quarta-feira, 13 de setembro de 2017

CIRCULO DE LEITURA


Um texto de 
Manuel Inocêncio da Costa
(foto na Galeria)


O PROFESSOR DE JAPONÊS
Capítulo I


Naquele dia tempestuoso de inverno, quando a chuva caía em fortes bátegas, que enchiam as ruas, e molhava os poucos transeuntes, que por elas apressadas seguiam, para os seus destinos, não obstante levarem os grandes guarda chuvas abertos e compridas gabardines vestidas, Joaquim Trigueiros, saiu de casa, sem saber bem para onde iria. Nesse dia estava de folga. A mulher já estava no emprego, e, as filhas, gêmeas, estavam na Escola Secundária, onde a mãe as deixara, pelas oito horas e trinta minutos da manhã, como todos os dias fazia, quando elas tinham aulas. Joaquim habitava, ia fazer vinte anos, naquela cidade, de uns trezentos mil habitantes, onde encntrara o seu primeiro emprego. Ah, lembrava-se bem do momento. Tinha 18 anos. Vinha de uma cidade pequena, que distava uns 50 km. daquela onde agora viv'ia, a capital de distrito da região. O seu primeiro emprego foi numa grande padaria. Esta fabricava muitos milhares de pães diariamente, os quais depois eram transportados para as firmas clientes, nos veículos da empresa panificadora. De princípio trabalhava num dos turnos da noite. Trabalhava das 18 horas até às 4 da madrugada seguinte. Depressa se habituou aquele ritmo. O seu relógio biológico foi-se afinando com tal precisão, que umas semanas depois de ter começado, já não precisava de despertador para nada.
O patrão gostava do seu trabalho. Da sua pontualidade. Do empenho que punha no serviço, de modo que tudo corresse o melhor possível. Os camaradas do serviço também ajudavam. Apenas o Elias destoava um pouco. Gostava da pinga, e, nos dias em que apanhava a sua bebedeira, era certo e sabido, que nunca chegava a horas ao serviço. A Rosa era outra excelente trabalhadora. Os grandes fornos da empresa eram eléctricos. Tudo era regulado a computador. E, era ela que era a responsável por tudo o que respeitava a marcação dos graus de aquecimento dos fornos, dos tempos de cozedura do pão, e, de tudo o mais com tal relacionado, até que os pães, levemente tostados, com a côdea, dum amarelo escuro esbranquiçado, eram expelidos automaticamente, para dentro de grandes cubas.
E era um espectáculo, de cada vez que os fornos deitavam fora cada fabulosa fornada, de centenas e centenas de pães. Além de que um cheiro intenso muito agradável se evolava, espalhando-se por todas as dependências da grande fábrica.
Passados anos, o Sr. Correia, o dono da empresa, um dia chamou-o ao escritório, e, sem rodeios, convidou-o ser sócio da mesma. Dizia ele: "Já não sou nenhum menino; assim decidi, desde já, dar participação na firma aos meus dois filhos, para quando me reformar, a gerência da empresa, não sofra, com uma mudança precipitada de direção; além dos meus filhos gostaria tê-lo também como sócio da empresa. A sua dedicação ao trabalho, a sua honestidade, o seu bom relacionamento com todo o pessoal, são para mim suficientes, que, se aceitar, essas qualidades, aliadas à sua já experiência, serão garantia, de que a empresa poderá manter-se e até mesmo progredir com a sua colaboração."
Aceitou.

E ali trabalhou mais 11 anos. A empresa estava mais forte que nunca. Então decidiu vender a sua quota. Os dois filhos do patrão compraram-na. Vendeu-a por muito bom dinheiro. Vendeu- a por se sentir cansado com tanto trabalho. A co-gerência da empresa, absorvia-lhe quase todo o tempo. Não tinha tempo para a famílía. Nem para quase nada. As filhas iam crescendo com muito pouco pai. Quase nenhum pai. Um pai ausente que não tem tempo suficiente para os filhos, para brincar com eles, discutir, conversar, viajar, aconselhar, verdadeiramente não é um pai.

Continua no Capítulo  II