quinta-feira, 4 de julho de 2024

CRÓNICA DE FARO. JOÃO LEAL

AO QUE SAUDADES...

     ...da FEIRA DO CARMO, que por estes dias e durante séculos aconteceu em Faro. Era nos inícios de Julho, quando a bandeira da Veneranda Ordem Terceira era hasteada na varando do monumental templo, o mais belo da capital sulina. Quando ao fim da tarde os sinos encharcavam a cidade com os belos sons que os «sineiros» do meu tempo - os srs. Rolão (carteiro e exímio ensaiador teatral nos Artistas) e o invisual José Luís (filho do Estica, que tinha uma venda no cruzamento da Avenida da Estação com a Rua da Madalena, pianista, fazedor de mil tarefas que lhe eram solicitadas) os faziam festivamente tanger chamando os fiéis para a «Novena em honra da Senhora do Carmo.

        Era um mundo novo aquele que nos surgia, volvido o Largo de São Pedro, começando pela banca das «garrafinhas» (água açucarada e colorida com pós de variados sabores), bolinhos caseiros e bonecas com pernas de pau.  Era o amontoado das melancias, que se calavam (fazer uma profunda incisão em forma piramidal para ver se eram vermelhas ou não) e os «barros» (infusas para a água fresquinha, alguidares e outros apetrechos domésticos que hegemonia do plástico ainda estava longe de acontecer). Depois vinha o elegante bazar onde senhoras da melhor sociedade farense vendiam as «rifas» dos objectos doados a favor da Ordem Terceira). Sucediam-se as empreitas, os alumínios, as farturas, as barracas de quinquilharias e brinquedos e o carrossel (nesse tempo o «Alverca» onde o «Viagem à Lua», azougado moço do meu tempo fazia mil e um «passes». Ainda não havia o edifício escolar (1948) nem o parque de estacionamento pago (fins dos anos setenta do século ido) e portanto uma vasta área para que a «Feira do Carmo» acontecesse. Mas o certame cresceu, cresceu e foi insuficiente para o espaço requerido e que tinha com ponto maior as tradicionais festas em honra da Senhora do Carmo (16 de Julho), que ocorriam devotos de todo o Sul. Lugar destacado para os pescadores que tinham acabado a faina do atum de direito da Armação do Cabo de Santa Maria, Ramalhete e Forte, com arraial na Praia e que só praticava a «pesca de direito, quando o atum se deslocava, para desovar no Mar Mediterrâneo.

      Saudades, muitas saudades da Feira do Carmo, que por estes dias acontecia na capital farense.

Sem comentários:

Enviar um comentário