sábado, 22 de março de 2008

A PROCISSÃO DO SENHOR MORTO

(procissão)
ATÉ PARECE QUE ESTOU LÁ!.....

O dia do regresso às origens, acabará por acontecer. mais tarde ou mais cedo!..
Armando Baptista-Bastos

À hora que eu vou publicar esta crónica, lá para as zero e tal de amanhã, sábado, estava eu, noutros tempos, a regressar a casa da minha ida à procissão do Senhor Morto em Faro.
Eu adorava aquela coisa.

De tarde engraxava os sapatos e dizia à minha ex- mulher qual o fato que queria vestir. Era uma coisa fantástica e, durante a tarde, imaginava que ia ver este aquele e mais o outro. Umas vezes, eu colocava alta de mais a expectativa da festa e, no regresso, aquilo não tinha sido como eu imaginava.

Outras vezes era ainda era melhor do que aquilo que eu tinha pensado...

Eu chegava aí pelas nove horas da noite e dirigia-me para a Igreja da Misericórdia à procura do discurso do Cónego Falé. Nessa altura já o jardim estava cheio e aparecia por lá muita malta conhecida.
Como sempre tive grande loucura pelos amigos e por pessoas, se encontrava um conhecido era logo um ó Zé ou um ó António, um ó Joaquim e lá vinha a palheta dos nossos dezoito anos.. eh pá lembras-te desta e daquela e da outra e do outro.. eu sei lá...

Uma vez saído daí, ia até à rua de Santo António e marcava ali um lugar, encostado à parede, ou ao pé da Casa Verde, ou da Relojoaria Seruca, ou ao pé da Singer ou noutro lugar qualquer

Gostava de ver a malta passar, rua abaixo, vindos da Pontinha para o Jardim, às tantas lá aprecia o Mota Pereira e a sua gesticulação à moda de Lisboa, a conversar com o João Botelheiro, velho amigo dos tempos do Liceu, que estudava para Direito no café Atlântico e lembrava-me dele quando ia ao Magistério, buscar a namorada, hoje esposa, que frequentava o curso um ano a seguir a mim. .
Ao fim de um bocado de espera vinha o Larguito, fardado a rigor, botas bem engraxadas e polainas brancas, farda azul escuro, a condizer, e, e cada mão uma moca ou coisa parecida, com que dava umas cacetadas no bombo, cadenciadas, pum, a passada ritmada, pum, mais uma passada e pum, pum pum.

De vez em quando o Larguito jogava a moca da mão direita ao ar, ela dava três voltas, voltava a apanhá-la na queda e lá vai disto, pum.... Ouvia-se apenas o ruído da batida das solas das botas no chão... até que vinha o Gaiana com as matracas e estragava tudo. ..
Gaiana, matracas e ruído... aquilo metia medo.

Depois vinham os fiéis em fila, andando junto às afixas laterais, rezando o terço.
E agora vinha o andor com o Senhor Morto, às costas de seis homens que vestiam as opas roxas, um bordão de ferro nas mãos, passada cadenciada, depois vinha o pálio, seguro por quatro homens e o Cónego Henriques lá de baixo, os crentes persignavam-se e baixavam a cabeça em sinal de respeito.
Ninguém falta `a procissão nesta sexta feira Santa. O cortejo segue e lá vão o Menino Chico, o Caça Brava, o Torquato, o sargento Vitorino, o Realito, o Joãozinho Nobre, o fotógrafo Cartaxo.o lutador Zé Luís, o Catoira e o Tarro, o Vergílio Coelho e o Alex, o Zé Félix, o Júlio Piloto e o Bernardino Martins (Queixinho), o Tatina do Montenegro, o Reitor Ascenso..o Xico Machado e o Ló a falar do Farense e do Sporting e muitos mais...

Muitos dos citados aqui, já faleceram, mas para nós estão sempre connosco. Parece que estou a vê-los. lá...
E agora vêm os cavalos a impor respeito e de seguida vem a Banda de Música de Paderne com o Arménio Aleluia....

E depois a procissão recolhe e a malta pôe-se a andar. Anda há tempo para, no rescaldo, dar um bocado de palheta com um colega da primária que não via à vinte anos.
E ainda vejo passar o bife Jaime Cabrita Reis e dou-lhe um grito.. aló Jaime.
E a esta hora já estou de saída.
Para casa...
Texto de
João brito Sousa