A Boina Basca
Era hábito, nos longínquos anos 50, os alunos, para se
agasalhar, nas frias madrugadas, durante
o percurso de casa até à Escola, proteger a cabeça com as célebres “boinas
bascas”.
As aulas iniciavam-se
às 8 H e 20 M e alguns alunos vinham de longe em vários meios de transporte….das
Ferreiras, Patã, Boliqueime, Almansil, ….no combóio…….; de Vila Real, Tavira ,
Livramento, Fuzeta, Bias, Olhão…..na automotora….; Loulé e arredores, na EVA (a
Camara Municipal apoiava alguns alunos)….de S.B.Alportel no António Evaristo
Santo; de Estoi, Conceição, Sta. Barbara
e Patacão na “pedaleira”….alguns felizardos já vinham no “alpino” ou
“cucciollo”, ao que chamavam “motor auxiliar”.
A “boina”, por vezes ficava guardada na pasta dos
livros juntamente com a “bomba de ar” da bicicleta, a “marmita”, (para aqueles
que não iam à cantina….) Por vezes, em
dias de azar, da marmita saia um pingo
de gordura, ocasionando a inevitável e característica mancha para arrelia do
aluno que se esmerava no asseio dos seus
pertences escolares.
Todos os dias de aula havia um aluno à chamada, voluntário
ou na falta deste, selecionado pelo Professor.
Nas aulas de Direito Comercial o aluno que ia à “chamada”, levava habitualmente para junto do Dr. Uva, o livro
de Direito, o caderno, a cadeira, dando inicio a uma aula prática em diálogo,
tendo por base o Código Comercial, a letra, o cheque, sociedades, extrato de
fatura….
Certa aula em que o aluno foi à “chamada” com os livros da
disciplina, deixou na secretária os seus
pertences….a mala com os restantes livros ….e a
inseparável “boina basca”…O colega da mesa ao lado apercebendo-se, passa a boina de “mão em mão”, pelas costas
dos restantes alunos, o que ocasionou uma natural distração que não foi alheia
ao Dr. Uva….Este, que não se fazia rogado, inesperadamente, dá uma ordem de
comando…..”jogue fora”…..
O aluno, sentindo-se entre o “apanhado” e o “sem
culpa”…..não teve outro remédio e a boina saiu pela janela da sala de
rés-do-chão qual disco voador em direção ao recreio….Os alunos relaxavam a
mente daquela conversa maçadora de cheqes e letras com sociedades em comandita…..simples e por quotas…..Todavia a
boina não esteve muito tempo naquele recreio de gravilha que era como lixa para
as botas do pessoal do campo e para os sapatos
dos da cidade….
Nisto, um aluno, solicito, que passava no recreio, corre a
apanhar a boina, sem compreender bem o sucedido, mas para a entregar a
alguém ou jogar para dentro da sala…..Só
que este recebe nova ordem de comando vinda de dentro da sala …..de novo
do Dr. Uva …”deixe ficar”….A aula prosseguiu após o incidente, voltou a
concentração…..sem mais comentários porque entre Professor e Alunos nos final
da aula todos se entendiam…ao ser dada
a nota ao “aluno vitima”…que
soubesse muito ou pouco apanhava sempre 10.
Próximo ao toque da campainha…..o Sr. Castro…..velha raposa
que conhecia bem o Professor e a Malta….vem entregar a “boina basca”
para descanso do aluno e comentários de
fim de aula….
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