quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

CRÓNICA DE FARO JOÃO LEAL

 


                    «A BORDEIRENSE», EXEMPLAR VIVÊNCIA DE CEM ANOS DE COOPERATVISMO


                       A 17 de Novembro de 1921, volvidos portanto cem anos, recentemente assinalados, a singular povoação da Bordeira, na freguesia rural de Santa Bárbara de Nexe, outorgava a constituição da Cooperativa de Consumo «A Bordeirense», que é hoje uma das antigas referências do cooperativismo português. Gente com um ADN muito próprio onde sobremodo se destaca o sentido de solução dos problemas que afectam a sua vivência e dos seus habitantes, na singularidade havida e sempre concretizada de alcançar o patamar de uma melhor qualidade de vida, é o testemunho claro da uma não abundante criatividade própria. Os canteiros (famosos em todo o Mundo), as charolas e marchas populares, como manifestações da verdadeira cultura popular, os seus acordeonistas, nos quais se situam alguns dos melhores portugueses e europeus tocadores do «fole» e tantas outras referências que aqui podíamos elencar, definem o que tem sido o historial da Bordeira farense. 

            Situada a 14 klms da cidade capital regional a Bordeira era, há cem anos, no dizer do presidente directivo da «Bordeirense», o conhecido advogado e exemplar autarca nexense, Dr. Leonardo Abreu, «uma ilha, sem água, nem luz ou telefones», para além das carências no abastecimento alimentar e de bens de consumo. Foi esta situação que motivou («pela necessidade de criar uma cooperativa de consumo»), que um grupo de gente da terra («republicanos, trabalhadores sindicalizados e muito ligados ao associativismo», no dizer daquele dirigente) avançasse com a ideia, O nome destes dez «homens bons» aqui fica numa evocação e homenagem aos seus pioneirismo e vivência de ideias. Foram - Manuel Barra, Manuel Estevão, Joaquim Pinto, Mendes Paulo, José Galego, Luz Salero, Rafael de Sousa, Alfredo Rosa, Joaquim Correia e Manuel Pinto Barra.

                  Segundo o Dr. Leonardo Abreu (presidente há 10 anos e neto de um dos citadores fundadores) - «isto foi uma criação notável», «um espírito de partilha muito grande» e «uma indicação para uma determinada ideologia cooperativa que só tinha nascido na Europa há algumas décadas».

                       Ventos de repressão política sofreu «A Bordeirense», quer traduzida na detenção de alguns dos seus mentores, como da apreensão de documentos, que só viriam a ser devolvidos após o 25 de Abril de 1974.

                        Verdadeiro motivo de orgulho para o Concelho de Faro esta instituição secular merece bem o nosso apreço e admiração.


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