    Porque

    1 - Na linha 13 escreveste, Sinto necessidade de escrever e não consigo ...

    Falámos sobre isto, lembras-te. Tu dizias, este vício. Não, o escritor sente necessidade de escrever.

    2 - Este texto tem conteúdo. O teu fôlego poderia ir até onde? Estou convencido que o S. Maugham punha-lhe 300 páginas em cima.

    3 - A história de um divorciado e uma viúva casa bem com este título EU E ELA QUISEMOS.

    4 - Ao ler o texto lembrei-me dum flme passsado em Paris, mais propriamente en Les Hales. Penso que sabem do que falo.

    5 - Diálogos excelentes, à Hemingway.

    Parabens

    JBS

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  3. OLÁ ALFREDO

    ANIMA-TE !
    MAIS UM BELO TRABALHO ACABO DE LER. NÃO PERCO NENHUM E FICO
    CONTENTE COM OS COMENTÁRIOS QUE
    FAZEM AOS TEUS TRABLHOS.
    TELEFONA-LHE, SAI MAIS UMA VEZ
    E VAI ATÉ À PRAIA REFRESCAR IDEIAS,
    CRIAR INSPIRAÇÃO,E DELICIAR A
    "MALTA" COM A TUA EXCELENTE PROSA.

    UM ABRAÇO DO MAURÍCIO

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  4. Meu caro Maurício
    A praia de Carcavelos já tem á água muito fria e, quanto a mim, ninguém vai passear com a chuva.
    Deliciar a "malta", escrevi algumas crónicas e acabei com elas, porque, faltava, segundo percebi, o deleita do neo realismo.
    Não se pode agradar a todos e só há uma forma de evitar o desagrado
    By, Bay Maurício
    Alfredo Mingau

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  5. Meu caro João
    Escrever para um blogue não se pode expandir, uma escrita, para 300 páginas. Seria um absurdo!
    E seriam necessários muitos minutos, e não os 15 que demorei a fazer este texto.Claro que a história poderia continuar, até concluir com um desfecho feliz.
    Até porque as boas histórias teem que acabar bem. O leitor gosta.
    Alfredo Mingau

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  6. Meu caro João
    Por vezes, senão sempre, há necessitade de escrever o que nos vai na alma, no pensamento, claro, aliado sempre com a inspiração.
    Sem imaginação, nikles!
    É assim a minha maneira de ver,
    Alfredo Mingau

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