quinta-feira, 14 de setembro de 2017

CIRCULO DE LEITURA

Um texto de
Manuel Inocêncio da Costa

O PROFESSOR DE JAPONÊS

Continuação
CAPÍTULO II



Mas era muito novo, para não fazer nada. Então começou a pensar o que é que poderia fazer? E como entretanto fora estudando, poderia talvez muito facilmente arranjar um trabalho. Assim pensava. Uma profissão que pudesse desempenhar, mas que o não absorvesse o tempo todo. Aliás teria mesmo que encontrar tal trabalho. De contrário, o pecúlio amealhado, depressa acabaria, se não fosse alimentado, com verbas novas que fossem entrando. É que ele não desconhecia as exigências de qualquer sociedade moderna. Quanto a gastos e á frente de tudo, estavam as verbas que qualquer Estado exige de cada cidadão. E essas verbas, têm mesmo muitos nomes, e, todas elas formam uma corrente, qual rio caudaloso, que é alimentado através de milhões de fiozinhos de água, com que cada cidadão concorre, para que a enchurrada seja grande. E esse poder, chamado Estado; é como que um animal, com uma fome danada. A sua especialidade é pensar cada dia e cada noite, como aliviar cada cidadão, de grande parte dos seus bens. A toda essa maneira de sacar, chamam-se impostos. E estes existem para todos os gostos, mesmo que seja a contra gosto - o que acontece quase sempre. São imperativos. Mas além esses gastos, existem muitos outros necessários.
Nesses tempos em que andava a pensar encontrar uma nova ocupação, um belo dia, quando deambulava numa das suas grandes caminhadas, pelo grande e frondoso parque da cidade, cruzou-se com um conhecido, que não conhecia muito bem, mas que sabia, que era gerente de uma escola de línguas, e se chamava Eusébio, que ao vê-lo o cumprimentou dizendo:
"Boa tarde como está? Que famosa tarde está hoje. Costuma vir para aqui, dar alimento às pernas? 
"Sim, é verdade. Regularmente venho até aqui. Este parque é realmente um lugar priveligeado. São estes canteiros de flores e esta relva sempre bem tratados. E esta fragrância a cravos, rosas e mesmo a flores selvagens e que nos entra pelas narinas adentro; são estas árvores, algumas delas talvez centenárias, é este grande lago, que dele faz parte, e onde podemos ver uma grande diversidade de aves, sim na verdade sinto-me muito bem aqui.
" Mas parece-me, pelo seu semblante algo preocupado. Será que algo o preocupa? Ou é mera impressão minha? Ainda acrescentou o Eusébio.
" Felizmente, nada de grave me preocupa, disse o Joaquim. Vinha apenas a pensar em arranjar uma ocupação, onde pudesse ocupar parte do meu tempo, porque não sei se sabe, saí da fábrica de pão.
curioso. E que coincidência. Como julgo que sabe, sou o gerente da Escola de Línguas Universal. E, neste momento, a Escola debate-se com um problema. São muitos alunos que se querem inscrever em japonês. Mas só temos um professor de japonês. E, só esse, não tem possibilidade de dar aulas a tantos alunos. Ora, sei que o senhor sabe japonês. Estaria eventualmente interessado, num lugar de professor dessa língua na nossa Escola? A nossa Escola tem grande renome. O horário são três horas por dia, cinco dias por semana. Pagamos muito bem aos nossos professores, quer de japonês, de russo, de inglês de chinês ou de alemão.
"Em principio aceito. Teremos todavia que analisar tudo o que deve constar do contrato, desde o horário ao ordenado, a férias.
"Então, caso possa, vá amanhã pelas 10 horas à nossa Escola. Se nos entendermos, como penso que acontecerá, assinaremos o contrato.

Continua no Capítulo III